Polícia Federal aponta que, acionado por militares, Mauro Cid atuou para manter acampamentos em frente aos quarteis

Polícia Federal aponta que, acionado por militares, Mauro Cid atuou para manter acampamentos em frente aos quarteis


As mensagens mostram que o ex-ajudante de campo foi chamado pelos militares após ações de autoridades públicas. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta trama golpista indica que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de campo de Jair Bolsonaro, trabalhou para manter acampamentos golpistas em frente ao quartel. Mensagens apreendidas de seu celular indicam que ele era procurado pelos militares para intervir em ações do poder público que afetaram o grupo que se mobilizou no final do governo passado.

Os diálogos constam de relatórios da Polícia Federal anexados à investigação da trama golpista, em que Cid e Bolsonaro foram indiciados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Por volta das 6h do dia 15 de dezembro de 2022, Cid recebeu um áudio de um tenente do Exército avisando que medidas poderiam ser tomadas pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) para realizar prisões “na área da QGEX (Quartel General do Exército). )”. Cid pergunta então: “Mas para PM ou PF?”, ao que seu interlocutor respondeu: “Minha fonte é PM”.

Em seguida, o tenente-coronel envia uma notícia que fala sobre uma operação deflagrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes para prender mais de 80 bolsonaristas naquele dia. A decisão, porém, referia-se a mandados de busca e apreensão contra organizadores de bloqueios ilegais. “Quem vai parar esse cara”, reagiu o tenente.

No dia 19 de novembro, um tenente-coronel de Caxias do Sul (RS) pediu orientação a Cid sobre como deveria proceder em relação a uma recomendação do Ministério Público Federal que pedia o desmonte do acampamento montado em frente ao quartel naquele cidade.

Cid respondeu em áudio: “É recomendado… vá se foder! Recomendo… é recomendado. Obrigado pela recomendação… Eles não podem multá-lo. Eles não podem prender. Eles não podem fazer absolutamente nada. Eles apenas encherão o saco. Mas eles não vão fazer nada.”

Diante da resposta dos militares, a PF concluiu que “Cid aconselhou ignorar o pedido do MPF e manter os manifestantes em frente à unidade militar”.

Após se tornar alvo de investigações, Cid decidiu fechar acordo de delação premiada com a Polícia Federal e forneceu informações sobre como integrantes do governo Bolsonaro e das Forças Armadas trabalharam juntos para manter o ex-presidente no poder.

“Esses fatos demonstram que membros das Forças Armadas encaminharam e solicitaram ajuda do MAURO CID em relação às ações tomadas pelas autoridades públicas contra manifestantes que defendiam atos antidemocráticos nas proximidades de unidades militares. Vale destacar que MAURO CID, à época dos fatos, era chefe das Ordens Assistenciais do Presidente da República, não tendo qualquer função para tratar das referidas demandas”, diz o relatório da PF.