11/06/2024 – 17:56
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Tulia Ackson: mais mulheres no Parlamento poderiam levar a políticas mais robustas para enfrentar as alterações climáticas
Os parlamentares dos países do G20 defenderam mais participação das mulheres nas decisões sobre a crise climática global, uma vez que estão entre os grupos mais afetados pelos desastres ambientais.
Esse foi o tom da primeira sessão de trabalho do Fórum Parlamentar do G20, que trata das recomendações do 1º Encontro de Mulheres Parlamentares do P20, realizado em julho em Maceió (AL), formalizadas na chamada Carta de Alagoas. O tema da sessão foi “Promover a justiça climática e o desenvolvimento sustentável numa perspectiva de género e racial”.
A presidente da União Interparlamentar (UIP), Tulia Ackson, destacou que os efeitos da crise climática são sentidos mais pelas mulheres. Segundo ela, um terço das mulheres trabalham na agricultura a nível mundial, mas as mulheres rurais representam apenas 15% dos proprietários de terras e são mais propensas à insegurança alimentar. Ela também destacou que, até 2050, as alterações climáticas poderão empurrar mais de 158 mil mulheres e raparigas para a pobreza e também poderão levá-las a situações de maior violência.
De acordo com Tulia Ackson, mais mulheres no Parlamento podem levar a políticas mais robustas para combater as alterações climáticas. Por isso, ela defende a paridade de gênero na política.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Benedita: “As mulheres são responsáveis por encontrar alimentos e prestar cuidados nas tragédias”
Prioridades da Câmara
“Os desastres climáticos que testemunhamos afetam desproporcionalmente mulheres, crianças, idosos e outras populações vulneráveis”, pontuou a secretária da Mulher e coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Benedita da Silva (PT-RJ).
Para ilustrar essa situação, ela citou as recentes enchentes no Rio Grande do Sul e a seca nos rios amazônicos, além das queimadas no Pantanal e no cerrado, em que as populações ribeirinhas, quilombolas e das periferias das cidades foram as mais impactado. “As mulheres são as principais responsáveis por encontrar alimentos e prestar cuidados aos familiares e vizinhos e são também elas que precisam de lidar com as famílias”, disse ele.
Benedita da Silva citou iniciativas do Parlamento brasileiro sobre o tema, incluindo um projeto de lei para o manejo adequado do fogo; a regulamentação das atividades e políticas agrícolas para incentivar a conservação ambiental, como o pagamento por serviços ambientais; acesso ao crédito para atividades sustentáveis; e a inclusão das mulheres no ecoturismo, na agricultura sustentável e nas iniciativas de gestão de recursos hídricos. Ela destacou a importância do papel das mulheres das comunidades tradicionais e rurais na gestão sustentável. E também a garantia de saúde à população negra, com políticas que reduzam o racismo ambiental.
Política de Cuidados
A senadora Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina no Senado, disse que o ponto central da Carta de Alagoas é “a necessidade de direcionar os investimentos para políticas climáticas sensíveis a gênero”. Na avaliação do parlamentar, as mulheres e as populações negra e indígena devem ser protagonistas nos espaços de decisão climática, desde a criação da política até a sua implementação.
Outro ponto central da Carta de Alagoas, segundo a senadora, é a adoção de medidas que valorizem os cuidados não remunerados e o trabalho doméstico, realizado principalmente por mulheres. “Precisamos de financiamento público para criar um sistema de cuidados acessíveis que promova a segurança económica das mulheres e raparigas”, argumentou. Ela lembrou que cerca de metade dos lares brasileiros são liderados por mulheres, 60% das quais são negras, e elas enfrentam o desafio de garantir o sustento familiar.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), 2ª secretária da Mesa Diretora da Câmara, destacou, entre as recomendações contidas na Carta de Alagoas, instar os estados do G20 a reconhecerem a centralidade dos direitos econômicos das mulheres para o alcance da Agenda 2030 e os objectivos do desenvolvimento sustentável da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Tatiana Sakharova destacou cooperação internacional na busca por energia verde
Prioridades do país
A senadora russa Tatiana Sakharova destacou a importância da cooperação internacional para a agenda ambiental e, entre as prioridades da Rússia nesta agenda, citou a neutralidade carbónica e a procura de “energias verdes”, como a energia nuclear, eólica e solar.
Maria Emília Cerqueira, parlamentar de Portugal, disse que o país está comprometido com a Agenda 2030 das Nações Unidas. Reiterou que as raparigas e as mulheres são as primeiras a serem afectadas pelo aumento da pobreza e do desemprego e destacou a importância da educação para inverter esta situação.
O vice-presidente do Senado da Índia, Shri Harivansh, também afirmou que o país está comprometido com a justiça e a equidade climáticas. Ele citou, entre as iniciativas no país, um programa de modernização das práticas agrícolas voltado para as mulheres. Outras prioridades são aumentar a produção de energia renovável e reduzir as emissões de carbono.
Para o deputado sul-africano Mikateko Golden Mahlaule, a justiça climática não pode ser alcançada se os pobres e marginalizados – a maioria dos quais são mulheres e crianças – não forem incluídos nas decisões políticas. A redução das emissões de carbono também está entre as prioridades do país.
Relatório – Lara Haje
Edição – Georgia Moraes
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