(FOLHAPRESS) – Nos vídeos que publica nas redes sociais, Dudu Camargo (Republicanos), candidato a vereador em São Paulo, aparece do lado de fora do estúdio, com um terno que não sai do corpo, pedindo votos nas ruas de quem está costumava vê-lo nas ruas. TV.
Ao completar 18 anos, foi escolhido por Silvio Santos, falecido no mês passado, para ser o novo apresentador do Primeiro Impacto, telejornal do SBT que seria remodelado como um programa policial, com conteúdo popular.
Oito anos depois de estrear em rede nacional, Camargo hoje faz parte de um movimento de ex-apresentadores que, assim como José Luiz Datena (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, tentam ingressar na vida política.
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“Esse tipo de jornal é muito popular porque mostra a realidade das pessoas, com uma linguagem que todos entendem”, diz Camargo, falando ao telefone. Em comum, esses candidatos aproveitam a popularidade da televisão para basear a sua campanha numa prestação de serviço, típica das atrações dos programas policiais.
Assim, procuram atrair votos de um eleitorado mais sensível às questões de religião e segurança pública. Os fãs do “datenismo cultural” ficam constrangidos, porém, quando questionados se apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Minha política não será a de uma raposa velha”, diz Camargo. “A preocupação é se estou beneficiando o povo.”
Ele conta que cresceu assistindo Datena, embora se inspire em Silvio Santos, seu mentor. Para Camargo, a política seria uma forma de resolver os problemas das pessoas, sem precisar exigir atitude das autoridades, como fez no quadro Chutando o Balde.
Camargo apareceu no programa Fofocando do SBT, em 2016. Na época, interpretou o Homem do Saco, na atração com Mamma Bruschetta, Leão Lobo e Mara Maravilha. Com Primeiro Impacto, conseguiu, em média, 3,5 pontos de audiência.
Em junho de 2023, deixou a emissora envolvido em polêmicas. Ele foi demitido pela direção da empresa por indisciplina. O gatilho, divulgado pela imprensa, foi uma toalha manchada de fezes, encontrada em seu camarim, ao lado de um micro-ondas, o que ele nega.
“A demissão não partiu do Silvio. Quem era patrocinado por ele foi perseguido”, diz. Em outro episódio, o candidato foi condenado a pagar R$ 30 mil à cantora Simony por apalpá-la, há dois anos, na RedeTV!. “Quem viu o vídeo sabe que não cometi nenhum crime ali”, diz Camargo.
“Olá pessoal, sábado, arrase comigo”, diz ele, agitando as mãos, enquanto repete o bordão do programa, em vídeo gravado antes de uma agenda de campanha. “O fato de apresentar um atrativo popular faz dele alguém mais conhecido e que também conhece a cidade”, afirma Rodrigo Mendes, seu marqueteiro.
Segundo pesquisa Datafolha, Tramonte está isolado, em primeiro lugar, com 29% das intenções de voto. Um de seus adversários, o senador Carlos Viana (Podemos) foi apresentador do Alterosa Urgente, programa semelhante, na TV Alterosa. Ele agora tem 5% das intenções de voto.
“Não vamos simular programa de televisão no programa eleitoral”, afirma Frederico Aisc, coordenador de campanha. Nas redes, Viana publica imagens de familiares e, em uma das fotos, aparece com a frase “Deus e família”, numa homenagem aos mais religiosos.
Opositores, Tramonte e Viana se popularizaram com programas policiais, que foram veiculados na TV na década de 1990. Os âncoras se levantaram, usaram ternos e mostraram crimes horríveis. Defensores da classe policial, proferiam discursos que evocavam a máxima “bandido bom é bandido morto”.
Com o tempo, esses programas tornaram-se mais descontraídos, com abordagem comunitária, em que o apresentador, ao exigir melhorias das autoridades, tornou-se a voz do povo. As atrações, de qualquer forma, fizeram sucesso entre as camadas populares e mais à direita.
De 2020 a 2023, Sikêra Júnior recebeu Jair Bolsonaro, de quem era apoiador, no Alerta Nacional, da RedeTV!. Já Datena teve uma abertura inusitada com o ex-presidente. Chegou a entrevistá-lo no hospital, enquanto o então candidato se recuperava de uma facada sofrida no ataque de 2018.
Agora, Datena se distanciou de Bolsonaro. Sua campanha avalia que a retórica policial se dilui quando a apresentadora diz que a mulher deve decidir pelo aborto ou que a cracolândia é uma questão de saúde.
“Alô, Brasil”, Jasson Goulart (Republicanos), candidato a vereador em Curitiba, atende o telefone, como se abrisse uma transmissão na TV. Na RPC, afiliada da Globo no Paraná, narrou os jogos das seleções do estado e, nos últimos anos, apresentou o Balanço Geral, da Record local.
Assim como seus colegas, ele usa a mesma estratégia online: gravar vídeos nas ruas e até entrevistar transeuntes. Goulart se solidariza com a dificuldade de Datena em se adaptar à posição de entrevistado. “É mais confortável entrevistar”, diz ele. “Nasci em lar cristão, sou filho de militar, sou de direita, ou seja, centrista”.
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