BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O coronel da reserva Flávio Peregrino, principal auxiliar do general Walter Braga Netto desde o governo Jair Bolsonaro (PL), é um dos alvos da operação da Polícia Federal lançada neste sábado (14).
Peregrino foi alvo de medida cautelar diferente da prisão em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Superior Tribunal Federal (STF), que também determinou a prisão preventiva de Braga Nettoquem foi ministro de Bolsonaro e seu vice na chapa à reeleição nas eleições de 2022.
Documentos encontrados na mesa ocupada por Peregrino na sede do PL e apreendidos pela Polícia Federal mostram uma tentativa de acesso a detalhes da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de campo de Bolsonaro.
Segundo a Polícia Federal, os alvos da operação deste sábado “estariam dificultando a livre produção de provas durante a investigação processual penal”. O coronel reformado, ao contrário de Braga Netto, não foi indiciado no relatório final da PF sobre a tentativa de golpe de Estado.
O Folha não conseguiu contato com a defesa de Peregrino.
Em sua mesa na sede do PL, a PF encontrou, em fevereiro, uma pasta chamada “memórias importantes”, com documento que descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada assinado por Cid com a PF em 2023.
“O conteúdo indica que se trata de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente do grupo investigado, que se mostra preocupado com questões apontadas pela Polícia Federal relacionadas à tentativa de golpe de Estado”, avaliou a PF ao apresentar seu relatório final, em novembro.
“O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração feito por ele na sede da polícia, que foram respondidas por ele, em vermelho”, apontou a PF.
Também foi encontrada na mesa de Peregrino, segundo a reportagem, uma folha preenchida à mão com o título “operação 142”, um fluxograma do que seria um golpe de Estado e a frase “Lula não sobe a rampa”.
O fluxograma faz uma “avaliação da situação”, considera as “linhas de esforço”, citando entre elas a anulação de atos arbitrários do STF e a interrupção do processo de transição, até finalizar com o “desejado estado final político”: “Lula não sobe a rampa.”
O nome do documento faz referência ao artigo 142 da Constituição, usado por golpistas como argumento para intervenção militar no país – o dispositivo, porém, não permite essa interpretação.
O plano previa a realização de seis ações para, segundo as investigações, “implementar a ruptura institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro”.
Conforme descrito pela PF sobre o material apreendido na sede do PL, a proposta golpista começaria com uma investigação sobre supostas arbitrariedades do Judiciário desde 2019. A segunda etapa incluiria a preparação de tropas, discursos na TV e interrupção do processo de transição .
A seguir, o planejamento fala em decretar a intervenção militar no “Dia D”, que resultaria no cancelamento das eleições e na substituição de todos os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Por fim, o documento encerra o tema Estado Final Político Desejado, com o texto: “Lula não sobe rampa”.
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“O documento demonstra que Braga Netto e seu entorno, ao contrário do que foi explicado no documento anterior, tiveram clara intenção golpista, com o objetivo de subverter o Estado Democrático de Direito, valendo-se de interpretação anômala do art. 142 da CF, para tentar legitimar o golpe de Estado”, afirma a PF no relatório.
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