Ruídos na política-econômica: Lula ouve banqueiros…

Após 646 dias no governo, Lula decidiu conversar com diretores dos maiores bancos privados, credores do governo.

Acompanhado de Fernando Haddad, ministro da Economia, recebeu os executivos Milton Maluhy, do Itaú Unibanco, no Palácio do Planalto; Luiz Trabuco Cappi e Marcelo Noronha, do Bradesco; Mário Leão, do Santander; André Esteves, do BTG; e Isaac Sidney, da Federação Brasileira de Bancos.

Foi uma conversa formal, guiada pelo manual diplomático e movida pela força das ambiguidades. Nesta quarta-feira (16/10), reafirmaram o que Lula sabe desde a década de 90 do século passado: os banqueiros são naturalmente conservadores e, coincidindo com os políticos, não gostam de juros altos.

Alguns temem a inadimplência do cliente. Outros temem a falência nas urnas.

Dólar a 5,6 reais, inflação atingindo o “teto” das metas oficiais e juros reais (acima da inflação) a 6,5% são expressões de crise de confiança — disseram os banqueiros.

Alteraram a ressalva de que embora esteja aí, demonstrando, não tem “fundamentos”, nem coerência, no cenário de uma economia que cresce a uma taxa anual de 3% sem restrições externas (défice relevante na balança de pagamentos) .

Com a sutileza do credor para com seu principal cliente, diagnosticaram como causa provável o “ruído” causado pela cacofonia nas mensagens do governo sobre o equilíbrio das contas públicas.

Ou seja, a alta do dólar, da inflação e dos juros resulta da confusão sobre como Brasília, especialmente o Palácio do Planalto, pretende agir para resolver uma equação que não fecha: as despesas crescem numa velocidade muito superior à receita, e, no final, no final, a soma das partes (despesas) é maior que o todo (orçamento).

Na prática, apoiaram Fernando Haddad, ministro da Economia, na catequese sobre a “janela de oportunidade” para o governo, em pleno mandato, fazer com que as partes caibam no todo —gastos no orçamento— e oferecer previsibilidade na direção da economia.

Saíram da reunião que durou quase uma hora e meia assim que entraram no palácio, com a impressão de que Lula já sabia de tudo, só queria ouvi-los e sugerir que na segunda metade de seu mandato, possivelmente, nada acontecerá. seja o mesmo de antes.

Foi um gesto de simpatia, após 646 dias de governo, sem pistas relevantes sobre a resolução do principal enigma: se, como e quando será feito?

O tempo ficou mais curto. A corrida presidencial de 2026 começa na noite de domingo, 27 de outubro, com os resultados do segundo turno em cinquenta das maiores cidades.