Estratégia do governo federal quer reduzir a mortalidade materna em 25% até 2027

Estratégia do governo federal quer reduzir a mortalidade materna em 25% até 2027


Ministério da Saúde investirá R$ 400 milhões na Rede Alyne

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ministério da Saúde investirá R$ 400 milhões na Rede Alyne

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, nesta quinta-feira (12), a Rede Alyne, uma reestruturação da antiga Rede Cegonha, atendendo gestantes e bebês na rede pública de saúde. O objetivo é beneficiar as mulheres com um atendimento humanizado e integral, observando as desigualdades étnico-raciais e regionais.

O objectivo é reduzir a mortalidade materna global em 25% até 2027, e em 50% considerando apenas as mulheres negras. Em 2022, a taxa de mortalidade materna (número de mortes por 100 mil nascidos vivos) de mães negras era o dobro da população em geral: 110,6. No geral, ocorreram 57,7 mortes por 100.000 nascidos vivos.

O Brasil quer alcançar o ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas) até 2030, com a marca de 30 mortes a cada 100 mil nascidos vivos.

Durante o lançamento do programa, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, Lula se emocionou ao falar sobre a morte da primeira esposa, Maria de Lourdes, e do filho deles, em 1971. Para o presidente, a morte durante o parto de emergência foi devida à negligência dos médicos.

“Cheguei do hospital, encontrei minha esposa morta e meu filho morto. Hoje tenho a certeza absoluta de que foi negligência, que foi falta de tratamento, porque muitas vezes as pessoas pobres são tratadas como se fossem pessoas de segunda classe. E se você é pobre e negra, você é tratada como se fosse de terceira classe”, afirmou a presidente.

“E precisamos tratar todas as pessoas com respeito, com carinho, com muito amor, porque não criaremos uma sociedade civilizada, humanamente respeitada, se não tratarmos as pessoas, independente de sua cor, de sua naturalidade, de sua religião” , destacou Lula.

O novo modelo homenageia Alyne Pimentel, que faleceu grávida de seis meses por falta de atendimento adequado na rede pública de saúde no município de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, em 2002.

A morte da menina de 28 anos fez com que o Brasil fosse condenado internacionalmente pelo Cedaw (Comitê para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres) das Nações Unidas, com recomendações para reduzir o número de mortes maternas evitáveis, reconhecidas como um violação dos direitos humanos. mulheres para uma maternidade segura.

“Queremos criar um programa para que a mulher possa ser tratada com dignidade, para que a mulher possa fazer todos os exames necessários, para que a mulher possa tirar todas as fotografias que quiser do útero para ver como está a criança, para que podemos garantir que a mulher chegue saudável ao consultório médico e saia de lá, além de saudável, com uma criança muito linda no colo”, disse Lula durante o evento, que contou com a presença da filha de Alyne, que tinha cinco anos no época da morte de sua mãe.

Investimentos

Entre as novidades do programa estão a criação de um plano integrado entre maternidade e Saúde da Família – com qualificação das equipes de Saúde da Família, principal porta de entrada do SUS (Sistema Único de Saúde) – e a ampliação do Complexo Regulador do SUS com equipe especializada em obstetrícia.

O objetivo do Ministério da Saúde é integrar a rede para acabar com a “peregrinação da gestante” e garantir vagas para atendimento, com prioridade para mulheres que necessitam de apoio no deslocamento até a maternidade.

Em 2024, o Ministério da Saúde investirá R$ 400 milhões na rede. Em 2025, o aporte deverá chegar a R$ 1 bilhão. Haverá um novo modelo de financiamento com uma distribuição mais equitativa de recursos para reduzir as desigualdades regionais e raciais; O financiamento será por nascido vivo, por local de residência e município de atendimento.

O governo também vai triplicar o valor pago aos estados e municípios para a realização de exames de pré-natal: de R$ 55 para R$ 144 por gestante. Novos testes serão incorporados à rede, além dos já incluídos na Rede Cegonha, que passará a contar com testes rápidos para HTLV, hepatite B e hepatite C.

A ampliação do orçamento atinge também a atenção de média e alta complexidade para a estruturação de equipes especializadas em atendimento materno-infantil, com cobertura 24 horas por dia, 7 dias por semana, na regulamentação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192.

Pela Rede Alyne, haverá novos financiamentos com custo mensal de R$ 50,5 mil para ambulâncias destinadas à transferência de gestantes e recém-nascidos gravemente enfermos. “Isso contribuirá para reduzir atrasos nas viagens em momentos críticos”, explicou o governo.

Novas maternidades

Por meio do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na área de Saúde, também serão construídas 36 novas maternidades e 30 novos Centros de Parto Normal, totalizando R$ 4,85 bilhões em investimentos na etapa de seleção, com prioridade para regiões com pior mortalidade materna taxas.

A rede de bancos de leite do Brasil, que é referência internacional e terá um “sistema mais completo” de incentivo ao aleitamento materno.

O Ministério da Saúde investirá R$ 41,9 milhões por ano em um novo repasse para aumentar a disponibilidade de leite materno nas unidades neonatais, além de um valor adicional para os bancos de leite que alcançarem a autossuficiência, atendendo a demanda das unidades neonatais de referência.

A Rede Alyne também incentivará a utilização do Método Mãe Canguru, cujas evidências científicas comprovam impacto positivo em desfechos, como infecção, amamentação e mortalidade – com aumento de 240% no valor das UCINca (Unidades de Cuidado Neonatal Canguru). A prática consiste em colocar o bebê em contato com o corpo dos pais, numa posição semelhante àquela em que um canguru carrega seus filhotes.

Para integrar os dados das gestantes, está previsto, em 2024, o lançamento de uma versão eletrônica da Caderneta da Gestante por meio do aplicativo “Meu SUS Digital”.