Ministro Dias Toffoli diz que Marco Civil da Internet deu imunidade para redes sociais

Ministro Dias Toffoli diz que Marco Civil da Internet deu imunidade para redes sociais


A Corte discute a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.

Foto: Gustavo Moreno/STF

A Corte discute a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. (Foto: Gustavo Moreno/STF)

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou, nesta quinta-feira (28), que o Marco Civil da Internet deu imunidade às plataformas digitais. A afirmação do ministro foi feita durante a primeira parte da votação proferida no julgamento em que o Supremo decidirá sobre a responsabilidade das empresas que operam redes sociais pelos conteúdos ilegais publicados pelos utilizadores das plataformas.

A Corte discute a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), norma que estabeleceu os direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.

De acordo com o artigo 19, “de forma a garantir a liberdade de expressão e prevenir a censura”, as plataformas só podem ser responsabilizadas por publicações ilegais publicadas pelos seus utilizadores se, após ordem judicial, não tomarem medidas para remover o conteúdo.

Toffoli disse que o dispositivo deu imunidade às plataformas ao definir que a responsabilidade das redes sociais só começa quando elas descumprem ordem judicial que determina a remoção de conteúdo.

“O artigo 19 dá imunidade. Não é que o debate será transferido para o Judiciário. A responsabilidade civil só surge após decisão judicial. Ele dá de ombros. Aquele [postagem] Poderia ter permanecido um ano, dois anos, que já é uma eternidade, com milhões de acessos, sem qualquer reparação posterior porque a responsabilidade do artigo 19.º só surge se não for cumprida uma decisão judicial”, destacou.

Na próxima quarta-feira (4), o julgamento será retomado com a finalização do voto de Toffoli. Mais dez ministros votarão o tema.

AGU

Na primeira parte da sessão desta quinta-feira, o procurador-geral da União, Jorge Messias, defendeu a inconstitucionalidade do artigo 19.º e a adoção de orientações para remoção de conteúdos ilegais das redes sociais.

Segundo Messias, o aparelho deu imunidade às plataformas. “Esta imunidade tem sido utilizada pelas plataformas digitais para condutas absolutamente negligentes que levaram a um défice na nossa qualidade democrática”, afirmou.

Redes sociais

As plataformas defenderam a manutenção do texto original para garantir que a responsabilização deva ocorrer após o descumprimento de decisão judicial que determina a remoção do conteúdo.

A advogada Patrícia Helena Marta Martins, representando o Facebook, afirmou que a eventual adoção de um regime de fiscalização prévia e remoção extrajudicial de conteúdos é “complexa” e poderá aumentar a judicialização de processos relativos a pedidos de indemnização e remoção.

“É incompatível com a Constituição impor aos provedores de internet o dever de fiscalização prévia de conteúdos gerados por terceiros”, afirmou.

Para o X Brasil (antigo Twitter), o Marco Civil afastou a responsabilidade direta de forma equilibrada. Segundo o advogado André Zonaro Giacchetta, o Marco Civil da Internet permite a remoção extrajudicial de conteúdos, mas não exige a medida.

“O artigo 19 não impede a remoção sem ordem judicial. As plataformas têm atuado de forma espontânea, por denúncia, por meio de notificação extrajudicial e por provocação de autoridades competentes. Não se trata de inação por parte das plataformas”, sustentou.

Entender

O plenário do STF julga quatro casos que discutem a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.

Na ação relatada pelo ministro Dias Toffoli, o tribunal julga a validade da norma que exige ordem judicial prévia para responsabilizar os prestadores por atos ilícitos. O caso diz respeito a um recurso do Facebook para anular uma decisão judicial que condenou a plataforma por danos morais por criar um perfil falso de um usuário.

No caso relatado pelo ministro Luiz Fux, o STF discute se uma empresa que hospeda um site deve monitorar conteúdos ofensivos e retirá-los do ar sem intervenção judicial. O recurso foi interposto pelo Google.

A ação relatada por Edson Fachin discute a legalidade do bloqueio do aplicativo de mensagens WhatsApp em razão de decisões judiciais e chegou à Justiça por meio de ação movida por partidos políticos.

A quarta ação analisada trata da suspensão do funcionamento de aplicativos por descumprimento de decisões judiciais que determinam quebra de sigilo em investigações criminais.