09/09/2024 – 18h05
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Debate foi promovido pela Comissão de Legislação Participativa
Representantes da Defensoria Pública, instituições de direitos humanos e pais de vítimas de ações policiais defenderam nesta segunda-feira (9), em audiência pública na Câmara dos Deputados, o uso de câmeras corporais por agentes de segurança pública. Sugeriram, no entanto, que todas as operações sejam acompanhadas em tempo real e que, além dos próprios policiais, o Ministério Público (MP) e a Defensoria Pública tenham fácil acesso às imagens.
O debate foi promovido por Comissão de Legislação Participativa.
Os pais do adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, Neilton da Costa Pinto e Rafaela Matos Pinto relembraram o assassinato do filho em uma operação da Polícia Federal e Civil no Complexo de Favelas do Salgueiro, no Rio de Janeiro. Para evitar fraudes, defenderam que câmeras acopladas aos uniformes registrassem as ações dos policiais desde o momento em que saem do batalhão.
“Com essas câmeras que a própria polícia tem controle não vai funcionar, vai haver fraude, não concordo”, disse o pai. Ele também propôs que as imagens fossem acessíveis ao MP e à Defensoria Pública.
O uso de câmeras para registrar a atuação das forças policiais começou no Brasil em 2020, quando a medida foi adotada pelo governo de São Paulo, e posteriormente copiada por outros estados. Em maio deste ano, porém, o governo de São Paulo mudou a forma de funcionamento das câmeras: em vez da gravação ininterrupta de imagens, as gravações passaram a depender de acionamento por policiais.
Portaria
O debate sobre o tema foi proposto pelo deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ). Ele lamentou que, após o governo federal aprovar uma portaria regulamentando a matéria, em junho deste ano, alguns parlamentares tenham começado a fazer uso ideológico da medida que, para o deputado, é puramente técnica.
“O uso de câmeras corporais é uma medida importante para o controle da atividade policial e redução da letalidade policial”, afirmou o deputado. “O espírito desta audição é trabalhar para que este programa ganhe estatuto de política pública e, desta forma, o seu funcionamento possa ser melhorado”, acrescentou.
Em junho, um decreto do Ministério da Justiça definiu regras para o uso de câmeras corporais em uniformes. A portaria permite que cada estado escolha o equipamento e o método de gravação, mas determina 16 situações em que as gravações devem estar sempre ativadas.
Apoio científico
Defensora pública em São Paulo, Fernanda Balera entende que o uso de câmeras é uma política de segurança pública eficaz, com forte respaldo científico. Segundo ela, ao saber que as interações estão sendo gravadas, policiais e cidadãos adotaram comportamentos mais adequados.
Citando dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ela afirmou que as câmeras foram responsáveis pela redução de 61% nos casos de mortes policiais em 2023 e 2024. Os dados mostram ainda uma queda de 76,2% no número de mortes causadas pela ação policial. em 2022.
Representando o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Bruna Martins Costa, enfatizou que a tecnologia, por si só, não é a solução para os problemas de segurança pública.
“Embora os avanços tecnológicos sejam importantes, é fundamental focar em políticas públicas que promovam a justiça social e o acesso aos direitos fundamentais, como educação, saúde, distribuição de renda, lazer e direito à cidade. Esses aspectos têm sido negligenciados em favor de soluções tecnológicas caras e milagrosas”, destacou.
Reportagem – Murilo Souza
Edição – Rachel Librelon
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