Ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF)negou ao lobista Andreson de Oliveira Gonçalves acesso a mensagens armazenadas no celular do advogado Roberto Zampieri, base de investigação revelada por OLHAR e aberto por Polícia Federal para investigar esquema de venda de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Zanin é responsável pela coleta de conversas que indicam que Andreson trocou sentenças em pelo menos quatro gabinetes do STJ e nos tribunais de justiça de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Ele foi revistado no final de outubro em uma operação que teve como alvo juízes de Mato Grosso do Sul e teve seu celular confiscado. O dispositivo é considerado peça-chave para desvendar o alcance do esquema e possíveis novos participantes do comércio clandestino nas sentenças dos ministros do STJ Isabel Gallotti, Paulo Moura Ribeiro, Og Fernandes e Nancy Andrighi. VEJA teve acesso a mais de 3,5 mil arquivos compilados no telefone de Zampieri, assassinado em Cuiabá no final de 2023. Veja algumas das áreas de atuação da dupla Andreson-Zampieri no STJ:
Rascunho fantasma
Certa vez, um casal bateu na porta de um grande banco com um pedido de empréstimo de 4 milhões de reais e deu como garantia partes de um imóvel no município de Barra do Garças. Inadimplente, ele foi cobrado pela instituição financeira, que entrou na Justiça para leiloar o bem. Durante a briga judicial, porém, a dupla concordou com a promessa de comprar e vender a mesma fazenda para um posseiro da região. Defendido no caso por Roberto Zampieri, o pretenso novo comprador também alegou ter direitos sobre a propriedade rural.
No STJ, Andreson Gonçalves convocou cúmplices nos gabinetes de dois ministros para garantir que Zampieri ganhasse o caso. Um aliado do lobista produziu um projeto de votação do então presidente do STJ, João Otávio de Noronha, e o ofereceu a Andreson para a devida apreciação. Às 15h23 do dia 27 de julho de 2020, Zampieri recebeu o documento em um aplicativo de mensagens, seguido de cobrança de 50 mil reais ao “amigo” que armou a sentença. Identificado com códigos para atestar se tratar de uma versão autêntica, o artigo não consta oficialmente no sistema interno do Tribunal nem está registrado no escritório de Noronha.
Menos de dois meses após a primeira operação, a quadrilha toma uma decisão sobre o caso pelos mesmos motivos no gabinete da ministra Isabel. Com a decisão publicada, a comemoração. “É isso, Zampi. Até a vírgula é igual Lkkkk”, escreveu o lobista.
Vendendo o ministro
Embora a Polícia Federal esteja investigando assessores que atuam em quatro gabinetes, Andreson e Zampieri fazem referência a casos relatados por pelo menos outros 12 ministros do STJ – um deles já aposentado e outro falecido recentemente. Na tarde do dia 23 de fevereiro de 2021, por exemplo, Andreson escreve ao seu advogado: “Estou aqui com um amigo do Buzzi”. Ele então envia ao ministro uma foto de um suposto assessor sentado a uma mesa com ele em um escritório. Pouco mais de dois meses depois da suposta visita ao “amigo” do juiz, no dia 12 de maio, surgiu o opinião de uma suposta decisão favorável. “Esse assunto aqui. Eu inverti tudo, olha lá. O cara pagou um preço justo”, relatou o lobista a Zampieri. Não foi bem assim. Segundo o próprio Andreson, admitiu posteriormente, o ministro Marco Buzzi, integrante do grupo de Direito Privado, havia proferido sentenças em dois processos distintos de seu interesse: em um, a decisão o favoreceu, no outro, o prejudicou. A Polícia Federal não trabalha com provas de que o magistrado conheceu, incentivou ou se beneficiou do esquema.
O caminho do dinheiro
Nas conversas armazenadas no celular, há dados sobre qual poderia ser o caminho do dinheiro usado para corromper assessores e lavar valores do esquema. Além dos apelos para que os “amigos” de Andreson recebam pagamentos de pelo menos 50 mil por voto em favor dos interesses da quadrilha, há diversos recibos bancários com transferência de valores de uma conta corrente de Zampieri, no município de Ouro Verde (MT), para o a empresa de transporte do lobista, Florais Transportes, com sede em Cuiabá. São transferências de 50 mil, 100 mil e 200 mil reais por transação.
Tentáculos no CNJ
Em determinado momento de 2020, com a Operação Faroeste a todo vapor, o lobista Andreson informou a Zampieri que uma carta confidencial havia chegado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e solicitava informações sobre um denunciante que entregou ao Judiciário o esquema de venda de sentenças judiciais . da Bahia. Em outra abordagem, um assessor do CNJ consultou o sistema interno do colegiado em busca de um processo contra um juiz mato-grossense suspeito de mercantilizar decisões.
Em 2022, uma terceira ofensiva. Andreson Gonçalves informa que acionou um juiz auxiliar da Corregedoria para acompanhar se havia inquérito administrativo contra um sócio. “Se chega alguma coisa lá, ele já pega e organiza para ficar arquivado”, escreveu o lobista. “Ainda não registrei nada no CNJ. todo mundo avisando agora”, completou.
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