SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Meanholicamente, trabalhamos para criar justiça, mas o criminoso conseguiu escapar através de uma manobra legal, de forma muito semelhante a outro personagem mais famoso que pretende ser o maior representante. descoberta triste e lamentável.”
O desabafo do procurador João Carlos de Camargo Maia, membro do Ministério Público de São Paulo, está em um documento em que ele é obrigado a reconhecer a extinção da ação movida contra o atual candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) por acusação de dano ao patrimônio público. O documento é datado de 5 de outubro de 2022.
Segundo Maia, prescrição obtida através de “alto investimento em cargos, trapaças jurídicas, fuga de funcionários judiciais, recursos rebuscados, habeas corpus”.
Boulos diz que se trata de um caso de ineficiência judicial, em que ele foi o mais prejudicado ao ser processado durante anos sem conhecimento. “Guilherme Boulos nunca foi condenado a cumprir pena e nunca escapou da justiça”, afirma trecho da resposta enviada à reportagem pela campanha do candidato.
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“No caso em questão, só foi notificado em 22 de abril de 2019, devido a uma sucessão de erros do Ministério Público responsável, que indicou endereços incorretos para expedir a intimação, sem verificar os documentos que já estavam anexados ao processo”, ele também diz a nota.
Boulos foi processado por envolvimento no episódio conhecido como despejo do Pinheirinho, em janeiro de 2012, quando foi preso em flagrante por suspeita de ter atirado uma pedra contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP) e incitado famílias deslocadas a danificar o ginásio esportivo da cidade, onde aconteciam os serviços oferecidos pelo município.
O agora candidato, que na época se apresentava como professor universitário da Faculdade Mauá, foi libertado sob fiança de R$ 700. Em seu depoimento, Boulos negou ter danificado ou provocado alguém a destruir bens públicos e disse ter sido agredido por guardas.
A expulsão de Pinheirinho, uma das ações mais violentas da PM nessa área, chegou à campanha do psolista na semana passada, com versão de Boulos sobre sua participação no episódio. No vídeo, ele conta que ficou um tempo na delegacia e que o caso foi arquivado.
Isso realmente aconteceu, mas demorou muito.
De acordo com o processo ao qual o relatório teve acesso, o Ministério Público denunciou Boulos em 27 de maio de 2013, ação acatada pela Corte em junho do mesmo ano. Ele foi acusado do crime de dano qualificado ao patrimônio público, com pena máxima de três anos de prisão.
Em 2 de setembro de 2012, o tribunal já havia ordenado a citação de Boulos. No endereço que forneceu à polícia, em janeiro daquele ano, em Osasco, ninguém foi encontrado.
Em 2014, o Ministério Público solicitou auxílio ao Caex (Centro de Apoio à Execução) do Ministério Público para encontrar o endereço. O órgão apontou para a rua Cayowaá, em Perdizes. Em outubro do mesmo ano, o oficial de justiça registrou certidão atestando que havia ido ao endereço. “De qualquer forma, deixei meu telefone para possível contato, o que não ocorreu até o momento”, diz o documento.
O Ministério Público solicitou então que a Justiça tentasse localizar Boulos em uma das unidades da Faculdade Mauá. Em fevereiro e março de 2015, os três endereços da instituição (São Paulo, São Bernardo do Campo e Mauá) foram visitados por funcionários judiciais, mas Boulos não foi localizado.
Com isso, o Ministério Público solicitou a intimação do réu mediante notificação (Diário Oficial da União) e suspensão da prescrição (oito anos). Em março de 2015, o Tribunal ordenou a publicação do edital. Em novembro, sem resposta de Boulos, o processo foi suspenso, assim como o “curso de prescrição”.
O Ministério Público continuou tentando. Solicitou órgãos oficiais, como a Justiça Eleitoral, e quatro endereços foram citados ao longo do tempo: Rua Cândido Espinheira (Perdizes), Cardeal Arcoverde (Pinheiros), Bernardo Joaquim Moraes (Taboão da Serra) e Rua Dolores Coelho (Jardim Faria Lima).
Somente no dia 22 de abril de 2019, cerca de seis anos após a denúncia, é que Boulos foi localizado.
No mês seguinte, sua defesa argumentou que não havia provas no processo de participação no crime, que não houve individualização da conduta e que não havia comprovação de materialidade, afirmando que a perícia não confirmou os danos causados.
Alegou ainda a não localização do réu e, portanto, não foram esgotados todos os meios para localizá-lo, exigindo, assim, a anulação da citação por meio de notificação.
Como prova disso, os advogados de Boulos afirmaram que, entretanto, ele foi processado e teria sido facilmente citado.
Ao longo de sua atuação como um dos dirigentes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Boulos já foi citado como “investigado” ou “indiciado” em pelo menos oito inquéritos policiais.
Os casos estão relacionados a danos a bens públicos durante manifestações, apreensão possessória (invasão de bens) e resistência à prisão durante a reintegração de posse. Não há registro de condenação.
Em junho de 2022, o Tribunal de Justiça concordou com o argumento de que os meios para localizar o réu não haviam sido esgotados e determinou a anulação da citação por meio de auto, o que alterou a prescrição.
O promotor Maia respondeu à decisão da seguinte forma: “É muito difícil qualificar o adjetivo para nomear o sentimento e a sensação que esses documentos exalam”.
Procurado pela reportagem, o promotor não quis comentar.
Com a anulação da citação por aviso, o Tribunal reconheceu a prescrição do caso. Em outubro de 2021, ele decidiu eliminar a punição. No mesmo mês, a defesa solicitou a devolução do dinheiro pago a título de fiança. Em abril deste ano, a Justiça determinou o pagamento de R$ 1.459,60 a Boulos.
O Campanha Boulos diz que o candidato foi a São José dos Campos, a 90 km da capital, para apoiar a população em situação de rua “durante a maior e mais violenta reintegração de posse que já foi noticiada no estado de São Paulo”.
“Ele não foi acusado de ser responsável por quaisquer danos materiais, mas de ser responsável por atos supostamente praticados por terceiros – o que nunca foi comprovado. as autoridades.”
A nota diz ainda que, ao longo deste período, o atual candidato “tornou-se uma figura pública de grande destaque, incluindo colunas na imprensa, e nunca se recusou a responder à justiça”.
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