22/10/2024 – 17:09
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Erika Kokay: “É papel do parlamento monitorar os objetivos de desenvolvimento sustentável”
Em audiência pública do Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, instituições ligadas ao governo e representantes da sociedade civil apontaram que ainda há muito a alcançar na lista de objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, principalmente na área da educação.
A reunião debateu a evolução dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Os diagnósticos estão no Relatório Nacional Voluntário (RNV) e no Relatório Luz, textos que reforçam o compromisso do Brasil com a Agenda 2030 e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
Nem todas as 169 metas da Agenda 2030 foram analisadas, devido à falta de indicadores e metodologia para monitorá-las. As 98 metas observadas com prioridade foram as que mais se relacionaram com o Plano Plurianual 2024-2027, como crescimento sustentável com investimentos em infraestruturas; inclusão social e redução das desigualdades; transição ecológica e sustentável; e fortalecimento das instituições e da governação.
O Plano Plurianual deve buscar atender às necessidades das populações historicamente marginalizadas, segundo a secretária nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento e Orçamento, Virgínia de Ângelis Oliveira de Paula. “São cinco agendas: criança e adolescente; mulher; igualdade racial; povos indígenas; e temos pela primeira vez a agenda ambiental como agenda transversal no PPA”, disse.
Diagnóstico
O IBGEA Fiocruz e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) assessoraram a comissão nacional sobre os ODS. A pesquisadora Enid Rocha de Andrade Silva, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, afirmou que, das 98 metas analisadas, 14 foram alcançadas, 35 tiveram evolução positiva, 24 permaneceram estagnadas e 23 metas tiveram evolução negativa, como a erradicação da pobreza, a extinção da fome, agricultura sustentável, garantia e disponibilidade de água, saneamento, redução das desigualdades e ações contra as mudanças climáticas globais.
“Os ODS regrediram no mundo”, disse Enid Rocha. “Aqui foi um pouco mais, porque sabemos o período que estamos vivendo de 2017 a 2022. Mas, no mundo, menos de 20% das metas estão estão no bom caminho para serem cumpridos até 2030 e quase metade revela progressos mínimos ou moderados. Um terço das metas estão paralisadas ou mesmo regredindo, especialmente no combate à fome, às alterações climáticas e às desigualdades”, afirmou.
Enid Rocha acredita que, para o Brasil atingir suas metas até 2030, é necessário reduzir as desigualdades raciais e étnicas.
Avaliação da sociedade civil
A coordenadora geral da ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, Alessandra Cabral dos Santos Nilo, que integra o grupo de trabalho da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, apresentou o relatório da sociedade civil, que contém 160 recomendações. O chamado Relatório Luz fez uma avaliação diferente do cumprimento das metas. Para o grupo, apenas 13 estão em nível de cumprimento satisfatório, 10 estão ameaçados, 40 retrocederam, 43 estão estagnados e 58 metas são insuficientes. Mesmo assim melhorou em relação ao relatório do ano passado, que apontou retrocessos em 102 gols e apenas 3 foram satisfatórios.
“Essa melhoria não representa necessariamente um progresso”, destacou Alessandra Cabral. “Com o ODS 4, de Educação, não tivemos metas que avançassem e 90% das metas do Plano Nacional de Educação estão recuando. Um país que não investe na educação, um país que não utiliza a sua economia para beneficiar a maioria da sua população, por mais boas intenções ou boas narrativas que tenha, por mais bem institucionalizado que esteja, não conseguirá alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável”, acredita.
A Comissão Nacional para os ODS conta com 42 representantes do governo e 42 da sociedade civil.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Thiago Gehre Galvão espera que a RNV tenha avanços em 2026
Igualdade étnico-racial
O assessor técnico da Secretaria-Geral da Presidência da República Thiago Gehre Galvão afirmou que, entre as iniciativas que reforçam o compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável, está a criação, em dezembro do ano passado, do ODS 18, que trata da questão étnico-racial. Originalmente, os ODS reuniam 17 objetivos.
“Queremos chegar a 2026 com essa capacidade ampliada e melhorada de produzir em 2026 uma nova RNV que possa reproduzir um pouco dessa metodologia de participação social, mas que possa, ao mesmo tempo, ter capacidade de mensurar avanços e impactos das políticas públicas que começou a ser proposto em 2023 e que, de fato, poderemos medir em 2026.”
O atual governo brasileiro adotou a Agenda 2030 como referência para políticas públicas econômicas, sociais e ambientais.
Monitoramento
O debate atendeu ao pedido da deputada Erika Kokay (PT-DF). Ela sublinhou que é papel do parlamento monitorizar os objectivos de desenvolvimento sustentável.
“Criamos um acordo com o Alto Comissariado da ONU para termos um observatório de recomendações. Os ODS são estruturantes e nas centenas de recomendações que o Brasil tem você vai identificar um ODS em cada uma dessas recomendações”, destacou.
O Relatório Nacional Voluntário sobre a evolução dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU está na sua segunda edição e o Relatório Luz na sua oitava edição.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Ana Chalub
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