Pouco mais de três semanas após o início da tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a proposta de reajuste salarial dos servidores estaduais ficou pronta para votação no segundo turno, que deve ocorrer na quarta-feira (6/6).
O Projeto de Lei (PL) 2309/2024, de autoria do governador Romeu Zema (Novo), foi aprovado na manhã desta terça-feira (5/6) pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), última etapa antes da apreciação definitiva pelos deputados.
O texto chega à fase final na Câmara após uma trajetória marcada por protestos de servidores, dezenas de emendas da oposição derrotadas no plenário e em comissões e um recuo parcial do Executivo, que concordou em alterar o percentual de correção salarial de 3 , 62% para 4,62%, taxa que atinge as perdas inflacionárias de 2023.
Na manhã desta terça-feira (6/4), nos momentos finais da tramitação do projeto na Assembleia, o Governo de Minas divulgou um vídeo em que Zema e sua então secretária de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto (Novo), anunciam que o O Executivo concluiu que é possível chegar ao nível de inflação do ano passado depois de ouvir as demandas do Legislativo e dos servidores e focar nos cálculos das contas do governo.
O movimento foi visto como um recuo do governador por servidores públicos e parlamentares de oposição, mas o novo percentual ainda está longe do patamar exigido por eles.
Ao longo de todo o processo de tramitação do projeto, classistas e representantes da oposição a Zema insistiram em aumentar o percentual de reajuste para 10,76%, referente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de 2022 e 2023, período em que não houve recuperação salarial dos empregados mineiros.
As tentativas de aumentar a percentagem foram feitas através de alterações ao texto original e propostas em três comissões antes da primeira volta; apresentado com destaque no plenário na primeira votação; e arquivado novamente no FFO antes do segundo turno. Em todas as oportunidades, alterações ao PL foram rejeitadas. Na quinta-feira, os parlamentares voltarão a trabalhar com a proposta para apreciação destacada no segundo turno.
Por um lado, o líder do governo na Assembleia, João Magalhães (MDB), aponta que o Executivo atingiu o limite orçamentário com 4,62%. Por outro lado, a oposição aponta o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) do próprio Executivo como um indício de que o estado teve um aumento de mais de R$ 5 bilhões na Receita Corrente Líquida (RCL) apenas no primeiro quadrimestre de 2024 e o valor seria suficiente para atingir 10,67%.
FFO
Última etapa antes do segundo turno, a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária durou mais de três horas até que os parlamentares integrantes do grupo votassem os pareceres do relator e as emendas apresentadas.
Em seu relatório, Zé Guilherme (PP) incluiu o novo percentual apresentado por Zema e deu parecer favorável à medida. Com isso, o PL 2309/2024 vai ao plenário em segundo turno, já trazendo 4,62% como reajuste aos servidores.
Juntos, membros do bloco Democracia e Luta, contrários a Zema; e os deputados Sargento Rodrigues (PL) e Cristiano Caporezzo, representantes das forças de segurança; apresentou 17 alterações ao texto na comissão. Todos receberam parecer desfavorável do relator e o indeferimento foi mantido.
A principal proposta apresentada pelos deputados contrários ao texto de Zema tenta, na prática, restabelecer o aumento percentual para 10,67%. Isso porque o texto da alteração nº. 12 soma 5,79% da inflação de 2022 aos 4,62%. Trata-se de uma emenda autorizativa, ou seja, dá aprovação do Legislativo para que o governo alcance o reajuste indicado, uma vez que a prerrogativa de determinar as bases das correções salariais é exclusiva do Executivo.
Outra emenda derrotada apesar da veemente defesa dos parlamentares foi a nº 10. Essa proposta prevê que os valores do reajuste retroativo a janeiro deste ano sejam pagos aos empregados em parcela única no quinto dia útil após a promulgação da lei.
A derrota no FFO não significa que a agenda ficará de lado. Os blocos têm o direito de solicitar a votação de emendas de destaque no segundo turno e as propostas rejeitadas na comissão devem ser ressurgidas para apreciação dos parlamentares.
No primeiro turno, a emenda que propunha a recomposição da inflação em 2022 e 2023 foi votada com destaque e derrotada por 34 a 30. A vitória estreita dos apoiadores do governo é elogiada pela oposição como motivo para acreditar em uma aprovação na bacia das almas no plenário.
Em entrevista após o FFO, Cristiano Silveira (PT) falou sobre as estratégias do bloco para alcançar o reajuste de 10,67% e citou o convencimento de parlamentares ‘indecisos’.
“Continua a mobilização dos funcionários públicos e dos sindicatos, o que tem sido de grande importância ao longo de todo o processo. Agora é hora de dialogar com os parlamentares que talvez não tenham votado conosco no primeiro turno e com aqueles que se abstiveram para tentar ter esses votos conosco no segundo turno. As votações foram acirradas e isso mostrou que a base governista está tendo dificuldade de ir contra o servidor neste momento. Acho que, se soubermos fazer o trabalho, podemos ter um resultado ainda melhor no final. Mas repito: até agora entendo que a oposição conquistou vitórias importantes”, afirmou o parlamentar.
Silveira reitera o discurso do bloco até aqui ao destacar o que considera vitórias. As votações apertadas, a dissolução da base governamental no primeiro turno e a decisão do governador de aumentar em um ponto percentual sua proposta original são avaliadas como conquistas da oposição e dos movimentos de servidores, que lotaram a Assembleia nos últimos três semanas.
O caminho até aqui
O PL 2309/2024 começou a tramitar na Assembleia no dia 14 de abril. O primeiro passo foi dado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o projeto teve continuidade nos dias seguintes através das comissões de Administração Pública (APU) e de Fiscalização Financeira e Orçamental (FFO) antes de estar pronto para ir ao plenário na primeira volta . Em cada etapa, foi necessário mais de um dia de apreciação até a divulgação do texto e as sessões foram marcadas por pareceres rejeitando as emendas apresentadas pelos parlamentares da oposição e classistas.
A proposta de Zema começou a ser votada em primeiro turno no dia 29 de maio. Na ocasião, os parlamentares aprovaram por unanimidade os 3,62% do texto principal enviado pelo governador. Seis alterações, incluindo a que autoriza o aumento do percentual para 10,67%, foram destacadas para apreciação individual.
Antes que a votação pudesse prosseguir, porém, a base governista abandonou o plenário e provocou a ausência de quórum mínimo para o prosseguimento da reunião, que foi prorrogada para a semana seguinte. A retirada de parlamentares ligados a Zema foi tratada como uma derrota do Executivo pelos deputados da oposição.
Na última terça-feira, o projeto voltou ao plenário em primeiro turno para que as seis emendas destacadas fossem apreciadas. Na época, diante de galerias lotadas de funcionários em protesto, todas as propostas de acréscimo ao texto original foram derrotadas e a diferença na pontuação nunca foi superior a cinco votos.
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