Os policiais estão em casa, recebendo seu salário, diz pai de universitário morto por PM

Os policiais estão em casa, recebendo seu salário, diz pai de universitário morto por PM



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três semanas após a morte do filho mais novo, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, 59, diz ver uma espécie de cumplicidade e proteção aos policiais militares envolvidos no caso.

Ninguém foi preso pelo assassinato do jovem, que estava no 5º ano de medicina e sonhava em ser pediatra e se formar na área da saúde como seus pais e irmãos mais velhos.

O sonho de Acosta foi interrompido na madrugada do dia 20 de novembro, quando ele levou um tiro no estômago dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. A ação aconteceu após o estudante dar um tapa no retrovisor do veículo onde estava sentado o PM Guilherme Augusto Macedo, 26 anos, que atirou nele. O soldado perseguiu Acosta até a pousada, onde disparou. A cena foi registrada por uma câmera do local.

Macedo e outro PM que estava com ele estão ausentes, realizando trabalhos internos.

Macedo foi indiciado por suspeita de homicídio doloso (quando há intenção de matar) horas após a morte, em meio a uma série de críticas da família do jovem. Mesmo com o rápido indiciamento, a investigação segue se arrastando. Por exemplo, o documento de acusação do PM ainda não foi encaminhado à Justiça Militar. Na Polícia Civil, o caso já é conduzido por um terceiro delegado diferente.

“O caso está no 4º Tribunal do Júri, ainda não foi distribuído ao Ministério Público”, afirmou o Ministério Público.

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) do estado afirmou que o delegado que presidiu o inquérito policial foi transferido para outra unidade como parte de movimentações rotineiras. “Desta forma, conforme determina a lei, um novo delegado assumiu o caso, sem prejuízo das investigações que prosseguem sob sigilo e incluem a análise das imagens captadas pelas Câmeras Operacionais Portáteis dos agentes envolvidos”.

O ministério acrescentou que a Polícia Militar investiga o ocorrido com acompanhamento da Corregedoria.

As críticas à gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) por parte de familiares fizeram o governador se manifestar 40 horas após o assassinato. Em postagem no X, Tarcísio lamentou o ocorrido e disse que essa não era a conduta que a polícia deveria ter com os cidadãos. “Os abusos nunca serão tolerados e serão punidos severamente”, dizia um trecho do texto.

Navarro está chateado com o rumo das investigações e, em entrevistas à Folha de S.Paulo, criticou o governador, o secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite e o comandante-geral da PM, coronel Cássio Araújo de Freitas, que, segundo o pai da vítima, ele fez de tudo para diminuir o filho.

“Ele prometeu uma punição severa, que até agora não sei que punição, porque os policiais estão em casa, provavelmente jogando cartas, assistindo TV, recebendo o salário. vamos cumprir um mês e nós com a vergonha, a pena essa impunidade”, disse o médico sobre Tarcísio.

Para Navarro, o mentor da política e da filosofia da crueldade é Derrite. “Esse secretário de segurança é um cara que está aí, que fica por uma questão política, filosófica, é uma dúvida, um paradoxo que o governador faz”, acrescentou Navarro, que deixou a função no Hospital das Clínicas para lutar por justiça no caso do filho.

Para a família, a lentidão observada na investigação da Polícia Militar também é percebida no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção Individual), da Polícia Civil.

“Infelizmente, o Departamento de Homicídios e Proteção Individual já trocou três delegados. O primeiro delegado de plantão, então, houve uma diferença sobre qual equipe iria assumir, um delegado assumiu, e agora, o terceiro delegado está assumindo a investigação. É triste, porque para a família que precisa de uma resposta rápida e urgente há essa demora nas investigações”, relatou o advogado Roberto Guastelli, que acompanha a família.

“As câmeras corporais dos dois policiais militares ainda não foram entregues na delegacia que investiga o caso. Parece que há falta de transparência, principalmente da Polícia Militar, quanto à entrega de imagens da violência cometida contra o estudante. O que vai acontecer? Eles estão tentando atrasar a investigação. A família está clamando por justiça”, acrescentou.

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A última movimentação do processo no Tribunal de Justiça ocorreu no dia 26 de novembro.



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