Acordo na Câmara: PT de Lula e PL de Bolsonaro ago…

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O PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro agora são aliados. Líderes das bancadas dos deputados federais dos dois partidos anunciaram a união, com o patrocínio de Arthur Lira, presidente da Câmara: pretendem eleger Hugo Mota, dos Republicanos da Paraíba, no comando da Câmara em fevereiro.

Lula e Bolsonaro souberam e acompanharam a negociação, assim como Valdemar Costa Neto, dono do PL. Eles não vetaram e evitaram comentários sobre o anúncio feito nesta quarta-feira (30/10).

Em público, PT e PL costumam se apresentar como polos diametralmente opostos, à esquerda e à direita. Eles freqüentemente colidem em confrontos de retórica irada no plenário da Câmara.

Lira conseguiu atraí-los para uma aliança improvável. Aparentemente, não é coerente com os objetivos de Lula no governo, de Bolsonaro na oposição, ou mesmo de ambos no jogo que se inicia para a disputa eleitoral de 2026.

Acordo é compromisso. PT e PL decidiram combinar os 160 votos de seus deputados (70 petistas, 90 liberais e extremistas) para aclamar Mota em eleição que só acontecerá dentro de três meses, e com outros dois candidatos na disputa – o deputado baiano Elmar Nascimento, do União Brasil, e Antônio Brito, do PSD.

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A presidência da Câmara tem papel relevante não só pelo seu poder sobre a agenda de votação, mas também pela sua posição estratégica na linha sucessória – logo após o vice-presidente da República, conforme determina a Constituição.

São circunstâncias que tornam única a aliança entre adversários, habituados a serem tratados como inimigos, para apoiar uma candidatura doze semanas antes da votação interna. Na política, noventa dias equivalem a uma eternidade. Neste caso, a antecipação pode ser interpretada como precipitação interessada.

A princípio, ela garante a Lira um espaço privilegiado para conduzir sua própria sucessão. Não são conhecidos detalhes da proposta aceita pelo PT e PL, mas sabe-se que o acordo inclui cargos responsáveis ​​pela burocracia da Câmara, principalmente na Mesa Diretora, e em comissões parlamentares.

O principal é a partilha do dinheiro das emendas ao Orçamento da União – equivalente a 20% dos recursos totais para investimentos federais – gerido de forma pouco transparente e, portanto, sem controle efetivo.

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A lógica dominante no Congresso é o acesso ao orçamento. Como disse Jilmar Tatto, secretário do PT, ao repórter Paulo Montoryn, “essa coisa de emenda ajuda muito”.

A aliança entre PT e PL patrocinada por Lira não se baseia em quaisquer ideias e propostas de interesse público do deputado Mota como aspirante à presidência da Câmara. Baseia-se em acordos sobre alterações parlamentares.

No desenho de Lira, ele será o árbitro da distribuição. Se tudo correr bem, regressaria ao plenário em fevereiro como o mais influente dos deputados, tendo escolhido o seu sucessor e mantendo o controlo do acesso aos fundos orçamentais.

A aliança é pragmática, não impede que o PT e o PL de Lula Bolsonaro continuem a se tratar publicamente como inimigos, e lembra a Machado de Assis: não é preciso ter as mesmas ideias para dançar a mesma quadrilha.



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