‘Minha chapa não tem padrinho nem babá, diz Gabriel Azevedo

‘Minha chapa não tem padrinho nem babá, diz Gabriel Azevedo



Chamado de brigão pelos adversários, o candidato do MDB a prefeito de Belo Horizonte, o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo, disse preferir essa fama a ser conhecido por ser corrupto.
Em entrevista concedida ao jornal Estado de MinasAzevedo prometeu “tirar a saúde de BH do chão e para trás”, criar um VLT na Avenida Afonso Pena e demolir o complexo de viadutos da região da Lagoinha para construir uma passagem subterrânea ligando a zona norte da cidade ao centro.

Azevedo também rebateu as críticas de um de seus adversários na disputa pela PBH, o senador licenciado Carlos Viana (Podemos), que disse que o vereador é apoiador de outro candidato, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), e teria sido escolhido por ele para acertar os oponentes. Segundo ele, Viana nunca fez nada por Belo Horizonte e Tramonte é um deputado ausente das votações na Assembleia e também nunca fez nada pela capital. Gabriel afirmou ainda que sua chapa, formada pelo ex-vice-governador Paulo Brant (PSB), é a única “sem padrinho e sem babá”. Gabriel foi o nono dos dez candidatos da PBH entrevistados pelo EM.

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Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?

Nos últimos anos, visivelmente, a nossa cidade não só não cresceu, como parou e está retrocedendo. Pela primeira vez a população encolheu, a economia está derretendo e nos próximos quatro anos o prefeito terá uma oportunidade única em duas questões fundamentais: ele liderará o processo de um novo Plano Diretor, ou seja, uma lei que determine onde podemos crescer, qual a qualidade de vida necessária, até onde é morar perto do trabalho ou não. É uma lei muito importante, revista de tempos em tempos, e será a principal função do prefeito, ao lado de outro desafio: em 2008, foi assinado um contrato de ônibus com duração de 20 anos e o próximo prefeito terá o desafio de criar outra modalidade para o transporte público da capital. (…) Se o prefeito acertar essas duas coisas e criar um plano diretor que dê uma nova era à nossa cidade e um contrato de ônibus que dê dignidade ao povo de Belo Horizonte, será um ganho enorme. E quero ser prefeito para cuidar dessas duas questões que são, por lei, prioridade do próximo governo.

Candidato, na sua avaliação, qual é o maior problema da cidade?

A nossa coligação chama-se “Telhado, trabalho e transporte” e é por isso que usamos estas três palavras. (…) Vamos ser práticos aqui para que quem está nos ouvindo entenda. Vamos pela Avenida Santos Dumont, lá no Centro. Se você caminhar comigo verá terrenos baldios, prédios vazios, ambientes completamente desperdiçados, numa região que tem BRT, Move, metrô, ônibus e, mais que isso, cheia de empregos e serviços também. E não estou inventando, me inspiro muito em Juscelino Kubitschek. Na década de 1940, BH já apresentava déficit habitacional e sugeriram que ele construísse pequenas casas no entorno da Lagoa da Pampulha. Ele disse não. Vou fazer isso perto do centro. Surgiu então o IAPI, o primeiro conjunto habitacional vertical do Brasil, antes de serem construídas apenas pequenas casas. Ele (JK) construiu o prédio longe? Não, perto do Contorno e até colocaram lá um hospital, estruturas escolares e tudo mais e essas pessoas andavam e andavam de volta para o trabalho, para tudo. É isso que eu quero fazer, mas para que isso aconteça o prefeito precisa entender a questão. Vamos pegar um quarteirão vazio da Santos Dumont, um terreno baldio que hoje é estacionamento. Se alguém quiser construir ali um prédio para as pessoas morarem, não conseguirá. A regra (o Plano Diretor) propõe um retrocesso. (…) Tem que construir 10 metros atrás e 10 metros lateralmente. Aí você reduziu a área de construção. Se subir (andares) o Plano Diretor impôs a concessão de que por cada metro que subir tem que pagar mais. A lógica era (…) criar um fundo com esse dinheiro para criar moradias populares. Não tem fundo e assustou todo mundo. (…) Não somos uma ilha onde só se constrói em Belo Horizonte. Foi difícil aqui? Vai para Ibirité, Santa Luzia e assim por diante, por que estou falando? Porque isso é uma prioridade. Precisamos reduzir o preço do aluguel, o preço dos imóveis e isso só pode ser feito com mais oferta. E, mais do que isso, é preciso preencher o caixa da prefeitura sem gerar novos impostos, sem aumentar a tributação, fazendo a economia girar. Na outra direção, com o plano diretor e um ambicioso projeto de tributação inteligente, que elimina impostos nessas regiões para atrair construtoras e facilitar a venda de imóveis, as coisas estão avançando.

Candidato, você quase sempre se desloca pela cidade a pé ou de bicicleta. Qual é a sua proposta para esta questão da mobilidade?

O meu projeto para Afonso Pena é diferente do projeto do atual presidente da Câmara (Fuad Noman), que está a criar uma ciclovia em plena Avenida Afonso Pena. (…) As duas pistas centrais ao lado daquela obra Afonso Pena são adequadas para você ter uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ao longo da avenida até a parte menos íngreme. E aí esse VLT vai pela Afonso Pena até a parte com menor inclinação (…). Vamos substituir os ônibus barulhentos, apertados e poluentes por um sistema que funcione muito melhor. Depois você abre Afonso Pena nas laterais para lojas, vitrines, restaurantes e bares.

E essa proposta de demolir o complexo da Lagoinha e construir uma passagem subterrânea. Como será a cidade, que já tinha um trânsito terrível na época de tal projeto?

Primeiro você constrói a estrutura do túnel, porque é subterrâneo, e enquanto as coisas acontecem lá embaixo, tipo uma ponte de safena, um stent, o sangue não para de circular, mas você libera ele para o que ele precisa primeiro, que é para liga Antônio Carlos a Afonso Pena, pois é a saída do centro para Regional Pampulha e Venda Nova.

E como é a rodoviária?
Foi um erro de Alexandre Kalil (ex-prefeito) abandonar o projeto de Márcio Lacerda (ex-prefeito que antecedeu Kalil) de levar a rodoviária para São Gabriel (bairro). Ele desperdiçou dinheiro público e oportunidades. (…) Você já imaginou alguém que chega em Confins (aeroporto), pega Cristiano Machado e Antônio Carlos (avenidas) e chega no centro de Belo Horizonte? O que é aquilo? É uma terra zumbi? Essa cidade se chama Belo Horizonte? Não é apenas uma questão urbana, é uma questão de autoestima. Uma cidade não se faz apenas dormindo e trabalhando. Tem que ter identidade, porque é isso que atrai o turismo, é isso que faz prosperar, é isso que faz com que as pessoas se identifiquem.

Candidato, vamos falar de um problema que aparece em todas as pesquisas como um dos principais problemas da cidade, que é a questão da saúde. Qual é a sua proposta para este problema?

Vamos tirar a saúde do caminho. Vamos digitalizá-lo. (…) Precisamos digitalizar completamente todos os pacientes de Belo Horizonte, eles têm que ser totalmente digitalizados. (…) O primeiro ponto é esse, tirar do chão e para trás a saúde de Belo Horizonte (…) Não estou inventando nada, estou copiando, quero ser um prefeito que copia o que há de melhor no Brasil e no exterior adaptando-se à nossa realidade. Curitiba (capital do Paraná) já está fazendo isso. Vejamos o outro problema de saúde: quase 30 mil pessoas à espera de cirurgias eletivas. (…) Vamos fazer, como São Paulo já fez, um mutirão nas primeiras horas da manhã e fazer parceria com uma rede privada. Esses são alguns pontos e mais, não existe carreira na área da saúde em Belo Horizonte. Outro dia vi o prefeito (Fuad Noman, candidato à reeleição) prometer isso na campanha. Amigo, você está na cadeira, você tem a caneta, pode mandar para a Câmara, por que não enviou nos últimos dois anos? Por que você está agora prometendo desesperadamente o que não fez?

Seus oponentes afirmam que você briga com todo mundo, grava todo mundo, que você não é um político confiável. Como lidar com isso, se eleito, na sua relação com a Câmara e com outros políticos, porque essa flexibilidade, essas alianças são necessárias para um prefeito, muito mais do que para um vereador?
E foi com a flexibilidade e a aliança que me tornei presidente da Câmara. E é bom que eu não tenha uma reputação que me incomodaria muito: a de ser corrupto. Os meus adversários, os piores, nunca disseram isso, porque não há ninguém nesta cidade que possa dizer que há um centavo de dinheiro público no meu bolso. Eu realmente tenho essa fama de lutador, porque eu luto de verdade. Foi através da luta que consegui Tarifa Zero para cidades e favelas. Foi através da luta que consegui a liberdade total para o ensino médio e para a EJA (educação de jovens e adultos), uma luta que os estudantes travavam há muito tempo. (…) Resumo a história (do rompimento com o ex-prefeito) Kalil em segundos. Ele era meu amigo, nos conhecemos no Clube Atlético Mineiro, estive na diretoria com ele, como assessor da presidência em 2016, quando decidi me candidatar a vereador conversamos e ele era candidato a prefeito no bilhete. Ele foi eleito prefeito, eu participei da coordenação da campanha dele, e fui eleito vereador, dois homens públicos independentes, até com amizade. Aí veio a eleição para a presidência da Câmara daquele ano e ele, preocupado com a governabilidade do seu governo, me pediu para apoiar um candidato a presidente que eu não apoiaria e nos separamos. Ele queria que eu votasse num cara (ex-vereador Wellington Magalhães) que, depois da Câmara, andava com tornozeleira na canela. (…) Prefiro perder amigos para manter princípios do que perder princípios para manter amigos. Prefiro ter fama de lutador, porque lutar numa cidade onde tem muita coisa errada é fundamental, do que ser um daqueles políticos que não briga, que não incomoda, que não grita e deixe tudo como está.

O candidato, Carlos Viana (senador licenciado e candidato do PBH pelo Podemos) disse que foi escolhido para vencer seus adversários e assim ajudar o candidato Mauro Tramonte (Republicanos).

Isso faz sentido quando eu bato em Tramonte? Porque acho que a principal crítica, a verdadeira, feita ao Mauro Tramonte partiu de mim. Entendo que a incapacidade de Viana não lhe permite perceber o que os outros têm, mas não deve medir os seus concorrentes pela sua régua. A maior conquista de Viana, durante sua passagem pela vida pública, foi dar mandato ao filho (o deputado federal Samuel Viana pelos Republicanos). Para quem ficou muito tempo deste lado da mesa (Viana foi apresentadora de rádio e televisão), criticando tudo e todos, criticando o que havia de errado na política, colocar o bebê como deputado federal me parece pura incoerência. Viana, vá arrumar um emprego, porque você, como senador, não fez metade do que eu fiz por esta cidade como vereador! E sobre Mauro Tramonte, me perdoem a franqueza, ele foi eleito deputado estadual com meio milhão de votos em 2018, quatro anos depois caiu para 100 mil votos. Oito em cada dez pessoas que votaram em Mauro Tramonte voltaram a dizer não. Por que? Porque ninguém acredita num político que foi eleito para trabalhar na Assembleia e estava na televisão apresentando um programa durante as votações. Ausente, pouco participativo e irrelevante para a cidade de Belo Horizonte, ele agora diz que quer dar boas notícias. Se Belo Horizonte cometer o erro de colocar Tramonte na prefeitura, vai chorar como chorou o povo do Rio de Janeiro depois de quatro anos de (Marcelo) Crivella (ex-prefeito do Rio de Janeiro).

Candidato, qual é a sua mensagem para os eleitores?
Não tenho tempo aqui para contar tudo que está nesse plano de governo, um plano de verdade, escrito por um candidato de verdade (…) sem padrinho, sem babá, aqui ele tem as próprias pernas, um cara que foi eleito vereador e quer ser prefeito para colocar essa cidade de volta no caminho certo e fazer você sentir muito orgulho de Belo Horizonte.



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