Novelas brasileiras pelo mundo: O Rei do Gado na M…

Novelas brasileiras pelo mundo: O Rei do Gado na M…



Não fazia nem uma hora que cheguei a Skopje, capital da Macedónia do Norte, era domingo à noite, sem lojas abertas, e a preguiça e o cansaço apenas pediam vinho e alguns petiscos no quarto do hotel, em vez de um restaurante .

Googlei. Os supermercados estavam todos fechados.

— Vou procurar algum mercado de imigrantes — disse ele, resoluto, para Mariana.

Aprendemos isso quando moramos na Itália. Nas grandes cidades, quando tudo está fechado, sempre existe o mercado de imigrantes. Estes funcionam de segunda a segunda-feira, até de madrugada. No balcão, às vezes é um chinês, às vezes um sul-americano, às vezes um paquistanês, às vezes um africano. O atendimento costuma ser gentil, às vezes desajeitado, e as prateleiras costumam exibir tesouros — já comprei farinha de mandioca em uma delas, vi Inka Kola em outra, provei coxinhas e me deparei com filtros de barro à venda, já comprei um estoque de especiarias orientais picantes.

Pesquisei no Google novamente. Encontrei um a 20 minutos a pé. Ótimo, pensei, será um passeio realista pela cidade, muito mais do que o passeio turístico do dia seguinte.

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Foi chamado Um grande amigoassim, em espanhol. Imaginei que devia ser de um boliviano, de um venezuelano ou de um guatemalteco. Torci pelo guatemalteco. Nunca estive na Guatemala, acho que nunca conversei com ninguém de lá. Não tenho amigos guatemaltecos, posso estar prestes a me conhecer um grande amigo de lá. Ou era apenas alguém extremamente alto?

O Google Maps não estava muito calibrado em Skopje. Onde apontava para o supermercado havia, na verdade, um cassino. Aberto, com escasso movimento de viciados em jogos, maltrapilhos e bêbados. Caminhei mais um pouco. Não encontrei o supermercado, valeu a pena a viagem inusitada. Se não encontrasse o supermercado, na volta parava em uma pizzaria que via aberta e decidia jantar “para levar” lá.

Da próxima vez virei à esquerda, saí da avenida principal e fui parar num beco. Muito escuro, típico de uma noite de outono numa cidade com pouca iluminação pública. O certificado de segurança era emitido repetidamente toda vez que me deparava com uma menina andando sozinha descuidadamente, uma criança correndo como se estivesse brincando com átomos e moléculas, um morador local falando ao celular, ninguém com mochilas na frente ou protegendo bolsas e bolsos.

Caminhei dois quarteirões pela ruazinha escura, observando a arquitetura das casas, tão parecidas com as do interior de São Paulo onde cresci que comecei a colecionar interjeições em meus pensamentos: a humanidade é mesmo uma mesmice, uma repetição de formatos, modelos, soluções.

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Na esquina, minúscula, havia uma pequena mercearia. Porta fechada por causa do frio, luzes acesas indicando pleno funcionamento. Era uma pequena propriedade de menos de 50 metros quadrados repleta de prateleiras desorganizadas, prateleiras com couves, tomates, batatas e maçãs. A placa continha, em alfabeto cirílico, as letras que formavam a expressão do título Um grande amigo. Ao fundo, um homenzinho de cabelos grisalhos e sorriso amigável, assistindo futebol em uma velha TV de tubo de 14 polegadas.

Deve ser meu amigo guatemalteco, pensei. O grande amigo guatemalteco, vislumbrei.

Digitei saudação em esloveno, sabendo que essas palavras básicas tendem a ser muito semelhantes em todos os países que compunham a Iugoslávia. OK, a Macedónia é uma excepção a esta regra, pois a maioria fala albanês, que não é uma língua eslava. Mas os residentes tendem a compreender o sérvio, especialmente os mais velhos. Fiquei pensando nisso tudo enquanto olhava os produtos, tentando reconhecer alguma marca latino-americana que completasse a história que já estava perfeitamente criada na minha cabeça. Um alfajor, talvez? Creme de leite? Paçoquinha brasileira? Um vinho argentino? Licor? Café guatemalteco? Chocolate guatemalteco?

Nada, os produtos eram todos balcânicos. A maioria dos rótulos estava em cirílico. Levei uma garrafa de vinho, uma garrafa de água, uma barra de chocolates e dois pacotes de salgadinhos. Fui ao caixa.

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Havia orgulho no nosso ‘soft power’

E aí, entre pegar o cartão e digitar a senha, fiquei amigo do Antonio. Nome raro por aqui, sublinhou ele mesmo, e emendou-o lembrando que é mais comum nos países latinos. E talvez daí tenha vindo o seu gosto pela cultura espanhola.

— Quando abri esse mercado, estava estudando um semestre de espanhol. É uma longa história, mas acabou sendo Un Amigo Grande.

O curso foi interrompido muito antes da fluência — pouco dinheiro e tempo para seguir a vida. Mas quando ele descobriu que eu era brasileiro ele disse “boa noite”, disse “obrigado”. Talvez ele até tenha dito “até logo”.

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— Você também fez curso de português? Perguntei.

Antonio me disse que não, mas que quando O rei do gado Passou na TV local e ele acompanhou todos os episódios. Religiosamente. E ele mergulhou nesse pedaço do Brasil.

Voltei para o hotel carregando minhas poucas compras e um enorme pacote de souvenirs. Isso nos deixou orgulhosos poder brando tão bem representado pelas novelas. Lembrei do meu amigo Mário Viana, dramaturgo que trabalha escrevendo novelas para a Globo. Lembrei-me de quando há 15 anos escrevi um artigo sobre Angola e ouvi de vários entrevistados a história de que o mercado público de Luanda se chamava Roque Santeiro por causa da novela com o mesmo nome. Um pouco mais tarde, quando fui para Cuba, almocei nos apalates — restaurantes que levam o nome da novela Vale tudo — e era sempre questionado por cariocas que, apanhados na trama do momento, queriam saber o que iria acontecer a seguir. Cidade Paraísoque era como a novela Paraíso acabou sendo chamado em países de língua espanhola.

E situações semelhantes aconteceram ao longo da rota Transiberiana anos mais tarde. Os russos adoram as novelas brasileiras. Aqui na Eslovênia, meu chefe na editora para a qual presto serviços de vez em quando me pergunta sobre alguma expressão tipicamente brasileira.

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—E onde você viu isso? — digo, ainda surpreso.

— Quando eu era adolescente, era completamente viciado em A Cor do Pecado

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