Bento Veiga, de ‘Pedaço de Mim’: “Minha deficiênci...

Filho de comerciantes e nascido no Rio de Janeiro, Bento Veiga foi diagnosticado com retinite pigmentosa aos 3 anos de idade. A descoberta precoce permitiu-lhe submeter-se a tratamentos que o ajudaram a não perder completamente a visão. A condição não o impediu de se dedicar à música, e o carica aprendeu a cantar e tocar diversos instrumentos. A vida do artista deu uma guinada quando o músico foi convidado para ser consultor da novela Pedaço de mimsucesso da Netflix lançado este ano, no qual interpreta DJ Inácio, que também tem retinite pigmentosa. Em entrevista a VEJA, Veiga falou sobre sua trajetória pessoal e o desafio de estrear no audiovisual com a trama protagonizada por Juliana Paes.

Confira a entrevista completa:

Quando você se interessou por música? Eu devia ter uns 8 anos quando estava no carro com minha mãe e ela tocou We Are The Champions, do Queen, uma música linda. Lembro-me perfeitamente dos primeiros acordes, das primeiras frases, e foi aí que me apaixonei pela música. Com o tempo me interessei por tocar instrumentos e comecei a ter aulas de canto também. Hoje sei tocar violão, um pouco de violão, contrabaixo, piano e acordeão.

Em Pedaço de mimvocê interpreta Inácio, um DJ que tem o mesmo problema que você, retinite pigmentosa. Como você ingressou no projeto? A princípio fui convidado por uma pessoa da produção que conhecia meu trabalho na música para ser consultor na construção do personagem, que tinha uma condição visual parecida com a minha e também tinha uma relação com a música como eu. Durante o processo surgiu a oportunidade de fazer um teste para interpretá-lo e me convenceram a tentar. Eu fiz isso e acabei passando. Foi uma grande oportunidade, ainda mais pela questão da representatividade, porque tenho um espaço para falar sobre deficiência visual. E até então eu me considerava apenas um ator de profissão, só tinha feito teatro, me dedicava apenas à música, e de repente estreei na Netflix.

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Como foi interpretar um personagem que, goste ou não, faz você revisitar sua própria história, desde o diagnóstico infantil até a vida adulta e suas complicações? Foi um momento muito interno de me conhecer melhor, o Inácio até me fez evoluir um pouco mais, porque ele é um personagem que também tem muitas camadas, medos, anseios, vontades.

Trabalhar com grandes atrizes consagradas, como Juliana Paes e Palomma Duarte — tia e mãe de Inácio na série, respectivamente — foi intimidante? Nossa, um desafio enorme. Eles têm muita experiência, talento e me ajudaram muito a trabalhar duro para fazer um bom trabalho. São pessoas muito talentosas e especiais, foi uma responsabilidade enorme, mas foram muito generosos comigo também. Tínhamos uma química forte e aprendi muito.

Como artista com baixa visão, lido como PCD (pessoa com deficiência), o que você espera dos estúdios e emissoras em termos de inclusão no audiovisual no futuro? Quero ver cada vez mais PCD podendo atuar e podendo sonhar, que cada vez mais pessoas também possam participar de algo assim, como o Pedaço de Mim, porque sabemos que normalmente não é assim que acontece. Muitas vezes uma pessoa que é PCD é representada por uma pessoa que não é, então espero que haja mais casos para gerar mais representatividade, para que pessoas como nós se sintam representadas na tela, para que possam se ver ali naquele lugar. E tem outra coisa, a representação ajuda a tornar uma produção mais crível, porque não é alguém apenas fingindo ser alguém que não é, é alguém com conhecimento dos fatos interpretando um personagem parecido com ele. Isto é importante. Mas também gosto de dizer que a minha deficiência não me define, é apenas mais informações sobre mim, posso me desafiar artisticamente cada vez mais.