O governo Lula não sabe o que fazer com a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. Todas as apostas no “diálogo” falharam.
O ressurgimento da repressão política, reafirmado na decisão de prender o candidato presidencial da oposição, Edmundo González, representa um risco novo e imprevisto para a diplomacia brasileira.
A ofensiva contra González, reconhecido como vencedor das eleições presidenciais por três dezenas de países, pressupõe a vulnerabilidade de María Corina Machado, principal líder da oposição, e dos demais opositores do regime.
Seis deles, assessores da campanha presidencial da oposição, estão refugiados na Embaixada da Argentina em Caracas sob a proteção do governo Lula.
Em agosto, Maduro expulsou diplomatas argentinos após a eleição em que se declarou vencedor. A polícia e os milicianos começaram a cercar o edifício da embaixada. O governo Javier Milei solicitou e o Itamaraty concordou em assumir a representação argentina na Venezuela, procedimento padrão na diplomacia.
O governo Lula queria retirar os requerentes de asilo em um avião militar. Ele não sobreviveu.
Até a semana passada, em Brasília a possibilidade de invasão da sede diplomática argentina era considerada remota. A perspectiva mudou com o aumento da repressão, confirmado no mandado de prisão contra González e também no encarceramento de menores acusados de militância na oposição.
“Têm vestígios de pólvora nas mãos e há pessoas falecidas”, argumentou Diosdado Cabello, ministro do Interior. Cabello está sendo processado nos Estados Unidos, acusado de comandar uma facção do cartel do narcotráfico de Los Soles, formado por generais venezuelanos.
Há quatro anos, a Administração Antidrogas dos EUA (DEA) estabeleceu uma recompensa de 10 milhões de dólares pela sua captura.
Maduro, também acusado neste caso de tráfico de drogas, tem a cabeça a prêmio por uma quantia um pouco maior: 15 milhões de dólares.
O aumento da repressão política indica a dificuldade interna da cleptocracia liderada por Maduro em legitimar-se e permanecer no poder depois de uma derrota óbvia nas eleições presidenciais e sob pressão de manifestações de rua organizadas pela oposição.
Maduro perdeu a bússola da realidade, afirmam diplomatas de Brasília, que passaram a considerar realista a hipótese de uma ofensiva contra opositores abrigados na embaixada sob proteção brasileira.
O mandado de prisão contra González, entendem, representa uma nova tentativa de forçar os Estados Unidos a aceitar alguma negociação relativa à continuidade do regime. Mas este, aparentemente, é um cenário considerado inviável tanto pela proximidade das eleições americanas como pela reação do vencedor — a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump sinalizaram políticas duras em relação ao regime ditatorial venezuelano.
Com Joe Biden a situação é semelhante. Nesta segunda-feira (2/9), a pedido do Departamento de Justiça dos EUA, juízes da República Dominicana ordenaram o confisco de um avião (modelo Dassault Falcon 900EX) de propriedade do ditador Maduro e sua família que estavam no país. O jato foi “comprado ilegalmente por US$ 13 milhões por meio de uma empresa de fachada” para uso de Maduro, segundo o procurador-geral dos EUA, Merrick B. Garland.
O que restou ao governo brasileiro foi o silêncio de Maduro e a visível mobilização de seus aliados, como o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, que na semana passada rotulou Lula como um “representante” dos interesses dos Estados Unidos na América Latina.
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