Governo e Ministério da Defesa acertam cortes em previdência dos militares; veja o que muda

Governo e Ministério da Defesa acertam cortes em previdência dos militares; veja o que muda


Os militares pesam, individualmente, 17 vezes mais no déficit da Previdência Social do que os aposentados do Regime Geral do INSS. (Foto: Reprodução)

A área técnica do Ministério da Defesa chegou a um acordo com a equipe econômica para cortar despesas previdenciárias de militares das Três Forças. Entre as medidas acordadas está a criação de uma idade mínima de 55 anos para reserva paga, com período de transição. Hoje, o critério para a aposentadoria é baseado no tempo de serviço – pelo menos 35 anos.

As medidas farão parte do pacote de corte de despesas que o Ministério das Finanças está a preparar para tentar recuperar a confiança nas contas públicas e dar hipótese de sobrevivência ao novo quadro fiscal, de forma a controlar a trajetória da dívida pública. A expectativa é que esse pacote seja anunciado esta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a inclusão do Ministério da Defesa no pacote, tendo se reunido na semana passada com o chefe do ministério, José Múcio Monteiro, para discutir o assunto. A articulação do governo foi motivo de críticas no setor. O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente e general da reserva do Exército, chegou a escrever no X que o governo tentava apresentar o sistema militar “como o vilão” do déficit da Previdência.

O acordo foi fechado no mesmo dia em que a Polícia Federal lançou a Operação Contragolpe, com a prisão de altos funcionários suspeitos de planejarem um golpe de Estado no país e os assassinatos do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Mudanças

A criação de uma idade mínima para reserva paga é uma das medidas. Será estabelecido de forma progressiva, com regra de transição. Hoje, não existe idade mínima, mas sim tempo mínimo de serviço de 35 anos.

Também foi definido o fim da morte fictícia, ou “morte fictícia” – quando militares, mesmo expulsos das Forças por crimes ou mau comportamento, conseguem garantir aos seus familiares o direito ao recebimento de uma pensão. Agora, a família do militar terá direito ao auxílio-reclusão, previsto na Lei 8.112/90 para servidores públicos.

Um levantamento realizado em setembro do ano passado mostrou que a Marinha e a Aeronáutica pagam pensões a 493 familiares de militares “mortos fictícios”. Os beneficiários incluem parentes de pessoas condenadas por crimes como homicídio, ocultação de cadáver, abuso sexual e peculato.

A reforma também mudará as pensões. Uma vez concedida aos beneficiários de 1.ª ordem (cônjuge ou companheiro e filhos), a atribuição sucessiva de pensão aos beneficiários de 2.ª e 3.ª ordem (pais e irmãos dependentes de militar).

Por fim, houve acordo para fixar a contribuição dos militares das Três Forças para o Fundo de Saúde em 3,5% da sua remuneração, até janeiro de 2026.

Custos

Os militares pesam, individualmente, 17 vezes mais no déficit da Previdência Social do que os aposentados do Regime Geral do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Segundo os últimos números levantados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o déficit per capita do INSS foi de R$ 9,4 mil no ano passado; o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil, enquanto o dos militares atingiu o valor de R$ 159 mil.

As notas do TCU serviram de base para que os assessores de Lula passassem a defender mudanças na área. A medida também ajudaria Lula a “vender” o pacote, que conteria reduções em uma categoria considerada privilegiada, e não apenas cortes em áreas sociais.

“Considerando a profundidade das mudanças nos regimes previdenciários, promovidas ao longo das últimas duas décadas, verifica-se que os militares das Forças Armadas foram aqueles que preservaram as maiores vantagens”, afirmou o ministro Walton Alencar Rodrigues, durante a análise do mandato presidencial contas, em junho.