Câmara aprova projeto que prevê medidas de proteção às domésticas resgatadas de trabalho escravo; acompanhe – Notícias

Câmara aprova projeto que prevê medidas de proteção às domésticas resgatadas de trabalho escravo; acompanhe – Notícias


12/03/2024 – 19:29

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Benedita da Silva, relatora da proposta

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (3) um projeto de lei que estabelece medidas de apoio e proteção aos trabalhadores domésticos resgatados de condições análogas à escravidão. O texto será enviado ao Senado.

De autoria do deputado Reimont (PT-RJ), o Projeto de Lei 5760/23 foi aprovado com substituir da relatora, deputada Benedita da Silva (PT-RJ), segundo a qual as pessoas resgatadas dessa condição terão direito a medidas protetivas se determinado pelo juiz e deverão ser cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal ( CadÚnico) e em cadastros de programas sociais estaduais e municipais.

O texto também prevê prioridade na concessão do Bolsa Família caso atendam aos requisitos do subsídio, mas esse direito abrange todas as pessoas resgatadas de condição análoga à escravidão, e não apenas os trabalhadores domésticos.

Quando a vítima também tiver sofrido lesão corporal cometida por agente que se tenha aproveitado das relações domésticas, o arguido ficará sujeito à pena qualificada de isolamento de 2 a 5 anos, enquanto a pena padrão é detenção de três meses a um ano.

Além disso, o delegado deverá informar ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho, no prazo de 48 horas, se houver indícios de redução à condição análoga à escravidão ou a outra forma de violência doméstica.

Outra mudança prevista no texto é o aumento de três para seis salários mínimos nas parcelas a serem recebidas por pessoas resgatadas de condições análogas à escravidão.

A relatora, deputada Benedita da Silva, alterou a proposta para garantir a promoção e proteção dos direitos dos trabalhadores domésticos. “São disposições que ajudarão a resgatar não só as pessoas submetidas ao trabalho doméstico em condições análogas à escravatura, mas também a sua dignidade e cidadania, muitas vezes vilipendiadas durante décadas ou, pior ainda, durante toda a vida”, afirmou.

Benedita afirmou que a proposta trata principalmente dos direitos das mulheres. “Acredito que será um presente para esses trabalhadores que, durante anos a fio, buscam acima de tudo ter segurança”, afirmou.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de dezembro de 2023, o Brasil conta com mais de 6 milhões de empregadas domésticas e trabalhadoras domésticas, sendo 90% do sexo feminino.

Supervisão
Nos procedimentos de fiscalização, o projeto aprovado altera as regras de entrada do fiscal do trabalho na residência do empregador doméstico.

Atualmente, essa visita à residência, em virtude do preceito constitucional de inviolabilidade do domicílio, depende de agendamento e entendimento prévio entre fiscalização e empregador. Com a nova versão, o ingresso na residência dependerá de autorização do empregador ou, caso resida lá, do trabalhador.

Para acompanhar a prática de redução à condição análoga à escravidão também não será necessária dupla visita.

Custos
Os custos acrescidos em consequência do projecto serão cobertos pelo orçamento da segurança social de acordo com a disponibilidade financeira.

Participação
No que diz respeito à prevenção de abusos, assédio, discriminação, violência e à redução de trabalhadores e domésticas à condição análoga à escravidão, o texto determina que o poder público deve garantir a participação dos sindicatos e demais entidades representativas na formulação de políticas públicas e na estabelecimento de mecanismos de proteção de categoria.

Terá também de criar mecanismos que facilitem o pleno acesso à Justiça, a adequada investigação, processamento, responsabilização e reparação de reclamações e o acesso a programas específicos de acolhimento, reintegração e readaptação.

Debate em Plenário
O autor da proposta, deputado Reimont, lembrou que as trabalhadoras domésticas acampavam junto à Câmara para que os seus direitos estivessem na Constituição. “Foi por causa da luta deles que nossa querida presidente Dilma Rousseff estabeleceu os marcos para os direitos dos trabalhadores domésticos”.

Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), a exploração do trabalho escravo no Brasil ainda continua. “De vez em quando os fiscais do trabalho encontram pessoas, no campo e na cidade, em condições análogas à escravidão”, disse.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, 3.190 trabalhadores foram resgatados em 2023 e outros 2.587 em 2022.

O deputado Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do PL, afirmou que o trabalho escravo feminino é inconcebível. “Não há como aceitar isso e devemos punir aqueles que ainda cometem este ato bárbaro”.

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Reportagem – Eduardo Piovesan e Tiago Miranda
Montagem – Pierre Triboli



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