Aos 30 anos, a francesa Yseult desponta como um dos maiores nomes da música pop e também da moda. Em seu novo álbum, Mental, ela faz uma mistura criativa de punk britânico e pop americano, em letras que falam sobre empoderamento feminino e racismo. Filha de imigrantes africanos, a artista é uma verdadeira cidadã do mundo, Yseult visitou recentemente o Brasil onde fez participação especial no show da colombiana Karol G cantando com a iraniana Sevdaliza e a brasileira Pabllo Vittar, a música Álibi. A música pop esteve recentemente entre as mais tocadas do mundo.
Yseult vai mais longe. Ela foi uma das atrações da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de 2024 em Paris, quando cantou Como é o hábitomúsica original cuja versão em inglês, O meu caminhoque ficou famoso pela voz de Frank Sinatra. Na moda, a artista é embaixadora global da L’Oreal Paris e já desfilou para marcas como Alexander McQueen e Balenciaga e apareceu nas páginas da Voga. O novo álbum, Mental, é o culminar de um trabalho que começou em 2019, quando Yseult começou a chamar a atenção com a sua música Corpouma balada de piano onde reformula a narrativa do corpo perfeito. Em entrevista a VEJA, por videoconferência de Paris, Yseult falou sobre o novo álbum e seu trabalho com moda. Confira abaixo os principais trechos.
Recentemente, você esteve no Brasil para uma participação especial no show de Karol G no Rock in Rio, com a iraniana Sevdaliza e a brasileira Pabllo Vittar. Que lembranças você tem desse momento? Ainda não houve tempo para aprender português. Mas para mim foi realmente emocionante estar cercada por mulheres tão inspiradoras como elas. Fui abençoado por estar no palco com eles e na frente de tantas pessoas no Rio de Janeiro. Esta foi a minha terceira vez no Brasil. Eu também estive aqui para gravar o videoclipe Álibide Sevdaliza, com Pabllo.
Qual é a sua relação com Pabllo Vittar? Ela é como minha mãe brasileira. Ela sempre me manda mensagens me apoiando em cada postagem que faço no Instagram. Além de ser uma cantora incrível e autêntica.
Outro momento marcante deste ano foi o encerramento das Olimpíadas de Paris, onde você cantou Como é o hábitouma música que Frank Sinatra imortalizou em inglês com O meu caminho. Como controlar a emoção num momento tão significativo como esse? Foi muito difícil porque o desafio era trazer minha própria identidade para essa música icônica. Todo mundo conhece a versão em inglês, mas é uma música francesa. O original, de Claude François, fala sobre um relacionamento e o de Frank Sinatra é como uma declaração do que ele fez da vida. É mais como, “OK, eu tenho minha carreira. Eu fiz isso, eu fiz aquilo. Este é o fim. Estou em paz.” Cantar no encerramento das Olimpíadas me deixou muito honrado por poder representar a França em todo o mundo. Fizemos os Jogos Olímpicos do nosso jeito e foi do meu jeito que cantei O meu caminho. E no final ainda coloquei uma nota alta, tipo Maria Callas. Fiz Paris cantar. Foi uma bênção.
Seu novo álbum, Mentalvai do punk ao reggaeton, com letras sobre empoderamento feminino e racismo. Você é um cantor que não quer ficar preso a gravadoras? Eu me vejo como uma cantora pop, porque para ser uma cantora pop é preciso ser versátil e criar pontes entre diferentes gêneros. Pode ser música eletrônica, pode ser rock, punk, enfim, pode ser qualquer coisa. Me disseram que quando eles ouviram o álbum Mental, percebeu uma mistura de Motomamipor Rosália, com Antipor Rihanna. Concordo. Para mim, um artista pop não é apenas um gênero, você é uma coisa híbrida. Neste álbum, eu queria me sentir no limite e ir o mais longe que pudesse. Eu poderia ser uma estrela do rock ou apenas aceitar meu fracasso e vulnerabilidade. Foi um misto de emoções, seja raiva, alegria, surpresa.
Você começou cantando músicas clássicas francesas. De onde vem sua influência musical? Quando eu estava no estúdio, meu produtor nos disse para não ouvir o que estava tocando no rádio. Nossa ideia era criar músicas de forma natural, sem nenhuma influência. Eu estava pensando em criar algo que as pessoas quisessem ver no palco. Mesmo que não moremos no mesmo país, acho que vocês se identificam com esse álbum e fiquei muito feliz que pessoas no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido, que não falam francês, tenham se conectado com esta energia.
Seu antigo trabalho falava muito sobre saúde mental. Quão importante é continuar abordando o tema? No passado, foi importante para mim falar sobre minha saúde mental. OAgora, é mais importante para mim apenas mostrar minha personalidade. NNão sou fraco, mas vulnerável. E para mim, ser vulnerável é uma força. Você sabe. Para mim, o mais importante com Mentalera eu me sentindo forte e mostrando essa particularidade da minha personalidade mais do que outras coisas que já disse antes.
A letra da música Cadáver fala sobre a ditadura do corpo perfeito. Por que é importante falar sobre esse tema? Para mim, todo mundo é lindo. E para mim, é como se todos fossem diferentes. Eu abraço minha beleza e não tenho Não tenho vergonha de ser quem sou. Se alguém não gosta de mim, o problema é dele. Porque eu me amo e aprecio as pessoas também. O importante é compartilhar essa mensagem porque tem muita gente no mundo que se odeia e isso é muito triste. Fico muito feliz quando alguém diz que minha música o ajudou a conviver com o próprio corpo. Meu trabalho é o mais lindo do mundo porque podemos curar pessoas através da música.
Você também é um ícone da moda em Paris, tendo trabalhado para Alexander McQueen e Balenciaga e aparecido nas páginas da Vogue. A indústria da moda também está mudando em relação a essa ditadura do corpo perfeito? A moda é uma indústria muito interessante. Um modelo é um ser humano que tem coração e sentimentos. Modelo é mais que um corpo. Para mim, ser modelo é ter personalidade e brincar com o ângulo do corpo. Você pode brincar com um ângulo do seu corpo que você odeia e acender uma luz ali e ver a beleza que existe ali. Ou, se quiser, você pode simplesmente decidir mostrar apenas o seu lado bonito. Ser modelo é mais do que um corpo, é brincar com a sua complexidade e provar que a beleza é diversa e diferente. O que quero é passar a mensagem de que tudo é possível, todo mundo é lindo. É a mesma mensagem que também quero transmitir na minha música.
Como filha de imigrantes africanos, como vê a ascensão da extrema esquerda em França e na Europa e os casos de xenofobia? É triste. Essa é a única coisa que posso dizer, porque é muito triste. Só espero que um dia tudo isso mude, que o mundo seja livre.
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