Lula e Joe Biden compartilharam um lanche nesta terça-feira (19/11), no Rio.
No cardápio da conversa, um dos pratos foi Venezuela. Os dois presidentes consideram imprevisíveis os rumos do país onde vivem 29 milhões de pessoas.
Na versão oficial, Lula e Biden concordaram em realizar “consultas” sobre a “situação” venezuelana, reafirmando sempre a necessidade de “respeitar a vontade democrática do povo” e o “fim da repressão política”.
Na vida real, ambos concordaram com a crescente pressão externa que a ditadura de Nicolás Maduro enfrentará, especialmente depois de 10 de janeiro, quando Maduro pretende iniciar o seu terceiro mandato presidencial extraído numa clara fraude eleitoral – declarou-se vencedor.
Nos últimos dois dias, enquanto Lula e Biden participavam das reuniões do G20, a cleptocracia venezuelana foi alvo de iniciativas multipartidárias no Parlamento Europeu e no Congresso dos EUA.
Os parlamentares europeus utilizaram o tratado que cria o Tribunal Penal Internacional para solicitar urgência em processos penais contra Maduro e os seus parceiros no poder por violações sistemáticas dos direitos humanos, incluindo prisão, tortura e assassinato de opositores. Houve mais de 1.800 detenções desde a interrupção das eleições presidenciais de 28 de julho.
Horas depois, a Câmara dos EUA aprovou um projeto de lei assinado por deputados democratas e republicanos que proíbe qualquer pessoa (física ou jurídica) residente em território americano de fazer negócios “com o governo ilegítimo de Nicolás Maduro” ou com qualquer outro “não reconhecido como legítimo por os Estados Unidos.”
Numa reviravolta irónica, os legisladores deram à lei o nome de “Bolívar”, o lendário libertador das colónias espanholas cuja memória histórica foi apropriada pelo regime ditatorial iniciado pelo falecido coronel Hugo Chávez, sucedido por Maduro. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela descreveu isso como uma “ofensa”.
A defesa desta iniciativa legislativa de grande alcance reuniu no plenário da Câmara líderes de dois governos – o de Biden, a oito semanas do fim do mandato, e o de Donald Trump, que toma posse a 20 de janeiro.
A congressista democrata Debbie Wasserman Schultz, por exemplo, acha que chegou a hora de pôr fim aos “interesses turvos” das empresas nos EUA que lucram com transações duvidosas com a cleptocracia liderada por Maduro.
O republicano Mike Waltz considera necessário colocar um “ponto final” na leniência para com o regime venezuelano.
O projeto ainda precisa de aprovação do Senado e, se aprovado, de sanção presidencial.
Tem uma chance real de decolar rapidamente. O apoio de Waltz é um indicador da receptividade entre os republicanos, que continuarão a controlar o Senado.
Além disso, Waltz foi escolhido por Trump para o cargo-chave de Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca. No Departamento de Estado estará o senador Marco Rubio, que já propôs uma intervenção militar na Venezuela.
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