Presidenciáveis mostram força em seus estados e re…

Presidenciáveis mostram força em seus estados e re…


Sob chuva, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) improvisou boné e capa para seguir viagem por uma feira, onde abraçou e beijou apoiadores e pediu votos para seu aliado em Goiânia. Também encharcado, neste caso pelo suor causado pelo calor, Tarcísio de Freitas (Republicanos) teve bom desempenho em seus discursos nos palanques e chegou a ser visto tocando tam-tam em uma roda de samba em São Paulo. Ratinho Junior (PSD), por sua vez, liderou uma carreata em cima da traseira de uma caminhonete para pedir votos aos moradores e também investiu em visitas a líderes religiosos em Curitiba. Confundindo-se com os próprios candidatos, o trio de governadores mergulhou fundo nas campanhas municipais deste ano e, com isso, conseguiu formar um amplo arco de apoio entre os prefeitos de seus estados. Para os governadores, eleger seus alunos foi mais que um desafio. Foi também uma prova de prestígio, capacidade e força para 2026. Pode-se dizer que os três foram aprovados com louvor.

Filiados a partidos diferentes, Tarcísio, Caiado e Ratinho têm semelhanças. Os três têm altos índices de aprovação, defendem uma agenda conservadora, pertencem a partidos que integram o governo federal e, apesar disso, cogitam a possibilidade de concorrer à Presidência da República em oposição a Lula. As eleições municipais serviram de teste. Em São Paulo, Tarcísio foi o principal coordenador da candidatura de Ricardo Nunes (MDB), reeleito no segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL) por considerável diferença de votos. Em seu discurso de vitória, o prefeito agradeceu ao governador, chamou o “líder maior”, e destacou que sem ele o resultado não teria sido possível. Tarcísio aproveitou o momento para dar um recado: “Essa é uma vitória que ensina muita coisa para muita gente. Tem muita gente que abandonou os mais humildes, que se preocupa com a identidade, mas isso não resolve nada, não enche a barriga, não resolve o problema”, disse o governador.

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Ratinho Jr. (./Divulgação)

arte presidencial

A partir do próximo ano, nada menos que 97,5% das cidades paulistas serão comandadas por aliados do governador paulista — uma demonstração inequívoca de força política. Tarcísio liderou uma frente de onze partidos de centro e de direita, esteve pessoalmente comprometido com a campanha emedebista, especialmente num momento de turbulência, e impôs ao campo de esquerda, particularmente ao PT, a maior derrota regional do partido desde que disputou as primeiras eleições municipais. A supremacia alcançada no colégio eleitoral que reúne um quinto de toda a população do país consolidou a posição do governador como personagem capaz de influenciar daqui para frente o cenário político nacional, inclusive com uma candidatura ao Planalto. Ele, no entanto, recusa-se a especular sobre esta hipótese. Para pessoas próximas, ele costuma repetir que é muito jovem e não se aventuraria em uma disputa com Lula, arriscando sua reeleição em 2026. Além disso, afirma, deve lealdade ao seu mentor, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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No Congresso, importantes lideranças não escondem que já existe um movimento para concretizar a candidatura do governador. Um dos políticos mais influentes da Câmara diz, com ressalvas, que deputados e senadores têm sido procurados por importantes empresários que tentam convencê-los a abraçar a ideia agora. Dirigentes do chamado Centrão confidenciam que esperam um sinal de Tarcísio, ainda que indireto, até junho do próximo ano. Aliados de Jair Bolsonaro já perceberam esses sinais. O ex-presidente, inelegível, ainda acredita que o Congresso pode aprovar o projeto que prevê uma anistia que beneficiaria ele e outros envolvidos nos ataques e golpes de 8 de janeiro, devolvendo-lhe os direitos políticos e permitindo-lhe voltar a concorrer ao cargo. Presidência. A consolidação de uma possível candidatura a governador de São Paulo poderia desanimar muitos que hoje ainda acreditam nessa possibilidade. Por causa dessas arestas, Tarcísio, sempre que pode, fala sobre seus planos, ao contrário de Ratinho e Caiado.

Ronaldo Caiado
Ronaldo Caiado (@sandromabeloficial/Instagram)

arte presidencial

Eleito duas vezes no primeiro turno, o governador do Paraná também obteve êxito na disputa municipal deste ano, vencendo 257 das 399 cidades. Na capital, Eduardo Pimentel manteve a hegemonia do PSD e foi eleito no segundo turno com 57% dos votos contra Cristina Graeml (PMB). O papel de líder eleitoral coube ao governador, que aproveitou a campanha de seu aliado para expor números de sua gestão, promovida pelo slogan “Modelo Paraná”. A VEJA, Ratinho Junior disse ser contra uma aliança entre seu partido e Lula em 2026 e indicou que pode se apresentar como uma opção para o Brasil. “Naturalmente quem é governador de um estado importante como o Paraná, que tem tido bons resultados, acaba entrando no conselho. Claro que se trata de uma construção que não é simples, mas quero colaborar com um novo projeto para o país”, afirmou.

Dos três governadores, Ronaldo Caiado é o único que não hesita quando questionado sobre os seus planos. Em uma queda de braço diretamente com Bolsonaro, elegeu o também eleitor Sandro Mabel na prefeitura de Goiânia com 55% dos votos contra Fred Rodrigues (PL), apoiado pelo ex-presidente, e alcançou 212 aliados em 246 cidades. A próxima disputa, agora, é interna. O problema é que o seu partido, o União Brasil, é parceiro do governo federal, assim como o PSD de Ratinho e os Republicanos de Tarcísio. A diferença é que o governador quer consolidar neste momento sua candidatura contra o petista, o que criaria uma situação estranha: ele trabalhando para derrotar Lula enquanto seu partido ocupa três ministérios no mesmo governo Lula. Essa aliança, porém, teria prazo de validade. “A posição do partido será lançar candidato a presidente”, garante. “E eu serei o candidato”, garante.

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PODER – Lira, atual presidente da Câmara, e Motta, candidato a sucedê-lo: centro e direita no comando do Congresso
PODER – Lira, atual presidente da Câmara, e Motta, candidato a sucedê-lo: centro e direita no comando do Congresso (Pedro Ladeira/Folhapress/.)

O governador pretende começar a visitar os estados no próximo ano e mostrar algumas vitrines de Goiás, como avanços em segurança e educação. O discurso já está na ponta da língua. “Sou um bom gestor. Goiás tem apenas 7 milhões de habitantes, mas tenho competência para implementar nossas políticas de sucesso em todo o país”, afirma. “Esta eleição mudou a correlação de forças, o que significa que é preciso repensar as alianças de médio e longo prazo. Bolsonaro não pode concorrer. Isso fará com que apareçam vários candidatos”, afirma Alberto Aggio, professor de ciência política da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Os analistas alertam ainda para outro detalhe que não deve ser ignorado. A princípio, a fusão com as pupilas serve como demonstração de força. No futuro, isso pode se transformar em um problema. “Se, por exemplo, a gestão de Ricardo Nunes for ruim, o eleitor pode optar por punir o grupo que o apoiou, ou seja, Tarcísio, não votando nele em 2026”, explicou Fernando Guarnieri, professor de ciência política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

As engrenagens que movimentarão a disputa em 2026 já começaram a funcionar. Em fevereiro do ano que vem, por exemplo, a Câmara elegerá seu novo presidente. O atual, Arthur Lira (PP-AL), anunciou, nesta terça-feira, 29, o deputado Hugo Motta, líder do Republicanos, como o parlamentar que tem melhores condições para assumir o cargo, considerado o terceiro mais importante da República. O presidente da Câmara pode acelerar e arquivar projetos importantes. Pode, portanto, facilitar ou dificultar a vida do Presidente da República. Motta é o favorito, pertence ao mesmo partido de Tarcísio de Freitas, tem perfil conservador semelhante ao do governador e fez parte da base de apoio de Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, é um político tradicional, do tipo que não mede esforços para manter relações amistosas com quem está no poder. Existem muitas possibilidades para um jogo que ainda está engatinhando. Mas é indiscutível o fato de os três governadores terem aumentado seus recursos para entrar na disputa.

Victoria Bechara colaborou

Publicado em VEJA em 1º de novembro de 2024, edição nº 2.917



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