25/10/2024 – 08:24
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Nilto Tatto: parlamentares esperam influenciar resultados da conferência
A Frente Parlamentar Mista Ambientalista divulgou nesta quinta-feira (24) recomendações para o Brasil defender na 29ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 29), de 11 a 22 de novembro, no Azerbaijão.
O documento foi elaborado por 12 grupos de trabalho com representantes do Parlamento e da sociedade civil e foi apresentado ao governo brasileiro e à Embaixada do Azerbaijão.
O coordenador da frente, deputado Nilto Tatto (PT-SP), destacou a importância do texto “para apoiar os parlamentares que estarão na COP, influenciar o próprio governo e também afetar, obviamente, os resultados finais que esperamos de o evento”. O parlamentar lembrou que a conferência serve de preparação para a COP 30, que será realizada em Belém (PA) no próximo ano.
Recursos para países em desenvolvimento
A nova quantidade de recursos (NCQG) dos países ricos para as nações em desenvolvimento financiarem a transição energética e a adaptação às alterações climáticas será o tema principal da COP 29. A meta atual – de 100 mil milhões de dólares por ano entre 2020 e 2025 – foi apenas parcialmente cumprida.
O Coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, Cláudio Ângelo, destacou que a frente ambiental exigirá financiamento mais robusto a partir de 2025.
“Através do Rede de Ação Climáticaestamos cobrando um trilhão de dólares por ano e outro tipo de pagamento inicial (pagamento inicial) pelos países ricos, cerca de 5 trilhões de dólares por ano”, informou. “Esse dinheiro, segundo os países em desenvolvimento, precisa ser basicamente através de subvenções. Os países desenvolvidos, claro, dizem: ‘não temos dinheiro’”, acrescentou.
Davi Bonavides, da Divisão de Negociação Climática do Itamaraty, explicou que, na negociação da COP 29, o Brasil não permitirá que o novo valor aumente a pressão fiscal ou a dívida dos países em desenvolvimento.
“Para o Brasil é importante não só a quantidade, mas também a qualidade dos recursos, facilitando o acesso e também maior transparência”, declarou.
Redução de poluentes
O documento da Frente Parlamentar Ambientalista também recomenda metas voluntárias para a redução das emissões de gases com efeito de estufa (NDC) que sejam “robustas, eficazes e pragmáticas”. Os países têm até fevereiro para divulgar suas novas metas, mas o Brasil pretende antecipar sua NDC durante a COP 29.
Outra recomendação diz respeito à diplomacia parlamentar. O documento prevê que “o Parlamento deve atuar como auxiliar e colíder para um Brasil que tenha justiça climática, alinhado aos preceitos cooperativos estabelecidos com o Pacto dos Três Poderes para a Transformação Ecológica”.
A Coordenadora de Pesquisa da Plataforma Cipó, Beatriz Matos, reforçou que a diplomacia parlamentar pode e deve ser exercida em espaços multilaterais, como a COP. “Não é necessariamente que o parlamentar assuma o papel de negociador, mas ele pode se apropriar das discussões e tentar conectar as demandas nacionais ao que está sendo negociado internacionalmente”, explicou.
Outras recomendações
O documento de frente parlamentar também propõe:
– transição energética com incentivos para eliminar subsídios para cadeias energéticas e setores originados de combustíveis fósseis;
– construção de mecanismos globais de controle e monitoramento dos recursos do Fundo de Perdas e Danos, com estabelecimento de critérios para que o acesso aos recursos seja rápido e transparente, favorecendo os países mais vulneráveis;
– acordos mais inclusivos centrados na juventude, no género e na raça; e
– privilegiar sistemas alimentares que aumentem a resiliência climática, reduzam as emissões e impulsionem o progresso nas áreas dos direitos humanos, igualdade de género, saúde, meios de subsistência, erradicação da pobreza, segurança alimentar e nutricional, ecossistemas, biodiversidade e bem-estar animal.
Azerbaijão
As eleições presidenciais nos Estados Unidos e os conflitos bélicos na Europa (Ucrânia), no Médio Oriente (Faixa de Gaza, Líbano, Israel) e em África (Sudão) mantêm uma tendência de “frustração” nas negociações, segundo alguns ambientalistas.
O embaixador do Azerbaijão no Brasil, Rashad Navruz, porém, está otimista diante das mais de 150 “consultas transparentes e inclusivas” em preparação para o evento. Ele também pediu o apoio do Brasil para 14 iniciativas do próprio Azerbaijão em torno de temas paralelos, como um novo fundo de ação climática.
“Pela primeira vez na história das COP, o Azerbaijão anunciou a criação de um fundo especial financiado apenas pelos países produtores de petróleo e pelas empresas que produzem gás natural e petróleo”, anunciou. “O mundo em desenvolvimento será um beneficiário, juntamente com os pequenos países insulares.”
O embaixador rebateu as críticas pelo facto de o Azerbaijão, país produtor de petróleo poluente, ser o anfitrião do evento. Segundo Novruz, a conferência é uma oportunidade para reforçar a agenda de transição energética justa e afirmou que todos estão no “mesmo barco” para reduzir a produção e o consumo global de fontes poluentes.
Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Marcelo Oliveira
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