Na linguagem da diplomacia, o encontro entre o presidente chinês Xi Jinping e o presidente Lula nesta quarta-feira, 20, em Brasília vai além de uma simples visita oficial. Com a vitória de Donald Trump na corrida presidencial americana e as sucessivas ameaças, em discursos de campanha, de aumento de impostos sobre os produtos chineses vendidos nos Estados Unidos, é um facto que americanos e chineses querem, cada um, reforçar o seu poder de negociação.
Na opinião de analistas que acompanham os movimentos políticos tanto em Washington como em Pequim, há um longo caminho a percorrer entre o que foi dito e o que será feito. E, no caso dos Republicanos, partido de Donald Trump, acredita-se que as ameaças verbais são praticamente um “convite” para negociações que serão impostas posteriormente, assim que Trump regressar à Casa Branca, em Janeiro de 2025.
Regressando de uma recente viagem à China, um analista explica que a percepção em Pequim é que a forma de agir dos republicanos é considerada melhor para os chineses do que a dos democratas, partido do actual presidente Joe Biden e de Kamala Harris, que contestaram a eleições com Trump.
“Os republicanos usam ameaças como instrumento de barganha, mas o que eles realmente querem é fazer negócios”, diz ele. “Os democratas são considerados muito piores pelos chineses porque não costumam falar e fazem tudo muito mais silenciosamente”, acrescenta.
Daí a interpretação de que o encontro bilateral de Xi Jinping com Lula, neste momento, serve para que a China exiba a sua relação com o Brasil como parte do seu poder de barganha com os Estados Unidos. O fortalecimento desta relação é uma mensagem à diplomacia americana de que a América Latina, negligenciada por Washington no governo Biden, tem peso na disputa entre as duas potências mundiais.
A China tem sido tradicionalmente avessa a perder na luta pela percepção global de liderança. E, neste caso, a América Latina é estratégica para que o país se posicione como uma potência influente, que busca a cooperação e o multilateralismo, opondo-se à postura unilateral dos Estados Unidos. Nesse sentido, fortalecer as relações com o Brasil, com acordos nas áreas de comércio, investimentos e apoio em questões globais, é um passo importante.
O Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e minerais para a China e os Estados Unidos e sai de uma presidência bem-sucedida no G20, onde a discussão de uma agenda social com o pacto global de combate à fome e à pobreza ganhou apoio das maiores economias do país. o mundo que compõem o grupo.
O tema é marcante na vida do presidente Lula e foi o que contribuiu para sua projeção internacional, em todos os seus mandatos. Com isso, ele reforça sua agenda para tentar barganhar também. “O presidente Lula é pragmático nesses momentos e tentará fazer o que for melhor para o Brasil. Trump fala pela direita, mas joga no meio-campo para negociar. Lula fala para a esquerda e também vai para o centro quando necessário”, avalia analista.
As peças do tabuleiro da diplomacia internacional estão se movendo esta semana, mas o jogo ainda está em fase de aquecimento. O quadro de poder no mundo, captado pelas lentes dos fotógrafos ao registrarem o encontro dos líderes das maiores economias do planeta presentes no G20 sem Joe Biden, muda a partir de janeiro com a chegada de Donald Trump ao jogo. A China está de olho e quer o Brasil como um parceiro cada vez mais próximo.
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