Na semana em que uma reunião da cúpula do PT terminou com lavação de roupa suja entre suas lideranças, uma das estrelas da nova geração do partido foi recebida discretamente no Palácio do Planalto

Na semana em que uma reunião da cúpula do PT terminou com lavação de roupa suja entre suas lideranças, uma das estrelas da nova geração do partido foi recebida discretamente no Palácio do Planalto


Em meio à crise do partido devido ao seu fraco desempenho nas eleições, os jovens querem acelerar a renovação do partido. (Foto: Reprodução/Instagram)

Na semana em que uma reunião de cúpula do PT terminou com lavagem de roupa suja entre seus dirigentes, uma das estrelas da nova geração do partido foi recebida discretamente no Palácio do Planalto. Enquanto um episódio é resultado do fraco desempenho eleitoral nas urnas, o segundo aponta para o espaço que a juventude petista luta para conquistar.

Três dias depois da briga na cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma das estrelas da nova geração do partido, Pedro Rousseff, sobrinho-neto da ex-presidente Dilma Rousseff. Aos 24 anos, foi eleito o sexto vereador mais votado (17,6 mil) de Belo Horizonte (MG), e hoje faz parte do seleto grupo de jovens petistas que venceram nas urnas.

Os novos dirigentes petistas veem a eleição como um sinal amarelo para 2026, querem mais espaço e acelerar a tímida renovação da sigla – nas dez maiores capitais do país, 5,7% dos 35 vereadores eleitos pelo PT têm menos de 30 anos enquanto o PL de Jair Bolsonaro, a proporção é de 10,6% entre os 47 eleitos. Defendem também uma ligação direta com novas formas de trabalho, como motoristas de aplicativo e microempreendedores individuais, MEIs.

Diferenças

Apesar do objetivo comum, os novos dirigentes têm conclusões diferentes sobre o tratamento que deve ser dado às demandas relacionadas às identidades, especialmente gênero, raça e sexualidade. Pedro diz que esse é um assunto importado dos Estados Unidos e que a esquerda brasileira deveria se dedicar mais aos “empreendedores individuais”.

“Agora estamos preocupados com 2026. Nosso discurso não precisa mudar para a direita, mas estar direcionado para as demandas que a população necessita. Falando em questões de identidade, o movimento wake, isso tem que ser remodelado. O PT tem que voltar a ser o que era antes: falar de emprego, de renda, de transporte, de meio ambiente, de empreendedorismo social”, afirma.

A questão virou casca de banana para a esquerda e usada como munição pela extrema direita. Na campanha para a Prefeitura de São Paulo, apoiadores de Bolsonaro atacaram a esquerda com zombarias e ataques após o hino nacional em linguagem neutra ter sido tocado durante comício de Guilherme Boulos (PSOL). Pablo Marçal (PRTB) apelidou-o de “Boules”.

Luna Zarattini, a vereadora de 30 anos mais votada (101 mil) do PT em São Paulo, e para quem a eleição trouxe vitórias ao mesmo tempo que fez um alerta ao partido, diz que a esquerda precisa de um projeto de futuro, o que hoje não consegue apresentar. Para ela é possível popularizar o feminismo, a luta antirracista e a agenda LGBT sem abandonar o discurso da renda e do emprego. Brisa Bracchi, de 26 anos, sétima mais votada em Natal com 6,8 mil votos, segue a mesma linha ao afirmar que é preciso “mostrar como essas agendas não são antagônicas, mas complementares”. Ela diz sentir que a demanda dos trabalhadores autônomos teve uma presença inédita nas campanhas municipais da esquerda neste ano.

“Foi percebido por ambos os lados do espectro político que esse novo perfil (de trabalhadores informais) compõe a classe trabalhadora e necessita de uma ação de políticas públicas muito forte, porque tem essencialmente uma relação (trabalhista) frágil com as corporações transnacionais e a ausência de uma política de estado”, diz ela.