Indústria de pneus no Brasil está superfaturada, aponta consultoria

Uma reviravolta na polêmica envolvendo a indústria de pneus no Brasil. Após o setor exigir melhores condições em relação aos pneus importados, a consultoria global Charles River Associates (CRA), revelou que os fabricantes nacionais estão aumentando artificialmente os preços dos seus insumos importados.

Segundo a empresa, que tem mais de 50 anos de experiência em investigações e análises econômicas e estratégicas, a prática visa justificar o pedido de aumento do imposto de importação e prejudica caminhoneiros e consumidores. Entenda o caso.

Indústria de pneus no Brasil está superfaturando o preço dos insumos

Em linguagem simples, as empresas de pneus estão a sobrevalorizar o preço das matérias-primas para pressionar o governo e exigir impostos de importação mais elevados sobre pneus estrangeiros.

E funcionou. Esta semana, a Comissão de Gestão Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) anunciou o aumento da sobretaxa sobre pneus de automóveis de passeio (de 16% para 25%) e 30 produtos químicos (alíquota passou de 10,8% ou 12,6% para 20%),

O pedido ocorreu depois que a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) respondeu a reclamações de fabricantes nacionais que reclamavam há meses sobre concorrência desleal.

No entanto, o CRA analisou as importações de quatro itens essenciais para a fabricação de pneus e constatou que os preços pagos pelas indústrias nacionaisquando a compra é feita em empresas do mesmo grupo econômico, são significativamente superiores aos pagos por outras empresas.

A consultoria analisou o custo de quatro itens:

• negro de fumo
• outras borrachas de estireno-butadieno (SBR)
• borracha de butadieno (BR)
• borracha natural tecnicamente especificada (TSNR).

Juntos, esses materiais respondem por quase 70% do custo da matéria-prima na fabricação de pneus.

A diferença chega a 46% para o negro de fumo, um dos principais componentes dos pneus. Para os demais insumos, a diferença é de 23% e 19%, respectivamente. Somente para o TSNR é menor, em torno de 5%.

Segundo a consultoria, essa prática aumenta os custos de produção das empresas nacionais e serve de justificativa para o pedido de aumento do Imposto de Importação, actualmente nos 16% e que a Associação da Indústria de Pneus (ANIP) quer aumentar para 35%.

“Quando o insumo parece ser importado de uma empresa do mesmo grupo econômico, a diferença tende a ser, em média, de 22%. Por se tratarem de commodities, não era de se esperar nenhuma diferenciação no custo dos insumos importados. Isto pode indicar um aumento artificial no preço das matérias-primas”, pondera Charles River Associates no seu relatório.

Os pneus importados são mais baratos?

O CRA esclarece ainda que também é improcedente a tese das empresas nacionais de que os pneus importados teriam um valor inferior ao das matérias-primas utilizadas na sua fabricação.

De acordo com o estudo da consultoria, o custo médio da matéria-prima para a produção de pneus é de US$ 1,63 por quilograma. O preço médio dos pneus importados pelo Brasil é de US$ 2,90 o quilo – dados da LCA, consultoria contratada pela ANIP.

Ou seja, essa diferença de 81% entre o custo da matéria-prima e o preço pelo qual o produto chega ao país indica claramente que não há nada de anormal.

“É surpreendente que representantes da indústria de pneus façam uma acusação genérica e sem provas que prejudica a imagem de importadores e exportadores idôneos”, destaca Samer Nasser, diretor de Relações Institucionais da Sunset Tires.

Segundo ele, O presidente da ANIP, Klaus Curt Müller, Damian Seltzer e o presidente da Bridgestone erram ao afirmar que existe ‘concorrência desleal’. Além disso, comete-se um erro quando afirmam que os pneus asiáticos estão sendo vendidos abaixo do custo da matéria-prima.

Em resposta ao estudo, o presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), Ricardo Alípio da Costa, afirmou que o momento é crítico para o setor, que enfrenta o dólar a R$ 5,65 e frete marítimo internacional a nove mil dólares por contêiner.

Ele destaca que a possibilidade de fabricantes terem custos maiores que outras empresas deve ser verificada pelo Governo Federal antes de tomar qualquer decisão precipitada.

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