Crimes atribuídos pela Polícia Federal a Bolsonaro somam 28 anos de prisão como pena máxima

Crimes atribuídos pela Polícia Federal a Bolsonaro somam 28 anos de prisão como pena máxima


Para a polícia, o ex-presidente, ex-ministros e aliados atuaram com o objetivo de impedir a posse do então eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Os crimes atribuídos pela Polícia Federal (PF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na investigação que aponta tentativa de golpe no país podem chegar a 28 anos de prisão como pena máxima. O relatório final da investigação aponta para uma tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito e uma tentativa de golpe de Estado, crimes abrangidos pelo Código Penal.

— Penas previstas para cada crime:

* Tentativa de golpe de Estado: 4 a 12 anos
* Tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito: 4 a 8 anos
* Organização criminosa: 3 a 8 anos

Para a polícia, o ex-presidente, ex-ministros e aliados atuaram com o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter Bolsonaro na presidência após as eleições de 2022.

A defesa do ex-presidente afirmou que Bolsonaro “nunca concordou com nenhum movimento que visasse desconstruir o Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.

Um dos elementos obtidos pela investigação foi a confirmação de uma reunião entre Bolsonaro e os então comandantes das Forças Armadas, em dezembro de 2022, na qual foram apresentadas ações que possibilitariam um golpe. O ex-comandante do Exército Freire Gomes disse em depoimento à PF que, na reunião, Bolsonaro detalhou a possibilidade de “utilizar instituições jurídicas” como a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio para impedir o Posse de Lula.

Segundo Gomes, ele e o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior se posicionaram contra a proposta, enquanto o comandante da Marinha Almir Garnier Santos “teria se colocado à disposição do presidente da República”. Segundo Baptista Junior, Freire Gomes chegou a ameaçar Jair Bolsonaro de prisão caso o então presidente continuasse com o plano golpista.

Outro elemento citado na investigação é uma reunião com tema golpista, em julho de 2022, no Palácio do Planalto, com membros do alto escalão do governo. Na ocasião, Bolsonaro incentivou a ação antes das eleições, e foi seguido por alguns minutos de discurso pró-golpe.

“Sabemos que, se reagirmos depois das eleições, vai haver um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem alguma dúvida de que a esquerda, tal como está, vencerá as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, disse o então presidente.

Bolsonaro sempre negou ter organizado uma tentativa de golpe. Em São Paulo, durante evento convocado por ele em fevereiro, o ex-presidente disse que golpe “é um tanque na rua, é uma arma, é uma conspiração, é trazer a classe empresarial para o seu lado”.

“Nada disso foi feito no Brasil. Não fiz nada disso e eles continuam me acusando de fraude. Golpe usando a Constituição?”, questionou.

Entenda os crimes

O primeiro crime, tentativa de golpe de Estado, está previsto no artigo 359-M do Código Penal – “tentar depor, através de violência ou grave ameaça, governo legitimamente constituído”. No relatório, a PF entendeu que o ex-presidente mobilizou ministros, militares e assessores para colocar em prática um plano com o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaro nunca reconheceu a vitória eleitoral de Lula.

Segundo a PF, há indícios que comprovam que o ex-presidente analisou e solicitou alterações no texto de um projeto golpista. Entre as propostas levantadas neste texto estava a possibilidade de prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a investigação, Bolsonaro pediu a retirada dos nomes de Gilmar e Pacheco do anteprojeto.

A prisão das autoridades faria parte de um plano para interferir nas eleições de 2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, na visão de Bolsonaro, teria tomado decisões “inconstitucionais” em seu detrimento. Para salvaguardar estas prerrogativas constitucionais, as Forças Armadas seriam acionadas e atuariam como “poder moderador”, com o objetivo de reverter o resultado eleitoral.

Segundo a PF, Bolsonaro e seus auxiliares atuaram para disseminar notícias falsas e desacreditar o processo eleitoral brasileiro, com o objetivo de criar um ambiente favorável à intervenção militar. Parte dessa iniciativa foi a reunião que ele convocou com embaixadores para atacar o sistema de votação brasileiro – o caso acabou levando-o à condenação pelo TSE por abuso de poder político e uso indevido de mídia.

Isto inclui a acusação de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito descrita no artigo 359-L do Código Penal. “Tentar, através do uso de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, diz o texto.