O Brasil assumiu a presidência do G20 com grandes desafios pela frente e emergiu mais forte, consolidando conquistas notáveis que colocaram o país no centro das discussões internacionais. Entre eles, a criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, os compromissos ambientais e os avanços na diplomacia multilateral.
Lula destacou no início da cúpula que o mundo vive atualmente um cenário pior do que há 16 anos, quando participou da primeira reunião do G20. Ele ressaltou que os conflitos armados atingiram o maior número desde o Segunda Guerra Mundialcom 117 milhões de pessoas deslocadas, e que as desigualdades sociais, raciais e de género foram agravadas pela pandemia. Para enfrentar esta realidade, o Brasil investiu em uma diplomacia pragmática, isolando questões sensíveis, como os conflitos em Gaza e na Ucrânia, e focando em áreas de consenso como o combate à fome e à pobreza.
Um dos desafios diplomáticos enfrentados foi a postura do presidente argentino Javier Milei. Inicialmente contrária à aliança contra a fome, Milei rejeitou o papel do Estado nas iniciativas globais e questionou questões como a regulação das redes sociais e a igualdade de género. Apesar de buscar destaque com declarações alinhadas ao discurso conservador global, acabou isolado.
Pressionado, cedeu em pontos fundamentais e assinou o acordo, embora tenha tentado suavizar termos como “tributação dos super-ricos”. Um ponto positivo desse episódio foi a capacidade do Itamaraty em manter o foco e evitar contratempos para o sucesso das negociações.
O Brasil inovou ao separar as discussões mais polarizadoras da declaração principal. Esta estratégia permitiu ao grupo chegar a acordos ministeriais sectoriais, algo que não tinha sido possível sob as anteriores presidências da Índia e da Indonésia. Mesmo pressionado pelo G7 para reabrir as negociações, o Itamaraty permaneceu firme, limitando as mudanças a termos como “infraestrutura” e menções específicas à Rússia. Essa abordagem pragmática garantiu que as negociações permanecessem alinhadas aos interesses brasileiros e globais.
Além do combate à fome, a presidência brasileira avançou compromissos relacionados às mudanças climáticas e à preservação ambiental. A criação de forças-tarefa para emergências climáticas e a ênfase dada às florestas tropicais reforçaram o papel do Brasil como líder na agenda sustentável.
A presidência brasileira do G20 consolidou não apenas acordos, mas também uma abordagem diplomática que combina pragmatismo e visão global. Ao priorizar ações concretas, como a aliança contra a fome, e a superação das divisões geopolíticas, o Brasil reafirmou sua relevância em um momento de crises profundas. A capacidade de lidar com desafios internos e externos deixou um legado que servirá de modelo para os futuros líderes do G20.
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