Ministra Anielle Franco relata que importunação de Silvio Almeida durou mais de ano

Ministra Anielle Franco relata que importunação de Silvio Almeida durou mais de ano


Segundo a ministra, ela e Almeida não tinham relacionamento antes de começarem a trabalhar.

Foto: Divulgação/Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania

Segundo a ministra, ela e Almeida não tinham relacionamento antes de começarem a trabalhar. (Foto: Divulgação/Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania)

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou, pela primeira vez, sobre a denúncia de assédio sexual contra seu ex-colega da Esplanada, o professor e advogado Silvio Almeida, que chefiava a secretaria de Direitos Humanos. Na semana passada, Anielle prestou depoimento à Polícia Federal (PF) sobre o caso.

Segundo a ministra, ela e Almeida não tinham nenhum relacionamento antes de começarem a trabalhar no mesmo governo. “Também nunca tivemos nenhum tipo de intimidade para eu dar qualquer tipo de condição para ele fazer o que fez. Nenhum. Há algo na sociedade que precisamos diferenciar: o que é abordar ou abordar uma pessoa com respeito, e o que é violar, assediar e assediar uma pessoa. Isso é muito diferente”, disse Anielle em entrevista ao Fantástico, exibida neste domingo (6).

Anielle também disse quando começou a perceber que havia algo errado nessa relação com o ministro: “A gente sabe quando a pessoa vem de forma ingênua ou de forma respeitosa, ou não. Foram diferentes atitudes e momentos em que percebi e senti o mal, e também senti outras intenções desrespeitosas. E quando você não dá, quando você sabe que a verdade está com você, você percebe, você sente o que a outra parte está fazendo.”

O chefe do departamento de Igualdade Racial afirmou que o assédio ao ministro durou “mais de um ano”. “Durou alguns meses, tipo, mais de um ano, na verdade. Começa com versos e músicas mal colocadas, eu diria. E isso chega a um nível de desrespeito que eu também não esperava. Mesmo situações que nenhuma mulher precisa passar, merece ou deveria passar”, afirmou.

Ao ser questionada sobre a notícia de que o ex-ministro havia tocado nela por baixo da mesa durante uma reunião, ocorrida no dia 16 de maio de 2023, Anielle se emocionou.

“Não é normal a gente passar por isso em pleno 2024, independente de quem faça, sabe? Tocar, assediar ou violar o corpo de uma mulher é uma das coisas mais abomináveis ​​que podem existir […] Anielle foi uma vítima. Mas a Anielle, hoje, como ministra de Estado, como mãe, feminista, mulher negra, irmã, também tem neste lugar a responsabilidade de lutar e fazer deste país um lugar melhor para todos nós”, comentou.

Anielle disse ainda que achava que esses assédios iriam parar por conta própria e que, quando ela falasse, seria respeitada —o que não aconteceu, segundo o ministro.

“E esse foi o último momento que tentei. Quando de fato mais uma barreira é quebrada, acontece outro discurso ou desrespeito. E aí entendi que não tinha jeito”, disse, acrescentando que Almeida foi “muito desrespeitoso”.

Questionada sobre como se sente após fazer as denúncias, Anielle disse que é uma “mistura de sentimentos”. “Ao mesmo tempo que me senti invadida, vulnerável, exposta, também sinto uma forte vontade de lutar por um lugar mais justo para mim e para vocês. Eu, Anielle, não permitirei que minha história seja reduzida à violência.”

Sílvio Almeida nega
Desde que as denúncias de assédio sexual se tornaram públicas, o ex-ministro negou as acusações. Ao Fantástico, a defesa de Almeida comentou o caso.

“Em primeiro lugar, ele nega veementemente todas essas referências feitas em seu desfavor. Em segundo lugar, e mais importante, esta investigação, para a defesa, permanece confidencial. Não tivemos acesso a nenhum depoimento, nem do ministro nem de outras pessoas. Sabemos através da imprensa. O que não é razoável é que, em pleno vigor da Constituição, que se chama ‘Constituição Cidadã’, a defesa tome conhecimento de episódios dispersos através dos noticiários, da imprensa escrita, falada e televisiva. Evidentemente, quando estes factos forem impostos – não estes factos, estas versões, iremos contradizer todos eles e a verdade prevalecerá”, disse o advogado Nélio Machado.