28/11/2024 – 18:46
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Deputada Célia Xakriabá: sabedoria indígena para lidar com a crise climática
A utilização de sistemas agrícolas indígenas como opção para enfrentar a crise climática foi tema de debate na Comissão da Amazônia e dos Povos Originais e Tradicionais da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (28).
Segundo os debatedores, valorizar o cultivo tradicional indígena é essencial para preservar a biodiversidade e gerir os recursos naturais de forma sustentável, além de ajudar a enfrentar os desafios climáticos, como a emissão de gases de efeito estufa.
A autora do pedido, deputada Célia Xakriabá (Psol-MG), destacou que muito do conhecimento acumulado pelos indígenas foi perdido ao longo do tempo e que é preciso recuperar essa sabedoria para lidar com a crise climática.
“Embora o Congresso Nacional continue favorecendo o agronegócio, não taxando os agrotóxicos, na verdade, para mim, o mais rico é aquele que produz o próprio alimento. Uma alimentação sem venenos que não enjoa, pensando na nossa comida ‘saborosa’, que é um sabor que conecta identidade. Não queremos apenas encher a barriga. Não queremos perder a ligação com a nossa tradição”, afirmou.
Leosmar Antônio Terena, coordenador-geral de Promoção do Bem Viver Indígena, do Ministério do Índio, alerta que, por trás da tese do marco temporal, está a intenção de instalar atividades de alto impacto ambiental nos territórios indígenas.
Ele afirma que a adoção da agroecologia indígena é fundamental para evitar o colapso da humanidade e trazer equilíbrio às questões ambientais e climáticas. Segundo ele, isso se baseia na ciência.
“O último relatório do painel intergovernamental sobre alterações climáticas, a comunidade científica da ONU, destacou de forma muito enfática que o conhecimento dos povos indígenas na gestão do solo, das águas e das florestas é um mecanismo estratégico para enfrentar a desertificação, para combater a insegurança alimentar e as alterações climáticas. Mas o próprio relatório também reafirma que a efetivação dos direitos territoriais dos povos indígenas é fundamental para que esse conhecimento, esse conhecimento ancestral, possa ser preservado”, disse Terena.
terra negra
Segundo Leosmar Terena, também existem dados científicos que demonstram a evolução da terra preta que foi construída na Amazônia e é ideal para a agricultura. A coordenadora explica que esta terra é resultado do processo de manejo tradicional dos povos indígenas e é rica em zinco, magnésio e potássio.
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Leiva Martins Pereira: a agroecologia pode ajudar a superar a crise no sistema produtivo
A coordenadora de Produção Sustentável da Coordenação Geral de Promoção do Etnodesenvolvimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Leiva Martins Pereira, considera que o Brasil vive um momento histórico de reconstrução e retomada das políticas públicas, incluindo a agenda agroecológica.
Para o representante da Funai, a agroecologia pode ajudar a superar a crise do sistema produtivo causada pelas mudanças climáticas que têm afetado o mundo inteiro e provocado pragas na agricultura, incêndios e ondas de frio e calor.
Outros participantes dos debates alertaram sobre os interesses da agricultura em grande escala nos territórios indígenas, colocando em risco a preservação do meio ambiente e a permanência das populações nesses locais, e protestaram contra a instituição do marco temporal.
Na opinião de Célia Xakriabá, os ataques aos povos indígenas colocam em risco a sobrevivência da agroecologia e, consequentemente, a própria humanidade.
“Os recursos são importantes, mas é muito mais importante que não abramos mão do nosso jeito de ser e de nos organizar porque tem muita gente que tem muito o que comer, mas tem fome de humanidade, tem fome de espiritualidade, tem fome de pertencimento e todas essas fomes matam”, disse.
O deputado acrescentou que “nós, povos indígenas, podemos ter todos os desafios da questão territorial, mas continuamos lutando sem baixar nossas maracás, porque quem tem território tem para onde voltar. tem mãe, colo e tem cura.”
Biodiversidade
Os convidados também destacaram que as práticas agrícolas tradicionais dos povos indígenas promovem a fertilidade do solo, a conservação da água e a biodiversidade.
A coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, Elisa Urbano Ramos Pankararu, destacou que a ciência indígena se baseia em um sistema de harmonia, que pensa em todos os seres.
A audiência contou com a presença de diversos representantes dos territórios indígenas que participam do I Encontro Nacional de Agroecologia Indígena, realizado de 26 a 29 de novembro em Brasília.
Reportagem – Mônica Thaty
Montagem – Roberto Seabra
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