As Finanças e o Banco Central que lutam juntos pelo ajuste fiscal também trabalham juntos. Afinal, é preciso reforçar os músculos e aliviar a tensão diante da rebelião instalada na Esplanada contra os cortes nas despesas públicas. Disciplinado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segue à risca as recomendações do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Apaixonado pela rotina e técnicas de exercícios físicos, Galípolo, nas horas vagas, atuava como “personal trainer” de Haddad. Até semanas atrás, os dois eram vistos regularmente malhando juntos na academia de um luxuoso hotel à beira do Lago Paranoá, em Brasília.
E quem melhor para entender as necessidades de um amigo? Se os gastos do governo passaram a ser o peso na vida de Haddad, o risco de uma inflação descontrolada é o contrapeso na de Galípolo, que, no BC, controla a política de juros para conter a alta dos preços.
A parceria estava indo bem até recentemente. Desde agosto, depois de ter sido nomeado para assumir o comando do Banco Central, Galípolo deixou de treinar com o ministro das Finanças, como era habitual. Motivo: ele mudou de endereço. Haddad, porém, segue firme em sua rotina de exercícios.
Amigos até na hora de malhar, os dois se aproximaram há cerca de três anos devido à rede de contatos em outra academia – os centros de conhecimento e debates econômicos que frequentam. Desde então, a afinidade temática só fortaleceu a parceria.
Gabriel Galípolo atuou na campanha de Lula à Presidência da República, fez parte da equipe de transição e, logo no início do governo, foi convidado por Haddad para ser o número 2 do Ministério da Fazenda, na função de secretário executivo.
A experiência profissional no mercado financeiro (antes de ingressar no governo Galípolo ocupou cargos executivos em instituições financeiras) foi considerada útil para Haddad fortalecer a política econômica com conhecimento técnico e visão pragmática. Ao mesmo tempo, a dupla tem um foco comum no desenvolvimento socioeconómico.
Meses depois de chegar ao ministério como integrante da equipe de Haddad, porém, Galípolo mudou de cargo e assumiu a diretoria de Política Monetária do BC, responsável pela política de juros do país. Lá, continua alinhado aos interesses do Tesouro, por ser considerado, dentro do governo, um mediador entre as políticas fiscal e monetária.
Se tem Haddad como aluno, o presidente Lula também elogia muito Galípolo. Segundo interlocutores oficiais, ele tem muita credibilidade interna e suas opiniões costumam ser levadas em consideração.
Assim que indicou seu nome para assumir a presidência do Banco Central, em substituição a Roberto Campos Neto (cujo mandato termina em dezembro deste ano), Lula disse que Galípolo tinha o perfil de uma “pessoa muito competente” e que gostava muito do Brasil . Ele também afirmou que a única razão pela qual não o classificou como um gênio foi porque ele não gostou da palavra. Gênio da academia ou do mundo acadêmico, ele não especificou. Há uma pergunta para o Ministro das Finanças responder.
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