Funcionário preso por roubar material hospitalar d…

Funcionário preso por roubar material hospitalar d…


A prisão de um funcionário da Prefeitura de Paracambi, no dia 11 de outubro, após roubar materiais hospitalares da sede daquele município, expôs ligações suspeitas com o grupo político que governa a cidade, na Baixada Fluminense.

Um funcionário preso no dia 11 de outubro por roubar materiais hospitalares da Prefeitura de Paracambi, onde trabalha, tem ligações com o grupo político que governa a cidade, na Baixada Fluminense. Abordado pela polícia em uma via expressa da Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, Claudio Tokwikawa Moura Sá de Souza foi flagrado naquele dia com milhares de mantimentos que pertenciam ao município, guardados no porta-malas do carro que dirigia. Questionado pelos agentes, ele afirmou que levava os produtos para um hospital de uma cidade vizinha, no caso, Belford Roxo, também na Baixada Fluminense. Lá, sua esposa é sócia de uma maternidade controlada há anos pelo ex-deputado federal Dr. Flávio (PL), marido da atual prefeita de Paracambi, Lucimar Ferreira (PL).

Chefe do almoxarifado da Prefeitura de Paracambi há 7 anos, Claudio Tokwikawa foi filmado, em vídeo ao qual VEJA teve acesso, colocando sacolas plásticas, que trazia do almoxarifado municipal da cidade, no porta-malas de seu carro. Minutos depois, enquanto dirigia pela Rodovia Presidente Dutra, ele foi abordado por policiais, que pediram que ele parasse o veículo, e o prenderam em flagrante.

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A abordagem foi resultado de uma denúncia anônima feita contra o funcionário. No porta-malas do carro estavam remédios, 2 mil luvas, 900 jalecos, 650 seringas, 300 cateteres, além de gases, coletores, esparadrapos e agulhas —alguns, aliás, ainda etiquetados com a identificação da Secretaria de Saúde de Paracambi , o que levou à sua prisão em flagrante.

Conforme consta dos autos, no momento em que foi abordado, Tokwikawa alegou ter adquirido os materiais sem nota fiscal. Disse ainda “que levaria o produto para Belford Roxo em hospital não divulgado”.

Ao ser abordado, Tokwikawa disse à polícia que levaria o material para um hospital em Belford Roxo, conforme detalhou um dos agentes em sua audiência de custódia. (Reprodução/.)

No seu depoimento, no dia seguinte, 12 de outubro, afirmou que conhecia, em consequência do seu trabalho, “vários fornecedores de materiais hospitalares” e que “sempre que pode compra materiais hospitalares para seu uso”, sabendo que em desta forma ele poderá adquiri-los por “valores que estariam bem abaixo do mercado”. Tokwikawa disse ainda que tem o hábito de comprar insumos para “fazer doações a entidades filantrópicas”. Ele afirmou ainda que levaria os materiais para sua casa — em uma versão diferente da que contou aos agentes — e negou que tenham sido desviados do local onde trabalha.

Ao final do depoimento, porém, sua prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva pela juíza Daniele Lima Pires Barbosa, que conduzia a audiência. Considerou tratar-se de “crime grave, em que o zelador, funcionário público, de forma consciente e voluntária, se apropriou de bens móveis públicos que possuía em virtude do seu cargo”. A decisão veio ao encontro do solicitado pelo Ministério Público, que esteve na posse dos vídeos que captaram o crime e também participou no procedimento.

Conexões políticas

Como Tokwikawa deixa claro em suas redes sociais, ele é casado com Maila Haddad da Silva. A mulher, conforme afirma a Rede Nacional de Simplificação de Registro e Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), é uma das sócias da Casa de Saúde e Maternidade Belford Roxo, localizada na mesma cidade onde, segundo o polícia, Tokwikawa Ele disse em sua abordagem que aceitaria as contribuições.

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A Casa de Saúde e Maternidade Belford Roxo tem como sócia a esposa de Tokwikawa, Maila Haddad da Silva
A Casa de Saúde e Maternidade Belford Roxo tem como sócia a esposa de Tokwikawa, Maila Haddad da Silva (Reprodução/.)

Este hospital, no entanto, também tem ligações com políticos da região. A maternidade pertenceu, no passado, ao ex-deputado federal Dr. Flávio (PL). Chegou a declarar a vaga entre seus bens nas eleições de 2008, quando concorreu à prefeitura de Paracambi. O ex-parlamentar também é irmão do deputado estadual e secretário de Agricultura do governo do estado, Dr. Deodalto, que também participou da parceria com ele.

Hospital foi declarado patrimônio de Dr. Flávio em eleições passadas
Hospital foi declarado patrimônio de Dr. Flávio em eleições passadas (Reprodução/.)

Flávio e Deodalto se separaram — ao menos formalmente — da Casa de Saúde após um escândalo, que esteve na mira do Ministério Público Federal. Eles foram condenados pela Justiça Federal “por contratar pessoas sem qualificação para exercer a medicina e por usar o hospital para captar votos em troca de tratamentos médicos”, entre 2007 e 2008. Basicamente, os dois usaram recursos do SUS direcionados à maternidade para realizar laqueaduras tubárias. aos pacientes em troca de apoio político e votos. Após a primeira condenação, porém, foram absolvidos em segunda instância.

Tokwikawa, por sua vez, possui um relacionamento próximo com políticos nas redes sociais. Em seu perfil no Instagram, ele publicou uma foto de uma comemoração de Natal com “família e grandes amigos” —incluindo o Dr. Flávio, que aparece no registro. Em postagem no Facebook, Dr. Deodalto parabeniza a cidade de Paracambi pelo seu 63º aniversário. E Tokwikawa responde: “Parabéns Paracambi. E obrigada por me acolher durante esses anos e pelos amigos que fiz. Também um abraço e parabéns ao nosso prefeito”, escreveu, em referência a Lucimar Ferreira, esposa do Dr. Flávio.

Foto publicada no Instagram mostra que Tokwikawa passou o Natal com Dr. Flávio
Foto publicada no Instagram mostra que Tokwikawa passou o Natal com Dr. Flávio (Reprodução/.)

Outra coincidência que liga Tokwikawa a esse grupo político está no advogado por ele contratado para defendê-lo neste caso de materiais hospitalares: Erik de Souza Pereira, que também defendeu a candidata do PL deste ano à Prefeitura de Paracambi, Aline Benevenuto – apoiadora e apoiado pelo Dr. Flávio, Dr. Deodalto e Prefeita Lucimar Ferreira. O advogado também é diretor administrativo da Pesagro, empresa pública vinculada à Secretaria de Agricultura, chefiada pela Deodalto.

Tentativas falhadas

Preso desde 11 de outubro, Tokwikawa vem tentando, desde então, reverter sua prisão preventiva na Justiça — até o momento, sem sucesso. No primeiro pedido de habeas corpus apresentado no Tribunal de Justiça do Rio por sua defesa, o juiz Luiz Zveiter não o deferiu, quando solicitou mais informações sobre o caso ao juiz de primeira instância.

Mesmo assim, antes de essa resposta ser concedida, foi protocolado um segundo pedido de Habeas Corpus, desta vez no Superior Tribunal de Justiça. Mais uma vez, porém, sem sucesso. Esse pedido sequer foi analisado pelo ministro Og Fernandes, que considerou que o advogado estaria pulando a instância anterior, a do Tribunal de Justiça do Rio.



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