Está acontecendo esta tarde em São Paulo um evento que pode desencadear a solução de uma disputa de décadas em Minas Gerais. Às 14h, na Bolsa de Valores B3, a gestora de recursos Opportunity e a corretora Sita Aterpa participam do leilão de concessão da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, trecho conhecido como ‘Rodovia da Morte’. A terceira tentativa em três anos consecutivos de privatização da via tem, pela primeira vez, concessionárias interessadas em realizar as obras de duplicação e gerir a via durante os próximos 30 anos.
Exaltado pelo Ministério dos Transportes e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) como um marco na modernização dos contratos de concessão, o edital que delega as obras da BR-381 à iniciativa privada apresenta uma série de medidas para atrair investimentos de empresas por retirando os pontos mais espinhosos e arriscados na execução de obras rodoviárias.
O principal destaque do edital foi a retirada do trecho de cerca de 30 quilômetros entre Belo Horizonte e Caeté do cronograma de obras de responsabilidade da concessionária. A necessidade de duplicar o ponto específico foi apontada como um fator que afastou o setor privado, pois a região apresenta elevados riscos geológicos e complicações jurídicas ligadas à necessidade de realocação de famílias que vivem às margens da pista.
Em entrevista ao Estado de Minas, o diretor da ANTT, Guilherme Theo Sampaio, falou sobre a expectativa de sucesso do leilão após tentativas frustradas, comentou sobre as empresas interessadas e projetou o cronograma de obras e cobrança de pedágio na rodovia privatizada. Confira os principais pontos.
Pedágios
Serão construídas cinco praças de pedágio na rodovia. A empresa vencedora do leilão administrará os postos e poderá iniciar a cobrança dos motoristas a partir de um ano após a consolidação da concessão. Sampaio comentou as condições para o início da aplicação das tarifas. “O ciclo inicial do projeto começa a partir do momento em que o contrato é assinado e a concessionária assume. Inicia-se então o período de obras iniciais, que inclui melhorias na sinalização vertical e horizontal e a recuperação do pavimento, que se encontra muito deteriorado. Neste momento também terá início o processo de serviços operacionais da concessionária, como reboque mecânico e também serviços médicos. Neste contrato, um ano após a aquisição da concessionária, inicia-se o período de cobrança da tarifa. Ou seja, se a concessionária assumir na segunda quinzena de dezembro, a cobrança de pedágio terá início na segunda quinzena de dezembro do ano de 2025. Mas esse início não é automático, só ocorrerá se o órgão certificar o que as condições mínimas do contrato foram executadas pela concessionária”, afirma.
Desconto nas tarifas
Vence o leilão a empresa que oferecer a maior taxa de desconto na tarifa básica estabelecida no edital. Cada um dos cinco pontos terá cobranças diferentes. Os preços iniciais são: R$ 13,75 em Caeté; R$ 11,40 em João Monlevade; R$ 13,35 em Jaguaraçu; R$ 10,75 em Belo Oriente; e R$ 11,20 em Governador Valadares. O diretor da ANTT explica as formas pelas quais as tarifas podem ser reduzidas ou aumentadas desde o leilão e ao longo das três décadas de concessão. “No leilão em si existe a possibilidade de redução das taxas previstas na modelagem, mas temos alguns mecanismos preocupados com a redução, primeiro o uso da própria tag, aquele adesivo que você encontra no carro que dá automaticamente ao usuário um desconto de 5%. Além disso, temos um desconto para utilizadores frequentes (DUF), a pensar nos cidadãos que utilizam diariamente a autoestrada. Nesse modelo, quanto mais você utiliza a rodovia, maior é o desconto. Quem utilizar a via até 30 vezes no mesmo mês terá desconto em algumas praças que varia de 26% a 80%”, disse.
Conclusão das obras
O edital de concessão prevê o cronograma de execução das obras da Rodovia da Morte. O ponto principal é a duplicação de 106 quilômetros de rodovia, a construção de 3 quilômetros de faixas adicionais, 51 correções de rota, além de áreas de fuga, pontos de parada e descanso para caminhoneiros e 23 passarelas para pedestres atravessarem. Sampaio comentou a ordem das intervenções. “Os dois primeiros anos dos 30 anos de concessão serão de obras iniciais. Do segundo ao terceiro ano, inicia-se todo o processo de investimentos para ampliação de capacidade e melhoria da rodovia. Começa então um período de seis anos em que serão feitos todos os investimentos e melhorias. Tudo deve ser concluído até o oitavo ano. Após o oitavo ano, inicia-se o período de manutenção desta rodovia”, afirma.
Compartilhamento de riscos
Além da retirada das obras do trecho mais próximo da capital mineira da lista de obrigações da concessionária, outro ponto considerado relevante para atrair empresas para o leilão foi a ampliação do compartilhamento de riscos entre o setor privado e o poder público. O contrato de concessão determina mecanismos para que o poder concedente possa arcar com a maior parte das perdas decorrentes de riscos geológicos imprevistos e estabelece margem menor para negociações para reequilibrar o contrato em caso de fluxo de veículos inferior ao esperado. “No caso do risco geológico, 80% é de responsabilidade do poder concedente e 20% da concessionária. Outro ponto é o volume médio diário. Por exemplo, se há uma projeção de que mil veículos trafeguem num trecho por dia e há uma frustração acima de 5% ou uma superação acima desse mesmo percentual, esse projeto pode ser reequilibrado de diversas formas, seja alterando o pedágio alíquota, ou prorrogação de contrato ou contribuição pública”, explica Guilherme Theo Sampaio.
LOTE 8A
A Construtora Luiz Costa Ltda foi vencedora do leilão para elaboração e execução de projetos de duplicação e melhorias de um dos trechos da BR-381 que está sendo custeado pelo governo federal. Trata-se do Lote 8A, que compreende o trecho entre Ravena e Caeté, na região metropolitana de BH. A empresa, sediada no Rio Grande do Norte, venceu outras sete propostas ao oferecer desconto de 1,51% no orçamento feito pelo governo para a obra, de R$ 399,8 milhões.
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