04/06/2024 – 16h40
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Grupo de Trabalho sobre Regulamentação da Reforma Tributária
Técnicos do governo federal, estados e municípios disseram aos deputados do grupo que analisa o regulamento da reforma tributária (PLP 68/24) que o modelo de pagamento dos novos impostos sobre o consumo será ousado porque é totalmente automático e, na verdade, deveria ser mais avançado do que outros sistemas existentes no mundo.
Diretor de Programas da Secretaria Extraordinária de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Daniel Loria disse que a vantagem do modelo, o Pagamento parcelado, é a redução de fraudes e inadimplência. Caso isso não seja feito, segundo ele, a nova alíquota teria que subir entre 2 e 3 pontos percentuais para manter a carga tributária. Hoje, a estimativa é de um total de 26,5%.
A ideia de Pagamento parcelado é recolher os impostos no momento da emissão do pagamento da fatura. Nesse ponto, já estaria separado o que deveria ir para o governo federal como Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o que vai para os estados e municípios como Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (IBS).
Segundo Loria, o objetivo é compensar ao mesmo tempo o imposto pago pelos fornecedores. Assim, a empresa adquirente da mercadoria pagaria apenas o imposto referente à sua fase do processo, evitando os tributos cumulativos. “Não haverá retenção excessiva de recursos, não haverá retenção além do necessário para cumprir exatamente o valor devido por aquele contribuinte”, destacou Loria.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Gustavo Brigagão defendeu que o sistema deveria ser facultativo e restrito a alguns setores
Falta clareza
Mas os especialistas fiscais presentes disseram que o texto do projeto não é tão claro sobre como funciona. Afirmam que a compensação de créditos pelo Pagamento parcelado Isso pode ocorrer dentro de 3 dias úteis após a transação. Foi ainda afirmado que o crédito só é concedido após a confirmação do pagamento dos impostos pelo fornecedor. Caso isso não aconteça de imediato, a devolução poderá demorar até 75 dias.
Para especialistas, esses prazos podem afetar o fluxo de caixa das empresas. Presidente do Centro de Estudos dos Escritórios de Advocacia, Gustavo Brigagão disse que o Pagamento parcelado Não precisa ser a regra geral. “Se o Split for mantido, deverá ser opcional e restrito a alguns setores onde há maior índice de fraude.”
Viabilidade técnica
Representantes do Banco Central e da Federação Brasileira de Bancos presentes na audiência afirmaram acreditar na viabilidade técnica do Pagamento parcelado, que deve ser operacionalizado pelas instituições financeiras. Mas dizem que será preciso pressa para deixar tudo pronto para testes no início de 2026.
O deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) disse que a reforma tributária exige uma nova forma de pensar, por se tratar de uma reforma tecnológica. “O crédito financeiro só existirá porque o crédito escrito é manipulável. A maior incidência de multas e autuações é toda a crédito. Então, com a tecnologia 5.0 que existe hoje no mundo, podemos fazer isso.”
Daniel Loria explicou que o governo está aberto a discutir alterações no texto. Mas reafirmou que o país tem capacidade tecnológica para fazer Split e citou o Pix como exemplo.
Exportações e importações
Como os novos impostos sobre o consumo são cobrados por quem compra as mercadorias, eles desoneram completamente as exportações e afetam as importações como outros produtos nacionais. Numa segunda audiência do grupo que analisou a proposta, especialistas do governo e do setor privado destacaram a importância da mudança para o setor industrial.
Presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, José Augusto de Castro disse que a dificuldade em eliminar a incidência de impostos sobre as exportações fez com que a participação das exportações de manufaturados caísse de 59% do total até o ano 2000 para 28% hoje. Castro, porém, estabeleceu prazo para a devolução dos créditos tributários dos tributos que serão extintos.
Relatório – Silvia Mugnatto
Edição – Georgia Moraes
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