MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – O avião do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pousou no aeroporto de Manaus na tarde deste domingo (17/11), às 13h30 no horário de Brasília (12h30 no horário local), dando início à visita americana ao Região amazônica brasileira, embora curta e limitada a espaços mais urbanos.
Esta é a primeira vez que um presidente americano, durante o mandato, faz tal visita, segundo a Casa Branca.
A agenda de Biden, divulgada na última quinta-feira (14), prevê um sobrevoo sobre a região, uma visita ao Musa (Museu da Amazônia), em Manaus, e uma declaração à imprensa. O presidente deverá sair do Air Force One diretamente para um helicóptero, de onde avistará a Amazônia.
Entre as áreas escolhidas para o sobrevoo, destacaram-se partes da floresta que sofreram com incêndios e erosão, e o encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Biden estará acompanhado do cientista Carlos Nobre, da USP (Universidade de São Paulo).
O climatologista é conhecido mundialmente por seus estudos na região amazônica, liderando pesquisas sobre os impactos climáticos do desmatamento. Foi um dos autores do quarto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007.
Também está previsto um encontro com lideranças indígenas e outros pesquisadores que trabalham em questões relacionadas ao bioma Amazônia.
Esta manhã, antes do pouso do Força Aérea Um, o governo americano anunciou que o país contribuirá com mais US$ 50 milhões (R$ 289,5 milhões) para o Fundo Amazônia, destinado à conservação florestal no Brasil.
O valor se soma a outros US$ 50 milhões prometidos pelos EUA em fevereiro de 2023, por ocasião da visita do presidente Lula (PT) ao país, no início da atual gestão petista. Naquela época, o governo brasileiro considerou o anúncio feito pela Casa Branca decepcionante e o valor não foi mencionado no comunicado conjunto sobre a visita de Lula a Biden.
Em abril de 2023, Biden afirmou que a intenção do país era injetar um total de US$ 500 milhões no Fundo Amazônia em cinco anos.
O comunicado deste domingo afirma que a nova contribuição “aumentará as contribuições totais dos EUA para o Fundo Amazónia para 100 milhões de dólares”, mas que está sujeita à aprovação do Congresso.
Até o momento, os aportes americanos já depositados foram de US$ 3 milhões (R$ 14,9 milhões, pelo câmbio da época), em dezembro de 2023, e US$ 47 milhões (R$ 256,9 milhões), em agosto de 2024, segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Desenvolvimento Econômico e Social), gestor do Fundo Amazônia.
Durante a sua visita a Manaus, a maior capital da região amazónica, Biden também anunciará que a sua administração cumpriu a promessa de aumentar o financiamento climático internacional dos EUA, atingindo mais de 11 mil milhões de dólares por ano até 2024.
Isto, de acordo com a Casa Branca, torna “os Estados Unidos o maior fornecedor bilateral de financiamento climático do mundo”, com “um aumento de mais de seis vezes em relação aos 1,5 mil milhões de dólares em financiamento climático que os EUA forneceram neste ano fiscal de 2021”.
Para assinalar a data, Biden colocará o dia 17 de novembro no calendário oficial dos EUA como o Dia Internacional da Conservação.
A administração do democrata termina em janeiro de 2025, quando o republicano Donald Trump assume a presidência. Ele derrotou a vice-presidente de Biden, Kamala Harris, e deverá seguir na direção oposta à política ambiental do atual chefe do Executivo norte-americano. Trump ainda promete retirar novamente o país do Acordo de Paris.
Biden, segundo o comunicado, também anunciará outras iniciativas voltadas à preservação da Amazônia.
Entre as medidas estão o lançamento de uma coalizão para restauração florestal e bioeconomia, que inclui o BTG Pactual e 12 parceiros, com o objetivo de mobilizar US$ 10 bilhões até 2030; o aporte de US$ 37,5 milhões da instituição financeira DFC para projeto de reflorestamento desenvolvido pela Mombak Gestora de Recursos; e apoio ao plano do governo Lula de criar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
O comunicado da Casa Branca cita outras iniciativas, como aproveitar a demanda por créditos de carbono, envolvendo o governo do Pará; cooperação entre DFC e BNDES, banco de desenvolvimento equivalente no Brasil; e parcerias com o governo brasileiro, universidades e ONGs (organizações não governamentais) para combater a extração ilegal de madeira, por exemplo.
Sobrevôo e visita ao museu
Musa, que será visitada por Biden, é uma parte verde de Manaus. A cidade é escassamente arborizada e é uma área urbana situada na floresta amazônica.
O museu ocupa 100 hectares da reserva florestal Adolpho Ducke, de propriedade do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). É um dos poucos locais de Manaus onde o turista pode entrar em contato com a floresta. Existe, em Musa, uma torre de 42 metros para observação das copas das árvores. Vários grupos de pesquisa trabalham no museu.
Durante a visita ao Musa, o presidente dos Estados Unidos será acompanhado pelo diretor-geral da instituição, Filippo Stampanoni, e pelo diretor do Inpa, Henrique dos Santos Pereira.
Segundo a Casa Branca, as lideranças indígenas que estarão com Biden são Kelliane Wapichana, que atua em Roraima, Altaci Kokama e Simone Xerente, que integra uma brigada de incêndio florestal formada por mulheres.
Do gabinete de Biden estarão presentes o secretário de Estado Antony Blinken, o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan, o conselheiro especial para as Américas Chris Dodd e o enviado climático John Podesta. A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley, também estará presente.
Biden esteve em Lima, no Peru, onde participou da reunião da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Ele chegou ao aeroporto de Manaus sob forte segurança.
De Manaus segue para o Rio de Janeiro, neste domingo, para participar da cúpula do G20, que o Brasil sedia.
A cúpula acontece na segunda (18) e na terça (19), dia em que o presidente norte-americano terá um almoço de trabalho com o presidente Lula, conforme agenda divulgada pela Casa Branca.
História
Entre 1913 e 1914, o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt (1858-1919), participou de uma expedição pela Amazônia, passando por regiões de floresta intocada, ao lado do marechal Cândido Rondon (1865-1958), militar e sertanista . Brasileiro responsável pelo mapeamento e avanços em regiões amazônicas pouco acessíveis na época. Roosevelt já era ex-presidente quando ocorreu a expedição.
Mais de cem anos depois, o atual Chefe do Executivo dos Estados Unidos confronta-se com um bioma que sofre os efeitos contínuos de uma emergência climática sem precedentes, associada, entre outros fatores, ao aquecimento global.
No curto período em que estará nesta parte da Amazônia ocidental, e nos limitados espaços a serem percorridos, o presidente dos Estados Unidos pode não compreender a real dimensão da crise climática enfrentada pelo bioma e pela população amazônica . Uma descrição da dimensão da crise deve ser feita pelos indígenas e cientistas escolhidos para se reunirem com Biden.
O rio Negro, que faz fronteira com Manaus, permanece em níveis críticos, numa lenta recuperação da seca mais severa já registrada. Novembro ainda registra ocorrência de queimadas no Amazonas. A precipitação está abaixo da média para o período. A temperatura está acima da média.
Todos os 62 municípios do estado estão em alerta quanto ao nível dos rios e em situação de emergência, segundo dados públicos da Defesa Civil do Amazonas atualizados na última quarta-feira (13).
A seca ainda impacta a população, com isolamento das comunidades e dificuldades na navegação dos rios. No total, 212,7 mil famílias -850,9 mil pessoas- já sofreram impactos da seca extrema no estado, segundo a Defesa Civil.
Na Amazônia brasileira, especialmente na parte ocidental, onde está localizado o Amazonas, houve dois períodos de seca extrema consecutivos, em 2023 e 2024. O pior já passou, mas a recuperação é lenta, com efeitos prolongados sobre a população, especialmente aqueles que vivem em comunidades ribeirinhas.
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Entre os factores da crise estão o prolongamento do El Niño (aquecimento acima da média no Oceano Pacífico, próximo do Equador), o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, a desflorestação e a degradação florestal -associada especialmente aos incêndios- e às alterações climáticas.
Os Estados Unidos são o segundo maior emissor mundial de gases de efeito estufa, principais causas das mudanças climáticas. Eles perdem apenas para a China.
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