SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul ajuizou ação civil pública no valor de R$ 10 milhões contra a empresa de estacionamento Estapar e a seguradora Porto Seguro para indenizar clientes que tiveram seus carros alagados no Salgado Filho aeroporto e no pátio do hotel Deville Prime, ambos em Porto Alegre.
A ação foi uma reação ao comunicado enviado pela Estapar aos clientes e à imprensa na semana passada, em que afirmava que não reembolsaria os proprietários de veículos atingidos pelas enchentes que levaram ao fechamento do aeroporto no dia 3 de maio.
Desde então, os carros permaneceram no local por mais de um mês. A retirada só começou nesta terça-feira (6/4).
“Por se tratar de um evento de magnitude inédita, cujos efeitos não foram possíveis de evitar ou prevenir, a empresa esclarece que não poderá atender aos pedidos de indenização por danos sofridos aos veículos”, informou a Estapar, que administra o estacionamento no aeroporto da capital gaúcha.
“E reforça que, de acordo com a legislação brasileira vigente, não há responsabilidade da empresa pelo ocorrido”, diz a nota da empresa.
Em resposta, o defensor público Felipe Kirchner, do Centro de Defesa do Consumidor e Proteção Coletiva, ajuizou nesta terça-feira uma ação civil pública pedindo indenização de R$ 10 milhões por danos morais ou sociais.
A Defensoria Pública também pede que seja impedida a suspensão das taxas de estacionamento e o pagamento de valores para liberação de veículos no aeroporto.
“Entendemos que eles [a Estapar] apoiamos a questão da calamidade, mas isso não anula a responsabilidade. O risco do negócio é dos fornecedores, no caso Estapar e Porto Seguro, que trabalham juntos no aeroporto”, afirma.
“O que eles querem é transferir esse risco para os consumidores. Há um benefício na atuação conjunta entre as empresas, que é o lucro que elas obtêm, mas quando os consumidores estão mais vulneráveis, eles se isentam de responsabilidade”, afirma Kirchner.
O defensor afirma que a Estapar foi negligente ao permitir a entrada de veículos mesmo após o fechamento do aeroporto. “O evento climático no estado começou no dia 27 (abril), houve intensificação no dia 29 (abril) e teve impacto maior em Porto Alegre a partir de 1º de maio. No dia 3, o aeroporto Salgado Filho foi fechado às 20h30. e a Estapar continuou permitindo a entrada de veículos até as 22h50 do dia 3. Foi negligência da Estapar”, avalia.
Foi às 22h50 que a Estapar publicou em seu perfil no X (antigo Twitter) um pedido para que os proprietários dos carros que estavam no aeroporto retirassem seus veículos. “Devido à calamidade no RS, que é imprevisível e sem precedentes, a Estapar orienta preventivamente os proprietários de automóveis que se encontram nas áreas térreas do estacionamento do Aero POA a retirarem seu carro ou utilizarem o telefone 0800-0105560 para informações e providências, devido ao risco iminente de inundações”, informou a empresa.
Porém, três horas antes, a Fraport Brasil, concessionária que administra o aeroporto, havia anunciado a suspensão de pousos e decolagens. A Defesa Civil já havia emitido alerta de evacuação para moradores e trabalhadores do centro histórico nas ruas que formam o pólo comercial da cidade. Na manhã do dia 3, as águas do rio Guaíba já haviam invadido os bairros da zona norte.
“Além disso, não há indícios de adoção de conduta direta e eficiente para contenção de danos. A conduta dos fornecedores configura abuso de direito previsto no Código do Consumidor”, comentou o defensor público.
Por isso, a Ouvidoria ajuizou a ação e busca maior celeridade no pagamento de indenizações aos clientes. “A ação coletiva traz uma série de benefícios, pois agiliza o processo e proporciona uniformidade. Fizemos solicitações urgentes e esperamos que sejam processadas o mais rápido possível”, afirmou Kirchner.
Na ação, o órgão cobra das empresas as seguintes medidas:
- No prazo de dez dias, enviar lista dos consumidores afetados, com seus nomes, documentos de identificação e contato;
- No prazo de dez dias, enviar lista dos bens danificados dos proprietários dos veículos e a extensão dos danos;
- Em até dez dias, enviar documentos e contratos que formalizem a parceria comercial entre Estapar e Porto Seguro;
- Deixar imediatamente de cobrar, a partir de 29 de abril, quaisquer taxas dos consumidores com carros estacionados nas unidades afetadas;
- De imediato, não reter ou condicionar a liberação dos veículos ao depósito ou pagamento de qualquer valor;
- Compensar por danos materiais a todos os consumidores cujos veículos e mercadorias tenham sido afetados por inundações em estacionamentos;
- No prazo de dez dias, apresentar um plano de compensação para todos os consumidores cujos veículos e bens foram afetados;
- Publicar publicidade por pelo menos cinco dias nos meios de comunicação de massa informando que, em virtude da ação civil pública, estão obrigados a assumir a responsabilidade pelos danos causados aos consumidores.
Parar desconsidera reembolso; Porto Seguro diz que vai pagar
Procurada, a Estapar disse em nota que “ainda não foi procurada pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, mas está à disposição do órgão para quaisquer esclarecimentos necessários”.
A empresa voltou a anunciar que não responderá aos pedidos de reembolso, repetindo o comunicado da semana passada. A empresa afirmou que não cobrará taxas de estacionamento a partir de 3 de abril.
A Estapar iniciou nesta terça-feira (4/6) a operação de retirada de veículos no aeroporto. Os proprietários poderão retirar seus veículos de segunda a sábado, das 8h30 às 17h, sendo recomendado que os carros com placa final par sejam liberados nos dias pares e os veículos com placa final ímpar sejam liberados. ser liberado em dias ímpares.
Em nota à imprensa, a Porto Seguro contestou a informação de que é a seguradora do aeroporto de Porto Alegre e disse que indenizará os clientes atingidos pelas enchentes.
“A Porto Seguro informa que todos os acidentes veiculares decorrentes de enchentes notificados e com apólices vigentes no Rio Grande do Sul foram e serão indenizados, inclusive os veículos segurados que ficaram localizados nos estacionamentos da Estapar. o espaço afetado no Aeroporto Salgado Filho Destaca ainda que o número de prestadores na região dobrou para minimizar os efeitos da calamidade, acolhendo a população gaúcha”, afirmou a empresa.
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