27/11/2024 – 23h09
• Atualizado em 28/11/2024 – 00h25
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Bohn Gass é um dos autores do projeto
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (27) um projeto de lei que cria a Política Nacional de Economia Solidária e um sistema de mesmo nome para coordenar ações de promoção de empreendimentos com essa característica. O texto será enviado para sanção presidencial.
Um aprovado substituir do Senado ao Projeto de Lei 6606/19 (antigo PL 4685/12), de autoria do deputado licenciado Paulo Teixeira (PT-SP), atual ministro do Desenvolvimento Agrário, e outros. O texto recebeu parecer favorável do relator, deputado Carlos Veras (PT-PE).
O projeto caracteriza um empreendimento de economia solidária como aquele com finalidade econômica e sem fins lucrativos, autogerido por seus associados, que devem desenvolver coletivamente as atividades econômicas e decidir sobre a partilha de seus resultados.
A iniciativa deve ter uma administração transparente e democrática através da soberania da assembleia e praticar o comércio de bens ou a prestação de serviços de forma justa e solidária, distribuindo os resultados financeiros da atividade económica de forma proporcional em relação às operações e atividades económicas realizadas individual e coletivamente .
O resultado operacional líquido, se houver, deverá ser destinado aos seus fins ou ao auxílio a outros empreendimentos similares em dificuldades ou ainda ao desenvolvimento comunitário ou à qualificação profissional e social de seus associados.
Os empreendimentos econômicos solidários que operem sob a forma de cooperativa terão seu funcionamento regulamentado pela legislação cooperativa. As empresas cuja actividade económica consiste na intermediação de trabalho subordinado não beneficiarão da política nacional.
Debate em Plenário
O deputado Bohn Gass (PT-RS), um dos signatários da proposta, lembrou que também foi autor de lei semelhante no Rio Grande do Sul, quando era deputado estadual. “São muitos os elementos que nos tornam torcedores, apoiadores, estimuladores e defensores da economia solidária, sustentável, consciente e cooperativa”, afirmou.
O deputado Patrus Ananias também defendeu o projeto, pois aponta para a perspectiva de uma sociedade solidária. “O espaço para a sociedade, para a comunidade, para que as pessoas se integrem e se articulem na busca de objetivos comuns é fundamental”, declarou.
Conferências
De acordo com o projeto aprovado, após conferências municipais, estaduais e nacionais sobre o tema, caberá ao Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES) elaborar e propor ao Poder Executivo federal um plano nacional levando em consideração as deliberações do conferência nacional, que tem a responsabilidade também, a cada quatro anos, de avaliar a política na área.
Fazem parte do sistema nacional de economia solidária o CNES, conferência nacional, órgãos ligados ao tema nas esferas municipal, estadual e federal, organizações da sociedade civil e empreendimentos econômicos solidários, além da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e do União Nacional das Cooperativas Solidárias (Unicopas).
Eixos de ação
O projeto define seis eixos de atuação para a política voltada aos empreendimentos solidários:
- formação, assistência técnica e qualificação social e profissional;
- acesso a serviços financeiros e de crédito;
- promover a comercialização, o comércio justo e solidário e o consumo responsável;
- promoção de empreendimentos económicos solidários e redes de cooperação;
- promover a recuperação das empresas por trabalhadores organizados em autogestão; e
- apoio à pesquisa e desenvolvimento e apropriação adequada de tecnologias.
Os beneficiários de programas sociais podem ser apoiados por ações políticas nacionais, desde que trabalhem em empresas económicas solidárias. A prioridade será para quem vive em situação de vulnerabilidade social.
Haverá também um registo nacional de empresas para que possam aceder aos benefícios. Os grupos informais serão incentivados a procurar a regularização jurídica para se integrarem plenamente no regime jurídico associativo.
Diretrizes
O PL 6606/19 lista diversas diretrizes que devem orientar os empreendimentos beneficiários da Política Nacional de Economia Solidária, tais como:
- administração democrática;
- trabalho decente;
- sustentabilidade ambiental;
- praticar preços justos, de acordo com os princípios do comércio justo e solidário;
- envolvimento dos associados na consecução do objetivo social do empreendimento;
- respeito pelas diferenças e pela dignidade humana; e
- promoção da equidade e dos direitos e garantias fundamentais.
O texto define o comércio justo e solidário como uma prática comercial diferenciada “baseada nos valores de justiça social e solidariedade”.
Preço justo é aquele em que o valor do produto ou serviço é construído com base no diálogo, na transparência e na participação efetiva de todos os agentes envolvidos em sua composição de forma a resultar em uma distribuição equitativa dos ganhos na cadeia produtiva.
Objetivos
Dentre os objetivos da Política Nacional de Economia Solidária destacam-se:
- fortalecer e incentivar o associativismo e o cooperativismo, que caracterizam os empreendimentos da economia solidária;
- contribuir para a geração de renda, melhoria da qualidade de vida e promoção da justiça social;
- promover o acesso da economia solidária aos instrumentos de desenvolvimento, meios de produção, mercados e conhecimentos e tecnologias sociais necessários ao seu desenvolvimento; e
- apoiar ações que aproximem consumidores e produtores, a fim de promover práticas relacionadas ao consumo consciente e ao comércio justo e solidário.
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Reportagem – Eduardo Piovesan e Tiago Miranda
Montagem – Pierre Triboli
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