Antonio Cicero, escritor membro da Academia Brasileira de Letras, morre na Suíça

Antonio Cicero, escritor membro da Academia Brasileira de Letras, morre na Suíça


Escritor sofreu morte assistida em Zurique, na Suíça

Foto: Reprodução/TV Globo

Antonio Cícero tinha 79 anos, sofria do mal de Alzheimer e sofreu morte assistida nesta quarta-feira (23), na Suíça. Ele era membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) e deixou uma carta explicando sua decisão.

“Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”, escreveu Antonio Cícero em trecho. O crítico literário e filósofo carioca viajou para Paris na semana passada, acompanhado de Marcelo Pies, seu companheiro. De lá, seguiram para Zurique, cidade da Suíça.

Marcelo contou aos amigos que Antonio já vinha planejando essa viagem há algum tempo e já havia enviado a documentação para a clínica onde ela foi realizada. A companheira deixou claro que o escritor não queria que ninguém soubesse.

“Passamos alguns dias em Paris para que ele se despedisse da cidade que tanto admirava”, disse Marcelo. O artista, irmão da cantora e compositora Marina Lima, compôs “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa”. Antonio também foi coautor de “O Último Romântico”, dublado por Lulu Santos.

Carta de despedida de Antonio Cícero

“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a realizar a eutanásia. O que acontece é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Então, eu nem me lembro de algumas coisas que aconteceram não só no passado remoto, mas até de coisas que aconteceram ontem.
Exceto meus amigos mais próximos, como você, não reconheço mais muitas pessoas que encontro na rua e com quem convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas ou bons ensaios de filosofia.
Não consigo nem me concentrar para ler, que era a coisa que mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido o suficiente para reconhecer minha terrível situação.
Morar com vocês, meus amigos, foi uma das coisas – senão a coisa – mais importantes da minha vida. Hoje, do jeito que me encontro, tenho até vergonha de reencontrá-los.
Bom, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que sou eu quem decide se vale a pena viver minha vida ou não.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu te amo muito e te mando muitos beijos e abraços!”