O ‘olhar evangélico’ no PT sobre o desempenho do p…

A dificuldade de acesso do Partido dos Trabalhadores ao eleitorado evangélico, especialmente nas duas últimas eleições, tem sido o ponto de partida para diferentes iniciativas do partido. O mais recente é um diagnóstico feito pelo Centro Nacional dos Evangélicos do PT, e apresentado internamente na semana passada. Dada a atuação do PT nas eleições deste ano, a análise deste grupo foi de que é preciso investir tanto no relacionamento com pastores “da direita democrática”, quanto em recursos para futuras candidaturas de religiosos identificados com o partido. “Se cada cidade lançar um candidato a pastor pelo PT, isso rompe a bolha e é importante”, explica um dos integrantes da equipe, o pastor Oliver Goiano.

A análise foi feita com o objetivo de traçar diretrizes para o partido nos próximos anos —uma espécie de “olhar evangélico” interno sobre a postura do PT nas eleições municipais. Esse núcleo, responsável pelo diagnóstico, possui filiais nos estados brasileiros e é centralizado por uma coordenação nacional. Entre seus líderes está a deputada federal Benedita da Silva (PT/RJ). A leitura é que é preciso estabelecer pontes duradouras, que não se quebrem em tempos de crise do PT.

Entre os exemplos citados está a recente aproximação entre o governo federal e o deputado federal Otoni de Paula (MDB/RJ). Hoje ex-apoiador de Bolsonaro, como o próprio parlamentar se identifica, ele participou de um evento ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto, em outubro, o que lhe rendeu críticas dos seguidores de Jair Bolsonaro. A abordagem, apesar de ter ajudado o petista a “furar a bolha” com os fiéis, não foi realizada num modelo ideal, na opinião do núcleo partidário.

“Otoni está sendo defenestrado, mesmo com riscos eleitorais para ele, sem dúvida. Mas reconhecemos que parlamentares como ele, na primeira crise, abandonam o governo. A nosso ver, é preciso formar alianças com pastores de direita, mas que sejam pelo menos simpáticos ao governo Lula, e que tenham histórico de fazê-lo. Não é um novato ou alguém que está surfando onda, muitas vezes de forma oportunista”, afirma Goiano.

Uma forma de solidificar esse apoio evangélico, aponta a análise, seria investir nas candidaturas evangélicas do partido. Só assim, nesta perspectiva, seria possível competir com a máquina pública e formar uma base capaz de abrir caminho entre esses eleitores.

“Faltou um investimento maior em candidaturas ideológicas, mas no campo evangélico. O partido reconhece que esta é a última fronteira que precisa de abordar. Ao final, a maioria dos vereadores petistas eleitos já estavam no cargo ou eram secretários. Ou seja, eles tinham a máquina, muita gente trabalhando em seus escritórios e que ajudava na campanha, pedindo votos. Muitas vezes, não são votos ideológicos”, finaliza Goiano.