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A Editorial Sul
| 29 de novembro de 2024
Essa divisão entre os adversários de Lula, causada pela incerteza sobre as perspectivas de poder de Bolsonaro, facilitaria o avanço da agenda do governo no Congresso. (Foto: Câmara dos Deputados)
A política brasileira é terreno fértil para grandes escândalos. Muitos ainda virão. A diferença agora é que o foco não está no governo ou no Congresso, como nos anos anteriores. O grande escândalo do momento, que envolve a tentativa de impedir a vitória de Lula nas eleições de 2022, atinge duramente a oposição, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isto tem implicações relevantes para o cenário político, agora e em 2026.
A princípio, a investigação da Polícia Federal e a provável denúncia da Procuradoria-Geral da República desorientam os apoiadores de Bolsonaro. Deve haver uma divisão entre setores leais ao ex-presidente, que insistirão na sua inocência, e outro grupo que verá o processo como uma oportunidade para construir lideranças alternativas – com um viés antissistema ou mais moderado.
Essa divisão entre os adversários de Lula, causada pela incerteza sobre as perspectivas de poder de Bolsonaro, facilitaria o avanço da agenda do governo no Congresso. As condições já foram relativamente favoráveis para o Planalto. Com popularidade próxima aos níveis do início do governo, a maioria dos deputados e senadores continua cooperando com Lula, mesmo que de forma discreta, o que é uma condição importante para a aprovação de medidas econômicas.
Com uma oposição nas cordas, o governo terá mais controle sobre a agenda legislativa, com caminho mais aberto para propostas de controle de gastos e outras iniciativas, como a reforma do Imposto de Renda ou novas medidas de aumento de arrecadação. Haverá oposição a estas propostas, é claro, e muitas delas acabarão sendo modificadas ou derrubadas pelo Congresso; mas esta resistência estará ainda mais concentrada nos grupos de interesses específicos afectados e menos articulada em geral pelos líderes da oposição.
A resposta de Bolsonaro a esse contexto deveria ser mostrar que ainda tem grande apelo eleitoral e que, mesmo impedido de concorrer em 2026, poderá indicar outro nome, fechando as portas aos dissidentes. Isso envolve sinalizar que não desistirá de ser candidato, para reforçar a narrativa de perseguição, e que qualquer nome alternativo será fiel às suas bandeiras e leal a si mesmo, para ter a máxima transferência de votos possível. Portanto, aumentam as chances de que um dos filhos do ex-presidente seja o verdadeiro candidato do campo de Bolsonaro em 2026.
Neste cenário, há grandes chances de ocorrerem outras eleições polarizadas em 2026; desta vez, entre Lula e Eduardo ou Flávio Bolsonaro. A chave, para Bolsonaro, será manter o mesmo discurso que galvanizou o apoio de algo como um terço do eleitorado brasileiro, talvez até um pouco mais, dependendo da análise. Assim, não só a direita bolsonarista teria chances reais de retornar ao poder em 2026, mas também mais influência nas eleições para o Congresso, especialmente no Senado, alterando a relação de forças no Supremo Tribunal Federal. Ainda há muito em jogo nos próximos anos, e o reequilíbrio de forças dentro da oposição, após o escândalo do plano golpista, será uma das histórias mais importantes a seguir. (Opinião/Silvio Cascione – diretor da Eurasia Group Consulting)
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Há uma grande probabilidade de ocorrerem outras eleições polarizadas em 2026; desta vez entre Lula e Eduardo ou Flávio Bolsonaro
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