29/05/2024 – 18h35
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Reunião foi conjunta das comissões de Trabalho e Saúde
Em debate sobre os impactos da tragédia climática vivida pelo Rio Grande do Sul na saúde mental dos trabalhadores, realizado na Câmara dos Deputados, os participantes destacaram as estratégias mais adequadas para o cuidado dos atingidos.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, a ocorrência de transtornos mentais em desastres é duas a três vezes maior do que em situações normais, podendo afetar de 8% a 57% da população afetada.
Em situações normais, o médico destacou que os transtornos de ansiedade afetam cerca de 13% dos brasileiros. O país também é campeão mundial em depressão, disse ele.
Quanto ao Rio Grande do Sul, Antônio Geraldo da Silva afirmou que o tratamento psicológico dos atingidos pelas enchentes terá que ser de longo prazo e dependerá de políticas de Estado.
“Precisamos que o Estado tome conta e apresente o que vai fazer agora e depois, para que possamos encaminhar essas pessoas, dar a essas pessoas a certeza de que haverá cuidados específicos e haverá continuidade. Não é por um mês, precisamos disso por meses e anos. Quem pode pagar isso por meses e anos? Só o Estado”, afirmou.
Informação adequada
A representante do Ministério da Saúde na audiência, Débora Noal, apresentou as estratégias da organização para atender a população afetada pela tragédia climática no Rio Grande do Sul. Segundo o consultor, neste momento é importante fornecer informação precisa e adequada para que as pessoas entendam o que lhes está a acontecer e que haja uma estratégia governamental para resolver os problemas.
“Uma das pernas da estabilização emocional é essa comunicação justa e precisa, porque pouca informação causa ansiedade e muita informação causa angústia”, pontuou.
Débora Noal explicou que um dos passos mais importantes no planejamento do atendimento é consultar os serviços básicos de saúde para saber a prevalência de problemas mentais na população antes da tragédia. Segundo seu relato, em geral, entre 15% e 20% dos afetados já apresentavam alguma fragilidade emocional anterior que poderia se intensificar neste momento.
Nestes casos, as equipes de saúde buscariam ativamente compreender as necessidades dessas pessoas. Os profissionais procuram saber, por exemplo, se estão em um abrigo seguro e se continuam tendo acesso aos medicamentos que tomavam ou a outros tratamentos aos quais estavam sendo submetidos. Caso contrário, a equipe investiga se precisa de ajuda para restabelecer esses tratamentos.
Segundo o representante do Ministério da Saúde, além de oferecer atendimento psiquiátrico ou psicológico às pessoas em sofrimento mental, é preciso reestruturar as redes de apoio a esses pacientes.
“Vamos nos aproximar dessa rede de solidariedade, que é a família, os amigos, os vizinhos, os líderes comunitários, vamos à rádio, à televisão, às igrejas, aos cultos, às estruturas onde há laços de confiança com as informações que são repassadas, e informamos quais reações são esperadas naquele momento. E para quem diz: ‘Não aguento, sinto que preciso de ajuda’, oferecemos clínicos gerais, assistentes sociais, psicólogos, que estão nas unidades básicas de saúde”, explicou.
A audiência pública sobre os efeitos da calamidade na saúde mental dos trabalhadores gaúchos foi realizada pelas comissões de Trabalho e Saúde, a pedido do deputado Geovania de Sá (PSDB-SC).
Reportagem -Maria Neves
Edição – Ana Chalub
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