A doutora Adriana Mancini (Cláudia Abreu) é uma renomada cirurgiã que transformou a medicina com o desenvolvimento de técnicas inovadoras de sutura. Mas sua vida não é só glamour: longe do centro médico após um evento traumático, ela tem dificuldade de retomar as atividades quando retorna da licença. As coisas ficam ainda mais tensas quando Adriana e Ícaro (Humberto Morais), novo residente do hospital, se envolvem em um perigoso esquema de atendimento ilegal a criminosos. Disponível no Prime Video, Sutura segue a trilha do sucesso de Sob pressãoda Globo, ao trazer séries médicas — gênero mais que consagrado na TV americana — para o universo brasileiro. “Todo mundo está interessado em saúde. Acho fascinante”, diz Cláudia Abreu, que confessa ser viciada nas tramas do filão. “Fazer a série tirou muitas das minhas dúvidas e hoje tenho um relacionamento melhor com os hospitais”, diz Morais, destacando que a medicina é “cheia de detalhes” que são difíceis de reproduzir no palco.
Dirigido por Diego Martins e Jéssica Queiroz, Sutura bebidas de fontes como Anatomia de Grey, Casa e pronto-socorro. Atração inquestionável para o público, as tramas médicas ganharam espaço cativo na televisão norte-americana devido ao seu ritmo dinâmico, que transita entre a resolução de casos complexos ou curiosos e a vida pessoal nada pacífica de médicos e residentes, o que acrescenta um toque generoso do melodrama às produções. Tanto no exterior quanto no país, o hospital é palco de cirurgias inovadoras e diagnósticos inesperados que se alternam a cada episódio. Os corredores assépticos, porém, também testemunham relações tumultuadas entre colegas de trabalho, bebedeiras no bar vizinho no final do dia, competição voraz entre moradores ambiciosos e conflitos pessoais que se desenvolvem ao longo dos episódios. “As comparações são naturais, mas acho Sutura traz um elemento de tensão muito original, que acompanha essa vida paralela de Mancini e Ícaro”, diz o diretor Martins, explicando que o dia a dia da medicina foi reproduzido na tela com a ajuda de profissionais da área. Para tornar as cenas mais precisas, os casos e cirurgias retratados foram previamente estudados a fim de identificar os materiais necessários para a filmagem. Sempre havia um verdadeiro profissional presente nas gravações e os dublês, por exemplo, eram cirurgiões profissionais. “Mas quando tivemos que suturar em planos mais abertos, suturamos”, brinca Cláudia, que diz que a medicina é mais que uma profissão. “Quando você escolhe essa carreira, você escolhe um estilo de vida”, afirma a atriz.
Discutir saúde na tela, via de regra, também inclui questões sociais. Típico nesse sentido, Anatomia de Grey Durante duas décadas, cobriu temas como o racismo, a violência policial, os custos de exploração dos cuidados de saúde americanos e as consequências da restrição do aborto legal. Situado no sistema público de saúde, Sob pressão explorou a realidade dos hospitais públicos brasileiros, retratando a escassez de recursos e o esforço hercúleo de médicos e enfermeiros para cumprir seu papel. Acontecendo em um hospital de elite (e fictício) de São Paulo, Sutura Adicione ao mix planos de saúde, que têm preços cada vez mais proibitivos e coberturas inadequadas. Através de Ícaro, um jovem negro da periferia, a série também destaca a dificuldade dos pobres em obter o tão almejado diploma de médico —mas não sem alertar sobre os perigos do conluio com o crime organizado. Há um sentimento de emergência nacional no ar – e vai muito além da sala de cirurgia.
Publicado em VEJA em 22 de novembro de 2024, edição nº. 2920
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