Em mensagem, o tenente-coronel Mauro Cid disse que Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas foram “covardes”

Em mensagem, o tenente-coronel Mauro Cid disse que Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas foram “covardes”


O ex-ajudante de campo afirmou ainda que em “64 não precisou que ninguém assinasse nada”. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

Mensagens e documentos obtidos pela Polícia Federal (PF) trouxeram à tona um plano articulado por aliados de Jair Bolsonaro para uma possível ruptura do Estado democrático de direito, com discussões sobre a anulação das eleições de 2022. Entre os indiciados, os autos revelam menções ao golpe militar de 1964 como exemplo.

A investigação indica que o movimento golpista chegou a elaborar um decreto para anular as eleições de 2022, mas a falta de apoio do Alto Comando do Exército foi o fator crucial que impediu a sua execução. O documento, que estava pronto e enviado para análise, nunca foi assinado por Bolsonaro, pois não houve adesão dos principais comandantes militares.

Segundo mensagens reveladas pela PF, aliados de Bolsonaro, como o tenente-coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e o ex-ajudante de campo de Bolsonaro, Mauro Cid, expressaram frustração com a falta de ação do Exército. “Éramos covardes, na minha opinião”, disse Cavaliere. Cid, em comentário semelhante, relembrou o golpe de 1964, dizendo: “Em 64, ninguém precisava assinar nada”.

No dia 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, para discutir o decreto. Ao mesmo tempo, Mario Fernandes, um dos conspiradores, enviou uma mensagem ao general Luiz Eduardo Ramos, conhecido como “Kid Preto”, confirmando a existência do documento.

“Garoto Preto, falei com o Renato, o decreto é real, foi enviado ontem ao presidente”, disse Fernandes, sugerindo que o plano estava avançando.

No entanto, a resistência interna do Exército revelou-se um obstáculo significativo. Em mensagem datada de 16 de dezembro de 2022, o Coronel George Hobert Lisboa mencionou que o Alto Comando estava “fechando em copas”, possivelmente com a maioria contra a decisão do presidente, o que inviabilizou a continuidade do plano.

Mesmo com pressão de aliados de Bolsonaro, como Mário Fernandes, a maioria dos generais manteve-se fiel à instituição e recusou-se a apoiar a ruptura.

Sem apoio militar, o plano foi abandonado. Porém, novas informações revelam que o possível decreto golpista foi destruído por membros do Alto Comando do Exército. Em troca de mensagens entre Mauro Cid e Sérgio Cavalieri, eles discutem a destruição do documento assinado por Bolsonaro. “Rasgaram o documento que o 01 assinou”, escreveu um dos interlocutores, referindo-se ao ex-presidente com o apelido de “01”.

Além disso, mensagens revelaram que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, havia se alinhado ao plano golpista, sendo descrito como “PATRIOTA” nas conversas. O grupo também mencionou a preparação de tanques no Arsenal, indicando que havia uma mobilização militar em curso.