Lula provoca deputado que elogiou suas ações para evangélicos: “Por que votou no Bolsonaro?”

Lula provoca deputado que elogiou suas ações para evangélicos: “Por que votou no Bolsonaro?”


“O deputado foi lá e se manifestou dizendo que não votou em mim, mas que reconhece que tudo pelos evangélicos foi feito por mim”, disse Lula. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

A reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com lideranças evangélicas na última terça-feira (15), quando sancionou o projeto de lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel, continua repercutindo. Nesta quinta-feira (17), o presidente provocou o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que participou da cerimônia de assinatura do projeto no Palácio do Planalto.

“O deputado foi lá e fez um depoimento dizendo que não votou em mim, que muitos evangélicos não votaram em mim, mas que ele reconhece que tudo pelos evangélicos foi feito por mim. Deu vontade de perguntar: se você reconhece isso, por que votou no Bolsonaro?”, disse Lula em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador (BA).

Na mesma entrevista, o petista afirmou que as declarações de Otoni a seu favor fizeram com que o deputado carioca fosse “esmagado” por apoiadores de Bolsonaro.

Durante o encontro com lideranças evangélicas, o ex-bolsista — que no ano passado virou réu no STF por chamar Alexandre de Moraes de “cabeça de ovo”, “lixo”, “esgoto” e “latrina” – chamou Lula de “meu presidente” e afirmou que estava orando por ele, além de destacar as menções do petista aos evangélicos, como a criação do Dia Nacional da Liberdade Religiosa em seu primeiro mandato.

“Presidente, aproxime-se sem reservas. Fique confortável. Há um lugar na mesa do Pai para termos comunhão. Quer gostemos ou não de Vossa Excelência politicamente, não temos outra opção para a Bíblia a não ser orar por Vossa Excelência”, afirmou Otoni. “Quis o destino que eu, um dos mais combativos defensores do antigo governo e seu crítico político, estivesse aqui hoje”, acrescentou.

O ex-vice-líder do governo Jair Bolsonaro também declarou que, embora a maioria dos evangélicos não tenha votado em Lula, eles estão “entre os brasileiros mais beneficiados pelos programas sociais do seu governo”. Ele citou o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida como exemplos de políticas que ajudam “essas pessoas humildes e tementes a Deus”.

Seis dias antes do evento da última terça-feira, Otoni afirmou que o governo petista era antissemita por não querer fazer negócios com Israel. A declaração deixou surpresos os assessores de Lula, já que ele é considerado uma ponte entre o governo e o mundo evangélico. Nas eleições municipais do Rio, o deputado apoiou a reeleição de Eduardo Paes contra Alexandre Ramagem, o candidato bolsonarista.

Em entrevista ao jornal O Globo, o emedebista declarou que a igreja deve se posicionar acima das divisões políticas entre PT e bolsonarismo.

“Só queria mostrar que a igreja não pertence ao bolsonarismo nem ao petismo, está acima disso, embora pareça desde 2018 que fomos arrastados pela política. O fato de ter antagonismo político com o PT não muda o papel da igreja na oração pelas autoridades. Mas seria incoerente levantar uma bandeira pró-Lula”.

O deputado afirmou ainda que seus votos “não vêm do Bolshominion” e que as eleições de 2022 ensinaram a necessidade de “mais humildade e diálogo” com os líderes religiosos.

“Acham que bastava Bolsonaro dizer ‘vote em fulano de tal’. Isso é arrogância, a igreja evangélica não seguirá o exemplo. Os eleitores votam em quem faz políticas públicas que os atingem, e com os evangélicos não é diferente”, disse Otoni.

Ondas

A sanção do Dia da Música Gospel por Lula representa mais um aceno aos eleitores cristãos. No mês passado, o presidente também sancionou outras três leis sobre temas religiosos, de caráter igualmente simbólico.

Entrou em vigor a lei que reconhece o cristianismo como manifestação cultural nacional, bem como outra que reconhece da mesma forma a festa religiosa Círio de Nazaré, realizada na cidade de São Luís (MA) —há outra celebração com o mesmo nome em Belém (PA) — e o Dia do Pastor Evangélico, data comemorada no segundo domingo de junho.

Em abril, outra estratégia do petista com o objetivo de se aproximar dos temas religiosos foi o lançamento da campanha publicitária “Fé no Brasil”, que, falando em programas sociais do governo, reivindicava avanços na economia, na educação, na saúde e na agricultura e se propôs mostrar que, “apesar de pensar diferente”, todos se beneficiam com os avanços sociais.

A estratégia foi adotada após pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto mostrarem queda na popularidade do presidente, principalmente no segmento evangélico, que representa 30% do eleitorado.