Euros na calcinha: doc da Netflix desnuda a peculiar doleira Nelma Kodama

Euros na calcinha: doc da Netflix desnuda a peculiar doleira Nelma Kodama



Em 2014, o noticiário do Brasil foi totalmente tomado pela Operação Lava Jato, uma investigação da Polícia Federal que prendeu políticos, empresários e doleiros envolvidos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro com a Petrobrás. Entre os primeiros presos, uma figura se destacou: doleira Nelma Kodama, amante de Alberto Youssef, doleiro que mantinha negócios ilícitos com construtoras e que concordou em fazer um acordo de delação premiada para reduzir sua pena. Além do relacionamento com Youssef, fatos que marcaram a trajetória de Nelma incluem sua prisão em um aeroporto com a denúncia de que teria tentado fugir do país com 200 mil euros escondidos na cueca —detalhe negado por ela até hoje, “o dinheiro estava nos bolsos da calça” — e por ter cantado Amado, amante, de Roberto Carlos, durante seu depoimento à CPI da Petrobrás. Outro destaque de sua carreira foi o ensaio fotográfico usando vestidos de grife sem esconder a tornozeleira eletrônica. As excentricidades da empresária de ascendência italiana e japonesa são exploradas no documentário Doleira: A História de Nelma Kodamaque estreia na próxima quinta-feira, 6, no Netflix.

Com pouco mais de 90 minutos, reconstituições, depoimentos, recortes de notícias —e alguns furos, o documentário conta a história de Nelma Kodama de forma superficial e um tanto confusa, transitando entre o passado e o presente, começando com um resumo de como a mulher que se formou como Dentista em Lins, no interior de São Paulo, foi movida pela ambição financeira até se lançar no mundo das transações em dólares do Brasil para o exterior após se envolver com uma operadora de câmbio em Santo André, no ABC Paulista.

Com o depoimento de Nelma de sua luxuosa mansão no bairro Campo Belo, em São Paulo, e também de dentro de uma penitenciária em Salvador — onde ficou presa por alguns meses no ano passado por suspeita de tráfico internacional de drogas —, o filme destaca a rápida ascensão de Nelma como uma empresária que conseguiu conquistar um espaço predominantemente masculino. Depois, uma explicação de como funcionavam as operações financeiras dos doleiros é elaborada por jornalistas, especialistas e envolvidos nos esquemas, como Luccas Pace Júnior, operador de dólar e ex-braço direito de Nelma. Um momento cômico é a descrição de Nelma dos dias em que ficou presa na sede da PF ao lado de Paulo Roberto Costa, Youssef e Pedro Correa.

A produção é até interessante dada a história cheia de absurdos e a forma como a própria Nelma mostra sua contradição em não se ver como uma criminosa. “Eu não era contra a lei”, ela argumenta. Porém, o documentário também sofre principalmente por sua edição com pontos desnecessários, como depoimentos de amigos de faculdade que pouco acrescentam à narrativa, servindo apenas para atestar que a doleira teve uma personalidade “aventureira” na juventude, além de excluir partes cruciais, como a cantoria na CPI — o filme narra o episódio, mas não mostra o fatídico trecho de Nelma, com a cabeça raspada após a prisão, cantando os versos da canção de Roberto Carlos, com um coral de parlamentares.

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O doleiro foi condenado a 18 anos de prisão, mas o documentário também deixou de mencionar o indulto de Natal concedido por Michel Temer, então presidente do país, em 2017, que permitiu a extinção da pena de Nelma em 2019. Com uma estranha passagem de Na época, a produção mostra a prisão de Nelma em Portugal após ela ser identificada como mandante de um esquema de tráfico de drogas. Para quem não conhece a história ou nunca ouviu falar de Nelma, ela passou da prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica em um apartamento de luxo no Brasil para a prisão em Portugal — posteriormente transferida para Salvador — em menos de 20 minutos, mas sem qualquer explicação ou conexão. .

O documentário é baseado em uma típica trilha sonora de filme policial americano e parece acreditar na tese de sua protagonista: ela e seu dedo podre se apaixonaram pelo homem errado, diversas vezes ao longo da vida. Afinal, além do primeiro namorado que a apresentou ao mundo das transações em dólar e do relacionamento de quase 10 anos com Alberto Youssef, a doleira também namorou Raul Srour — outro preso da Lava-Jato — e recentemente Rowles Magalhães Ferreira da Silva , que seria o responsável pela droga encontrada num avião que lhe estava ligado em Lisboa, onde Nelma esteve detida durante meses até ser extraditada para o Brasil e detida em Salvador. Ela nega o crime e tenta provar sua inocência em liberdade condicional.

O filme termina com a libertação de Nelma da prisão — numa possível tentativa de comover o espectador, seguida de um constrangedor encontro com sua equipe de advogados.

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Atualmente, Nelma Kodama deve à Receita Federal 127 milhões de reais, além de multa de 800 mil reais e não se sabe de onde vem sua renda para pagar um apartamento de 500 metros quadrados avaliado em 10 milhões de reais no Campo Belo, em São Paulo. Paulo. Ela volta a usar tornozeleira eletrônica e compartilha sua rotina no Instagram — sem esconder o acessório.

Doleira: A História de Nelma Kodama desnuda a história da “estrela da Lava-Jato”, mas termina com pontas soltas ao excluir fatos relevantes da narrativa.

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O documentário da Netflix foi dirigido por João Wainer, com roteiro de Camila Kamimura, produção de Camilla Vilas Boas e Roberto T. Oliveiras e produção executiva de Carol Amorim e Yara Camargo.





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