Na reta final do segundo turno em São Paulo, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) foi à capital paulista e se dedicou à campanha para deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura. Em parte, atribui a derrota à falta de unidade dos partidos que compunham a frente ampla que elegeu Lula em 2022, como a candidatura de Tabata Amaral pelo PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França (Empreendedorismo).
Paulo Teixeira também é irmão do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, que foi candidato pelo Partido dos Trabalhadores em São Bernardo do Campo. No berço político de Lula, o partido do presidente não conseguiu avançar ao segundo turno, terminando em terceiro lugar nas eleições com 23,09% dos votos válidos, numa disputa acirrada. Concorrentes na etapa decisiva, o vice-prefeito Marcelo Lima (Podemos) obteve 28,64% e o deputado federal Alex Manente (Cidadania) teve o apoio de 26,53% dos eleitores —Lima foi eleito no segundo turno.
Em entrevista a VEJA, Paulo Teixeira avaliou que as pesquisas de 2024 mostraram que o PT deve fazer ajustes e dar mais atenção a três segmentos: os empresários, com políticas específicas para esta categoria; os jovens, através da comunicação que deve passar por uma transição para o digital; e pessoas religiosas. Outro desafio destacado pelo ministro é enfrentar a rejeição do partido.
Confira os principais trechos da conversa:
O que faltou para a eleição de Guilherme Boulos? É muito difícil destituir um prefeito, mas também, a aliança que foi construída na eleição de Lula não aconteceu nesta eleição. Estávamos divididos, Tabata era candidato. Não tínhamos uma unidade.
O PT fez certo ao apoiar Boulos em São Paulo? Foi certo desistir do nosso próprio candidato e apoiá-lo. O PT teve um bom grupo de vereadores, com votação expressiva. Como (Fernando) Haddad é nacional, nas últimas eleições foi candidato a governador, Boulos é o grupo mais forte da esquerda que quer concorrer a prefeito de São Paulo e ganhou força nessas eleições.
Alguns membros do partido pensam que as alianças deveriam ser com o centro. Por que São Paulo foi diferente? Fizemos alianças mais próximas do centro sempre que possível. Foi o caso do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte no segundo turno. Em São Paulo, não foi possível apoiar uma candidatura com Bolsonaro presente.
Em São Paulo, Bolsonaro chegou primeiro na conversa com os partidos centristas? Já tínhamos compromisso com o Boulos, ele participou da nossa aliança nacional, e não cabe apoiarmos uma candidatura com Bolsonaro presente.
Boulos perdeu em redutos onde o PT vencia, como a Zona Sul da cidade. O partido perdeu influência nessas regiões? Com esse caminhão de dinheiro que o prefeito tinha no setor público, ele disputou essas regiões. Não perdemos a força que temos na periferia, mas temos que nos organizar e ampliar essa força.
A partir de agora, há espaço para Boulos ser integrado ao governo? Não tenho legitimidade para falar em integração no governo porque não sou o presidente. Boulos deverá persistir na intenção de concorrer à prefeitura de São Paulo. Siga o caminho de quem quer governar a cidade. Os votos das nossas bancadas na Câmara Municipal devem corresponder a esta vontade de governar no futuro. Exigir as promessas de Ricardo Nunes, aprofundar os debates sobre a transparência e a incómoda presença de pessoas na gestão que remetem para as relações com o crime organizado. A campanha eleitoral de Boulos precisa continuar. Você não pode baixar a guarda.
No ABC paulista, seu irmão foi candidato em São Bernardo do Campo, o PT também não conseguiu ter o controle que já teve. Por que? O PT não perdeu o controle, mas não esteve no governo local. A economia vai bem, o desejo de mudança surge quando não vai bem. As prefeituras têm caixa cheio, têm recursos do PAC, têm recursos de emendas. Tudo isso aconteceu em São Bernardo.
Qual é o desafio para renovar quadros de esquerda? O grande esforço é atrair os jovens. Em parte, os jovens compareceram às eleições em diversas campanhas, mas em parte não compareceram. Isto passa por aprofundar uma mudança comunicacional, de forma a fazer esta transição para a comunicação digital.
Que lições os resultados das pesquisas ensinaram ao PT? O primeiro desafio é esta nova economia, que emerge da economia digital e do empreendedorismo. Esses segmentos não receberam o tratamento que mereciam. Em segundo lugar, é lidar melhor com a nossa rejeição. Existe uma indústria de calúnias e temos que lidar com isso. E por fim, o PT deve prestar muita atenção às religiões. Tivemos resistência em diversas igrejas, em todas as igrejas, não só nas evangélicas, digo em todas as religiões.
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