SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Ministério da Educação do governo Lula (PT) atrasou a compra de livros didáticos e literários prevista para ser adquirida neste ano. Obras que deveriam ter sido entregues às escolas públicas em 2022 e 2023 nem tiveram contratos de compra assinados.
A contratação de cerca de 72 milhões de livros didáticos dos anos iniciais e finais do ensino fundamental só ocorreu no final de agosto, com mais de 60 dias de atraso por parte do governo federal.
Outros 63 milhões de manuais, que deverão ser utilizados no próximo ano letivo no ensino pré-escolar e secundário, continuam sem contrato de compra.
Esses livros deverão atender 35 milhões de alunos de escolas públicas. Membros do sector editorial temem que as obras não cheguem a tempo para o início do próximo ano lectivo, o que o governo nega.
A situação é agravada pelo atraso do Programa Minha Biblioteca, da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, que hoje se consolida no mercado editorial como a segunda maior fonte de compras públicas de livros.
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O último leilão aconteceu na virada de 2022 para 2023, quando foram adquiridos o recorde de 8 milhões de exemplares, segundo a gestão de Ricardo Nunes (MDB), hoje candidato à reeleição. O edital de 2024 foi aberto para inscrições em novembro do ano passado e termina em setembro sem previsão de quando serão divulgadas quais obras foram incluídas.
A Secretaria Municipal de Educação afirma que “o processo de aquisição de livros do Programa Minha Biblioteca este ano está em fase final de aquisição”, sem especificar datas.
“É estranho porque o programa sempre correu muito bem, com regularidade, mas agora simplesmente não há novidades”, afirma Sandra Bensadon, responsável pela área de educação da Companhia das Letras.
O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão do MEC responsável pela compra de livros, admite os atrasos em nota enviada à reportagem e culpa a operacionalização adotada pela gestão anterior, do governo Jair Bolsonaro (PL).
Apesar de prometer que não haverá atraso na entrega dos manuais para o próximo ano letivo, a organização afirma que vai adiar parte da compra de obras literárias para 2025.
A demora na aquisição de obras literárias é o que mais preocupa professores e editores, já que as escolas públicas do país não recebem obras deste tipo desde 2019.
O maior atraso ocorre na educação infantil, que atende crianças de até cinco anos. O edital do MEC previa que as obras chegariam às escolas em 2022, mas o processo de contratação de editoras não foi finalizado.
O FNDE afirma que até o final do ano concluirá o processo de compra de 16 milhões de obras literárias para a educação infantil, que tem cerca de 44,5 milhões de crianças matriculadas em escolas públicas no Brasil.
A aquisição para esta etapa é considerada uma das mais urgentes, tanto pela sua importância pedagógica como pela necessidade de substituição dos exemplares. Como os livros são usados por crianças pequenas, eles estragam mais rapidamente e precisam ser substituídos mais rapidamente.
O contato com os livros nessa idade também desempenha papel fundamental no processo de alfabetização, elencado como prioridade pelo presidente Lula e um dos principais gargalos da educação brasileira.
Estudos mostram que quanto mais cedo e com maior frequência as crianças são expostas aos livros, mais facilmente aprendem a ler e a escrever. A leitura também promove o desenvolvimento de competências essenciais para esta idade, como a criatividade, a fluência oral e a consciência temporal, entre muitas outras.
“Só em 2018 o governo federal incluiu corretamente os livros literários no PNLD [Programa Nacional do Livro Didático]mas, infelizmente, continuam a ser tratados como não essenciais. Esses atrasos recorrentes mostram como o governo não vê a importância de ter obras literárias à disposição dos estudantes”, afirma Rosana Martinelli, editora de Quatro Cantos.
O projeto da prefeitura, que abastece as bibliotecas escolares e municipais com cuidado para não se sobreporem ao PNLD, é visto pelas editoras como um investimento significativo, mas várias delas reclamam de terem ficado no escuro neste ano.
“Não é fácil produzir livros para programas governamentais sem garantir o cumprimento das agendas”, afirma Rejane Dias, diretora da Autêntica.
Segundo Flávio Moura, editor do Todavia, atrasos como esse prejudicam o planejamento editorial, mas principalmente os estudantes. “É desejável que haja mais transparência e agilidade para o bem das editoras, mas principalmente para os alunos e as escolas”.
O FNDE afirma que a aquisição de obras literárias dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) não acontecerá neste ano. O edital estimou que os exemplares estariam nas escolas em 2023. A entidade informou que só adquirirá esses livros em 2025, sem informar a data prevista de entrega às unidades.
Somente após a conclusão dessas etapas, o órgão pretende iniciar a aquisição de livros para os anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano), que deveriam ser entregues em 2024.
“Os editais do PNLD que saíram até 2022 incluíam diversos objetos [tipos diferentes de livros]o que dificulta enormemente a operacionalização, além de estar várias etapas atrás do início da gestão em 2023”, diz a nota do FNDE.
O fundo disse ainda que todo o processo de compras foi reformulado para que erros ocorridos anteriormente não se repitam na atual gestão. A reportagem procurou o governo Bolsonaro, mas não obteve resposta.
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