29/10/2024 – 17h08
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Lafayette de Andrada e Silvia Waiãpi na reunião da comissão
Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (29), representantes de micro e pequenos geradores de energia elétrica acusaram as distribuidoras de energia de concorrência desleal. O debate foi realizado pela Comissão de Minas e Energia a pedido da deputada Silvia Waiãpi (PL-AP).
Pela legislação em vigor, empresas ou pessoas que instalem painéis solares para gerar energia elétrica podem solicitar a ligação ao sistema de distribuição para oferecer ao mercado o que não consomem.
Segundo os participantes do debate, porém, as distribuidoras de energia elétrica estão formando subsidiárias para gerar energia alternativa, principalmente a partir de fontes solares, e criando dificuldades para a integração dos pequenos produtores no sistema nacional.
Monopólio
O presidente da Associação Movimento Solar Livre (MSL), Hewerton Martins, sustentou que as concessionárias de distribuição estão monopolizando o setor de geração distribuída e aniquilando os pequenos geradores. Segundo relatos, a distribuidora veta projetos de pequenos geradores, alegando problemas técnicos de conexão à rede, mas depois vende o serviço aos consumidores.
O presidente executivo da Frente Mineira de Geração Distribuída (FMGD), Wedson dos Reis Alves da Silva, deu um exemplo dessa forma de atuação das distribuidoras.
“O integrador havia procurado a universidade para fazer a instalação, propôs o projeto, assinou o contrato com aquela universidade e, algum tempo depois, recebeu resposta da Cemig Distribuição dizendo que era impossível, cobrando R$ 4 milhões para fazer a rede melhoria para inserção neste sistema. Dois meses depois, um sistema já estava sendo instalado pela própria Cemig”, disse.
Para o presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, “não parece fazer sentido” que quem controla a rede também atue na geração e tenha o poder de decidir quem pode entrar ou não nesse mercado.
Falta de igualdade
Na audiência, os participantes debateram o Projeto de Lei 671/24, do deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG), que proíbe concessionárias de distribuição de atuarem também na geração elétrica. O relator da proposta, deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), concorda que esta situação compromete a igualdade entre as empresas do setor.
“Não me parece isonómico e, para mim, é uma afronta à ordem económica, à livre concorrência, que o mesmo grupo que explora uma actividade económica seja o árbitro que autoriza ou não o seu concorrente a exercer essa mesma entidade económica ”, disse ele.
Ainda segundo Lafayette de Andrada, a lei que trata de outorgas e concessões de distribuição de energia proíbe que uma mesma empresa atue na distribuição e na geração elétrica.
Crescimento de geração
Segundo os debatedores, os pequenos e médios geradores já são responsáveis pela produção de energia equivalente à gerada por duas Itaipus e meia. Segundo disseram, o país tem quase 100 milhões de sistemas de geração instalados em praticamente todos os municípios, e o setor emprega mais de 800 mil pessoas.
O gerente da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares, destacou que em apenas cinco anos, entre 2017 e 2023, o setor de geração distribuída cresceu 2.700%. O especialista afirma que esse é um dos motivos pelos quais as distribuidoras negam a integração de novos micro e pequenos geradores de energia ao sistema.
Devido a esse rápido crescimento da geração, haveria uma sobrecarga nos sistemas de transmissão, o que inviabiliza a integração de novos geradores.
Felipe Tavares destacou ainda que os pequenos produtores saem da base de clientes das distribuidoras de energia. Como resultado, as empresas terão de repassar o aumento dos custos a todos os demais consumidores. Segundo ele, essas mudanças poderão afetar especialmente os mais pobres.
“Vamos flertar com tarifas altíssimas por muito, muito tempo. Isso é um risco grande, porque os pequenos negócios, os microempreendedores, não consomem livremente, estão no mercado cativo. E é muito provável que permaneçam no mercado cativo. Porque às vezes R$ 10, R$ 12 mil para fazer um painel solar é o capital social da empresa inteira”, explicou.
O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, também citou a sobrecarga na rede como motivo para as concessionárias negarem a integração de novos geradores ao sistema. Além disso, Madureira afirmou que, com o aumento da geração, em determinados momentos já há sobra de energia no Brasil. Como essa eletricidade não pode ser armazenada, ela é descartada.
Reportagem – Maria Neves
Edição – Ana Chalub
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