Após três semanas marcadas por protestos dentro e fora da Assembleia Legislativa (ALMG), a proposta de reajuste salarial dos funcionários mineiros deve ser acelerada nos próximos dias. O Projeto de Lei (PL) 2309/2024, que prevê correção de 3,62% nos salários do funcionalismo público, volta ao plenário para votação em primeiro turno nesta terça-feira (6/4). Na última quarta-feira (29/5), diante da debandada de deputados da base governista, não houve quórum mínimo para a continuidade da reunião e emendas propondo percentual superior ao apresentado por Zema não foram avaliadas pelos parlamentares.
O PL 2309/2024 começou a tramitar na Assembleia no dia 14 de maio, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A primeira etapa foi vencida após mais de um dia de discussões entre oposição e apoiadores do governo. Este ritmo desordenado repetiu-se nas comissões de Administração Pública (APU) e de Inspeção Financeira e Orçamental (FFO) nas semanas seguintes.
Mesmo com parlamentares e servidores questionando o percentual proposto pelo Executivo, as comissões ficaram marcadas pela rejeição às propostas de emendas apresentadas para tentar aumentar os 3,62%. O Sindicato dos Servidores de Tributação, Fiscalização e Arrecadação do Estado de Minas Gerais (Sinfazfisco-MG) aponta que a proposta de reajuste de Zema representa aproximadamente um terço da inflação acumulada dos últimos dois anos, período a que se refere o aumento.
Com parecer favorável das comissões, o projeto foi ao plenário para votação em primeiro turno na última quarta-feira. Com 54 votos a favor e nenhum contra, o texto principal do projeto foi rapidamente aprovado. Antes da votação, porém, os parlamentares pediram votação destacada de seis emendas apresentadas ao projeto.
Uma das emendas autoriza o Executivo a conceder reajuste de 10,67% aos servidores públicos, percentual que abrange o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 e 2023. A proposta de acréscimo ao texto enviado por Zema foi assinada por toda a oposição bancada e parlamentares classistas como o Sargento Rodrigues (PL), que representa funcionários das forças de segurança.
Porém, entre a votação do texto principal e das emendas, a base governista saiu do plenário e o líder do governo na Assembleia, João Magalhães (MDB), pediu que fosse feita uma convocação aos parlamentares presentes. O quórum não foi suficiente para a continuação da sessão e a consideração das alterações foi adiada para a semana seguinte.
Possíveis próximos passos
A tramitação acelerada do PL 2309/2024 pode significar votação em segundo turno nesta semana. A continuação da apreciação do projeto em plenário, agora com análise das alterações, está prevista para as 14h desta terça-feira. Um pouco mais tarde, às 16h30, está prevista a realização da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, única etapa entre os turnos para a Assembleia divulgar o texto para sanção do governador.
Se o projeto passar pelo primeiro turno e pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária na terça-feira, é possível que a proposta de reajuste salarial já seja votada no segundo turno na quarta-feira (5/6). Ainda não se sabe qual o texto que será apreciado na segunda votação face aos resultados da análise das alterações em plenário e às possíveis alterações apresentadas no FFO.
Uma das possibilidades discutidas nos bastidores é que, caso a situação consiga derrotar a emenda que autoriza o reajuste de 10,67% no primeiro turno, será apresentado um substitutivo no FFO aumentando o percentual original de 3,62%, mas sem atingir o números da recomposição das perdas inflacionárias cobradas pela oposição e servidores públicos. Uma das alternativas é propor o IPCA de 2023, medido em 4,62%.
A oposição saiu do plenário da última quarta-feira surpresa com o movimento de retirada do quórum causado pela situação, mas avaliou a decisão como uma demonstração de que os apoiadores do governo perderiam se as emendas fossem avaliadas. Para o Estado de Minas, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) avaliou o movimento dos últimos dias com a votação do PL 2309/2024 suspensa. “O governo certamente está trabalhando para impedir a aprovação das emendas. Quando a base se retirou, sabia que perderia e tentou ganhar algum tempo entre quarta e terça. Mas os servidores também ganharam tempo para se mobilizar e protestar por um ajuste maior”, afirmou o parlamentar.
Beatriz também discutiu a possibilidade de o Executivo apresentar uma nova proposta de reajuste entre turnos apresentando um substitutivo à Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. A parlamentar destaca o que considera uma dificuldade de diálogo com membros do Executivo durante a tramitação do PL na Assembleia. “O relator poderá apresentar, na sua opinião, uma nova versão do texto. Mas o governo é muito intransigente, passou o período todo sem diálogo. E quando aconteceu o movimento para retirar o quórum, foi ruim para esse diálogo, porque poderíamos ter votado no primeiro turno e aberto um processo de diálogo. Não recebemos nenhuma resposta do governo nesse período”, finalizou.
A reportagem procurou a base do governo na Assembleia, mas não obteve respostas sobre a movimentação prevista para os próximos dias na Câmara. Nas últimas três semanas, a postura da base tem sido evitar entrevistas e declarações na imprensa.
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